sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Para defender Dilma, governo agora tem registros que negava

Leila Suwwan
DEU EM O GLOBO

Documentos oficiais mostram Lina no Planalto quatro vezes

Depois de o Palácio do Planalto passar 20 dias sustentando que já não dispunha dos registros que poderiam comprovar o encontro entre a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, o senador Romero Jucá (PMDB), líder no Senado, apresentou ontem os documentos oficiais. Por eles, Lina esteve quatro vezes no Planalto entre outubro de 2008 e maio de 2009 — mas não em dezembro, mês em que diz ter ouvido de Dilma pedido de pressa nas investigações sobre a família Sarney. “Se Lina esteve em outro dia, ela que fale e registre”, disse Jucá. A oposição não se deu por satisfeita e afirmou que a versão oficial tem muitas contradições.

Governo se contradiz sobre Lina no Planalto

Contrariando o GSI, líder governista diz haver registro de visitas da ex-secretária, mas não em novembro e dezembro

BRASÍLIA. O governo caiu em contradição ontem ao tentar demonstrar, no Senado, que o sistema de segurança do Palácio do Planalto funciona de forma adequada e que não foram destruídos registros que comprovariam o suposto encontro entre a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira — no qual Dilma teria solicitado pressa nas investigações sobre empresas da família Sarney.

Com um documento do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDBRR), desmentiu informações anteriores, como a ausência de registro de placas de autoridades ou de datas em que as reuniões teriam acontecido. E revelou que o Planalto liberou Lina de cadastro e credenciamento, uma prerrogativa reservada a outras autoridades.

Jucá acabou demonstrando que a Presidência não dispunha do sistema de segurança que comprou por mais de R$ 4 milhões em 2004. As gravações digitais, com 8 gigabytes, são mantidas por 30 dias, com backup de arquivo equivalente, para casos de pane. Porém, o banco de dados com informações sobre a circulação de carros e pessoas tem capacidade para seis meses e depois é transferido para um arquivo permanente.

Jucá apresentou da tribuna as quatro datas, com horários, nas quais foram registradas a presença de Lina no Planalto: 9 de outubro de 2008, 22 de janeiro de 2009, 16 de fevereiro de 2009 e 6 de maio de 2009. Segundo ele, a placa do carro foi anotada e o nome dela foi registrado antes do acesso ao elevador que leva à Casa Civil.

— Se a doutora Lina esteve em outro dia, ela que fale e registre — desafiou Jucá.

Oposição não aceita explicações de Jucá Durante o depoimento de Lina no Senado, o líder do PT, senador Aloizio Mercadante, a pressionou com outras datas: — A senhora se encontrou com a ministra Dilma em diversas ocasiões, no dia 14 de agosto e 9 de outubro de 2008, e nos dias 22 de janeiro, 16 de fevereiro e 19 de maio de 2009.

A nota oficial do GSI de 21 de agosto sustenta, diferentemente do que informou o governista, que “os veículos que transpor tam autoridades, após reconhecidos, não têm suas placas anotadas”.

A mesma nota revela outra tentativa de encobrir omissões. Ela indica que Lina estaria dispensada do uso de credencial, por ser uma das autoridades listadas nas normas internas. Jucá distribuiu uma cópia da norma X-409, de 2004, na qual o cargo de secretário da Receita não está listado.

Jucá declarou o assunto esclarecido e encerrado. Mas a oposição não se satisfez.

— É uma mentira puxando a outra e criando um grande buraco — disse o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM).

Para Heráclito Fortes (DEMPI), a explicação de Jucá simplesmente não convenceu.

A análise do edital da Presidência para a compra do sistema de segurança também traz outros complicadores para a versão sustentada pelo Planalto.

Jucá reconheceu que ainda faltam implantar diversas tecnologias, como a identificação biométrica por imagens de pessoas captadas pelo sistema — com imediata indexação a seu cadastro — ou a identificação automática, por chip, de veículos. Mesmo assim, está prevista, por exemplo, a captura de imagem da placa dos veículos que entram nas dependências da Presidência — não o registro manual.

— Essas anotações vão para o arquivo morto. Quando o carro entra, a placa é anotada e quando a pessoa passa, se anota o nome — disse Jucá, que não quis informar se Lina se encontrou com Dilma nas datas apresentadas.

Colaborou: Adriana Vasconcelos

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