quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Marina sai do partido e diz não ter mais ilusão

Marta Salomon
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Ao anunciar a saída do PT, no qual militou por quase 30 anos, a senadora Marina Silva (AC) disse não ter mais a ilusão de partidos perfeitos.

A senadora não confirmou a filiação ao PV para disputar a eleição ao Planalto, mas tem tempo para isso.

Em carta encaminhada ao presidente do PT, a ex-ministra do Meio Ambiente afirma não ver mais espaço no partido para suas ideias.

Marina evitou comentários sobre Dilma Rousseff, mas deixou claras as diferenças entre elas.


Marina deixa PT e diz não ter mais ilusão

Após 30 anos de militância petista, senadora deve se filiar em breve ao PV, mas resiste a já se declarar candidata à Presidência

Em carta enviada a Berzoini, Marina afirma que não via chances de o PT encampar o projeto de desenvolvimento sustentável que ela defende


Ao anunciar ontem a saída do PT, no qual militou por quase 30 anos, a senadora Marina Silva (AC) disse não ter mais a ilusão de que haja partidos perfeitos no Brasil. "Já tive uma visão idealista, hoje tenho a clareza de que todos [os partidos] têm problemas a serem saneados."

Marina deixou para mais adiante a resposta ao convite para se filiar ao PV e disputar a eleição ao Planalto. A legislação lhe dá prazo até o início de outubro para a nova filiação partidária. A decisão sobre candidatura poderá ficar para 2010.

Mas ontem mesmo a senadora disse que não levava em consideração a possibilidade de recusar o convite feito três semanas antes. "Se mesmo aqueles que são candidatos desde que nasceram dizem que não são candidatos, por que eu?, enfim...", desconversou.

A saída do PT foi comparada por Marina à decisão que tomou 35 anos atrás, quando deixou o seringal Bagaço, no interior do Acre, onde morava com o pai e seis irmãos menores, para estudar e cuidar da saúde em Rio Branco. "Não foi fácil. Vocês não podem imaginar o que significava aquilo para uma adolescente analfabeta que mal conhecia a cidade." Aos 16 anos, o sonho de Marina era ser freira. Aos 51, diz que sonha com "um Brasil sustentável".

Na carta encaminhada por fax ao presidente do PT, Ricardo Berzoini, pouco antes do anúncio, Marina afirma não ver mais espaço no partido para suas ideias. Tampouco via chances de o PT encampar um projeto de desenvolvimento sustentável nos moldes em que ela defende e que enfrenta resistências, diz ela, em vários partidos e setores da sociedade.

"É o momento não mais de continuar fazendo o embate para convencer o partido do qual fiz parte por quase 30 anos", afirma a carta.

A saída do PT foi acompanhada de sinais de cautela. Ela insistiu em que não estimula novas defecções petistas.

Marina não conversou com Lula sobre a decisão anunciada ontem. Disse ter "imensa gratidão" ao presidente, entre outros motivos pelo convite para ser ministra do Meio Ambiente, cargo que exerceu por "cinco anos, cinco meses e 14 dias".

Ao falar do presidente, lembrou as críticas feitas na época da fundação do PT ao suposto enfraquecimento da frente de políticos reunidos no MDB: "Fico imaginando se Lula tivesse ficado diluído no PMDB e não tivesse construído o PT".

Agora, diferentemente de Lula, que investe numa sucessão plebiscitária em 2010, ela defende o lançamento de várias candidaturas ao Planalto.

Evitou fazer comentários sobre a pré-candidata do PT, mas deixou claras as diferenças entre as duas. "A ministra Dilma [Rousseff, da Casa Civil] tem os pontos de vista dela, os defende.

Tenho os meus. Sempre encontrei na sociedade o respaldo suficiente para manter a coerência e até mesmo o pescoço", disse, em referência às pressões que sofreu no comando do Meio Ambiente. Na época, chegou a afirmar que "perdia o pescoço, mas não perdia o juízo".

Nascida na Amazônia, Marina Silva só foi alfabetizada aos 16 anos. Formou-se em história, cursou especialização em teoria psicanalítica. Filiou-se ao PT em 1985 e ajudou a fundar o partido no Acre. Sua atividade parlamentar começou em 1988, como vereadora. Em 1995, chegou ao Senado. Em 2002, foi reeleita para o atual mandato de senadora, mas saiu para assumir o ministério. Deixou o posto ao se ver sem apoio de Lula para enfrentar pressões do agronegócio contra o combate ao desmatamento.

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