sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Governo já se arma para rebater críticas de Marina

Kennedy Alencar e Maria Clara Cabral
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Planalto vai retrucar que desmatamento caiu depois que ela deixou o ministério

Lula não fará apelo para que a senadora fique no PT e avalia que ela não tem um discurso amplo, mas um "samba de uma nota só"


Informado por aliados de que Marina Silva deixará o PT para disputar a Presidência pelo PV em 2010, o governo federal já engatilhou um discurso para rebater eventuais críticas da senadora do Acre.

Primeiro torpedo: o desmatamento caiu depois que Marina deixou o Ministério do Meio Ambiente, em maio de 2008. Entre agosto de 2008 e junho de 2009, o desmatamento na Amazônia teve queda de 55%.

Segundo torpedo: como responsável pela área ambiental por quase cinco anos e meio, ela não teria autoridade para fazer críticas ao governo.

A Folha ouviu esses dois argumentos de um auxiliar direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que avaliou que a eventual candidatura de Marina terá dificuldade para encontrar discurso contra a também eventual candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).

Nas palavras de um ministro, Carlos Minc, que substituiu Marina, seria mais eficiente.

Aliados de Marina lembram que ela deixou o governo, de surpresa, alegando que fazia tal movimento para chamar a atenção sobre o crescimento do desmatamento e forçar Lula a tomar medidas para que houvesse redução. Ou seja, como o desmatamento crescia, sua saída colocou o presidente na defensiva e o fez adotar medidas que reduziriam a derrubada de árvores na Amazônia a partir de agosto de 2008. Daí o dado de queda de 55% em 11 meses.

Lula já disse a auxiliares que não pretende procurar Marina para apelar para que ela fique no PT. Ele acha que ela não terá um discurso amplo, mas de "samba de uma nota só".

Enquanto foi ministra, Marina travou várias batalhas com Dilma e outras áreas do governo. Aliados da senadora dizem que ela só saiu depois de ter insistido bastante e que isso lhe credenciaria, sim, para atacar a política ambiental de Lula.

Dois aliados de Lula, o ex-governador do Acre Jorge Viana (PT) e José Sarney (PMDB-AP) informaram o Planalto que Marina já acertou a filiação ao PV e a postulação presidencial. O discurso ainda cauteloso buscaria apenas ganhar tempo.

Sarney disse a Lula que seu filho, o deputado federal Zequinha Sarney (PV-MA), já havia confirmado o acordo para a filiação de Marina. Zequinha é líder do PV na Câmara.
Por ora, o discurso do governo é de que a eventual candidatura de Marina não abalará Dilma profundamente.

Nas palavras de um ministro, ela deverá ter um desempenho que ficaria entre o de Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT) no primeiro turno de 2006. Heloísa obteve 6,9% dos votos válidos. Buarque, 2,7%.

No PT, porém, o temor de um estrago na eventual campanha de Dilma é bem maior. O líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), juntamente com outros petistas, fez um apelo na noite de anteontem para que Marina Silva não troque o partido pelo PV. Fontana mostrou preocupação com a disputa de 2010, caso a senadora decida por ser candidata à Presidência.

E enquanto ouvem os apelos dos petistas, as lideranças do PV já estão de olho nas possíveis alianças para a eventual candidatura de Marina. Além de Cristovam Buarque (PDT-DF), o PSOL foi apontado como provável aliado. O partido realiza um congresso nacional no próximo dia 21, quando vai discutir o novo cenário.

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