quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Para Ricupero, País foi ''megalomaníaco''

João Paulo Charleaux
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

É um erro apresentar-se como alternativa aos EUA na região, diz embaixador

Ao irritar-se com a possível ampliação da presença militar americana na Colômbia, o governo brasileiro revelou "um desejo megalomaníaco de oferecer aos países da América do Sul um falso dilema: ou os EUA ou eu (Brasil)", disse ao Estado o diplomata Rubens Ricupero, que foi embaixador do Brasil em Washington e assessor de três presidentes brasileiros.

"Há duas áreas onde nós não poderíamos nos apresentar como alternativa aos EUA. Uma é a economia. Outra, a defesa", disse. "O Brasil compra muito pouco dos países vizinhos e tem saldos comerciais muito grandes na região. Já os EUA, compram muito. Hoje, não somos capazes de substituir a importância que os americanos têm na economia latino-americana."

Segundo ele, o mesmo acontece na área militar. "Eu desejo que o Brasil seja grande e lidere, mas a realidade é que nós não podemos, por exemplo, dar o apoio militar que os EUA dão atualmente à Colômbia. Isto é irreal", disse.

Ricupero acredita que a ampliação do acordo militar com os EUA é "uma questão de sobrevivência interna para a Colômbia", que há 40 anos enfrenta uma guerra civil com grupos guerrilheiros locais de esquerda e de direita.

Apesar de considerar a reação brasileira "extemporânea", Ricupero disse que o presidente colombiano, Álvaro Uribe, também errou ao não expor antes seus projetos aos países da região.

"A visita que ele está fazendo agora aos países da Unasul deveria ter sido feita muito antes. Não porque ele seja obrigado - a Colômbia é soberana -, mas porque evitaria todo o problema que estamos vendo agora."

O embaixador também lembrou que o Equador não foi forçado a explicar a cessão da base militar de Manta, usada pelos EUA no passado.

Apesar do debate público sobre o acordo entre Washington e Bogotá, o embaixador Rubens Barbosa, que comandou as embaixadas em Londres e Washington, entre 1994 e 2004, e hoje é consultor, acredita que a reação dos países da região já era esperada e "as consultas mútuas estão ocorrendo dentro da normalidade".

"Se você olha de perto, não há novidade. Os americanos estão há anos na Colômbia. Eles têm presença em todas as regiões do mundo. Como perderam uma base no Equador, simplesmente buscaram compensar isto na Colômbia", disse. "O que mudou, além da proposta de um aumento de contingente, é a pressão que Hugo Chávez exerce na região e as acusações mútuas entre Caracas e Bogotá."

Uribe acusa o governo venezuelano de ter entregado armas às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A Venezuela, por sua vez, fechou acordos militares com os russos e se aproximou do Irã. "Ninguém protestou quando Chávez insinuou que a Rússia poderia instalar bases militares na Venezuela. Por que o Brasil não pediu explicações nesse caso?", questionou Barbosa.

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