quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O velho verbo agora em novo significado

Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Um amigo do Partido Verde que é professor na Universidade Federal de Minas Gerais comentou com integrante da cúpula que, com exceção dos núcleos petistas sindicais da instituição, muito voltados para seu próprio futuro político, a universidade toda está "Marinando". Informou ainda que, pelos canais de comunicação e troca de idéias na área de Educação, este é um movimento crescente já na maioria das universidades. Pode mesmo virar fenômeno.

Por onde a senadora Marina Silva tem passado, desde que a hipótese de mudança de partido foi revelada, antes mesmo do anúncio de sua saída do PT, legenda a que pertenceu por 30 anos, as emoções são instantâneas: reações de admiração, entusiasmo, curiosidade e evidência de sucesso, mais até de público do que de crítica.

Esta, a crítica, tem patinado diante da novidade. Se à reação imediata de simpatia do eleitorado forem acrescentadas características pessoais com que se apresenta a senadora, como a sua trajetória de vida, uma seringueira que saiu do analfabetismo e da doença para a cena principal do palco político, mais a experiência, respeito internacional, linha de atuação política, tema, simbologia para dar e vender e algum dinheiro para campanha - o PV, partido pelo qual optou, não tem nem estrutura para produzir isto, mas as Ongs ambientalistas, quem sabe? - resulta uma candidatura presidencial mais que possível, viável. Pode não ser para vencer ainda, mas até seus adversários, e os ganhou em quantidade, de repente, admitem que em três semanas ela mudou o desenho da sucessão presidencial que se formava no horizonte.

Bem, foi isso, a que se denomina de potencial eleitoral de um nome que se apresenta ao eleitorado, num trabalho prospectivo, o que se evidenciou para o PV na pesquisa encomendada ao Ipespe, do sociólogo Antonio Lavareda, a primeira, e até agora a única, feita para avaliar o potencial da candidatura Marina Silva. Aplica-se este tipo de pesquisa notadamente quando o nome a ser testado é desconhecido. Na pergunta, o pesquisador expõe em detalhes a qualificação da pessoa cujo potencial pretende avaliar. Assim, Marina Silva foi explicada ao eleitor, que não a conhece, como senadora e ex-ministra do Meio Ambiente. Nesta avaliação, seus índices variaram de 10, 14 e 24%, dependendo dos nomes que foram apresentados ao seu lado. A maior aceitação se deu quando apenas três candidatos foram relacionados, Dilma Rousseff (apresentada como ministra da Casa Civil) e José Serra (como governador de São Paulo), além dela. Sem Ciro Gomes, sem Heloísa Helena.

Nos dias em que o PV debateu e divulgou a pesquisa de potencial eleitoral, que foi útil ao partido para convencer Marina a mudar de partido e começar a preparar a candidatura, alertou também para o fato de que qualquer comparação com pesquisas de intenção de voto - e à época Marina não tinha sido incluída em nenhuma delas - seria inadequada. Errada, mesmo. São dados que não se podem comparar.

Até porque, mostrou também a pesquisa do Ipespe, o nível de conhecimento da senadora é baixíssimo. Dos ouvidos, 7% declararam que a conhecem bem; 9% a conhecem mais ou menos; 24% conhecem de ouvir falar; e 59% nunca ouviram falar. Para se ter uma idéia do peso deste percentual, 32% nunca ouviram falar no deputado Fernando Gabeira, a maior estrela do PV até hoje, com uma história e atuação bastante expostas ao eleitorado nacional.

Especialistas de institutos de pesquisas, principalmente os que se dedicam a analisá-las, sabem dessas diferenças de metodologia e quanto são incomparáveis os levantamentos deste tipo com os realizados, por exemplo, pelos Institutos Datafolha e Vox Populi, logo depois, para medir intenção de voto. Potencial da candidatura é uma coisa, intenção de voto é outra.

Nessa, até que o resultado não tem sido de todo nulo para Marina Silva, ela aparece com uns 3%, se tanto. Para quem não existia até ontem, não está mal, e a julgar pela receptividade que colhe nas viagens pelo Brasil, poderá chegar ao fim do ano aos níveis atingidos por candidatos como, por exemplo, Heloísa Helena. Mas são pesquisas incomparáveis.

Políticos adversários da senadora insistem no cotejo dos números, atitude que, por tecnicamente desprezível, esconde a intenção de iniciar logo a guerra eleitoral contra o novo que está vindo aí. Uma estratégia que confirma, inclusive, o alto potencial da candidatura que se pretende desqualificar no nascedouro.

No PV mais próximo à candidata, anota-se: os tiros estão vindo da campanha da ministra Dilma Rousseff e da campanha do governador José Serra. Registra-se, ainda: estão sendo feitos trabalhos de levantamento histórico, provavelmente para alimentar atos e discursos da futura campanha, da vida até do tataravô da senadora. Isto pode ser tudo menos indiferença. É um reconhecimento dos adversários de que o nome é potencialmente poderoso e estão se rendendo às evidências. Apenas fazem de conta que ainda não.

PT versus ex-PT

Nas análises ainda iniciais que vêm sendo produzidas por grupos políticos ligados à aliança governista já se aponta um outro cenário que vem surgindo como novidade para as eleições de 2010. Vai haver o PT versus PSDB, não mais como disputa plebiscitária, como sonhava o presidente Lula, porém uma refrega forte em meio a outras forças que terão instrumentos para desfazer a polarização. Mas vai haver, também, muito PT versus ex-PT. Estarão em lado oposto ao do PT a senadora Marina Silva, a vereadora Heloísa Helena, o senador Flávio Arns, o deputado Fernando Gabeira, o senador Cristovam Buarque. Políticos que acabaram criando, para si, condições de fazer o julgamento ético do mensalão, dos aloprados, do senador José Sarney, para ficar em três marcos do desgaste do partido do presidente Lula.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

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