quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Marina e a fadiga do material

Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


SÃO PAULO - A carta em que a senadora Marina Silva explica sua decisão de deixar o PT, após 30 anos de militância, acaba sendo o último prego no caixão da credibilidade do partido como porta-voz do desenvolvimento sustentável.

Diz Marina que a sua decisão combina com "o pensamento de milhares de pessoas no Brasil e no mundo que há muitas décadas apontam objetivamente os equívocos da concepção do desenvolvimento centrada no crescimento material a qualquer custo, com ganhos exacerbados para poucos e resultados perversos para a maioria, ao custo, principalmente para os mais pobres, da destruição de recursos naturais e da qualidade de vida".

Como presumível candidata, acrescenta que "faltaram condições políticas para avançar no campo da visão estratégica, ou seja, de fazer a questão ambiental alojar-se no coração do governo e do conjunto das políticas públicas".

Mas a crítica ao partido de toda a sua vida estende-se muito além dele -no que também acerta. Diz a senadora que "é evidente que a resistência a essa mudança de enfoque não é exclusiva de governos. Ela está presente nos partidos políticos em geral e em vários setores da sociedade, que reagem a sair de suas práticas insustentáveis e pressionam as estruturas públicas para mantê-las".

Desnecessário dizer que, se confirmada, a candidatura Marina Silva será a grande novidade em uma campanha que parecia condenada a repetir a já monótona e indigente disputa PT/PSDB, velha de 15 anos, no plano nacional, tempo suficiente para causar pelo menos alguma fadiga do material.

Talvez essa fadiga explique a única real novidade na pesquisa Datafolha publicada no domingo, que é a intenção de voto em Ciro Gomes, alta para quem não gozou da exposição de seus principais adversários (Dilma Rousseff e José Serra) -e do "recall" decorrente.

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