quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Brasil atribui a estratégia da volta de Zelaya a Chávez

João Domingos, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Choque em Honduras deixa 1 morto; Lula cobra recondução do deposto ao cargo.

A estratégia para a volta do presidente deposto Manuel Zelaya a Honduras teve a colaboração da Venezuela. É o que sustentam assessores do presidente Lula e do Itamaraty, informa o repórter João Domingos. Segundo informações nos meios diplomáticos, Chávez considerou que a Embaixada do Brasil era o local mais seguro para Zelaya. Em Tegucigalpa, novos confrontos entre simpatizantes do deposto e a polícia mataram ao menos um manifestante e feriram dezenas. Para Zelaya, são seis os mortos. Houve saques em bairros pobres da capital, transformados em zonas de guerra. O toque de recolher paralisou a fronteira entre El Salvador e Honduras, e o abastecimento local estava comprometido, relata a enviada especial Denise Chrispim Marin. O governo golpista se disse aberto a dialogar, mas manteve o cerco a embaixada brasileira. Na ONU, Lula defendeu a recondução imediata de Zelaya a seu cargo e voltou a advertir Honduras sobre a inviolabilidade da missão brasileira.

Brasília atribui a Chávez plano de retorno de Zelaya a Honduras

Assessores do presidente Luiz Inácio Lula da SIlva e do Itamaraty trabalham com a informação de que a infraestrutura e a logística para o retorno clandestino de Manuel Zelaya a Honduras tiveram a participação do presidente venezuelano, Hugo Chávez. O líder venezuelano teria até mesmo aconselhado Zelaya a procurar a embaixada brasileira.

De acordo com fontes do Palácio do Planalto e do Itamaraty, Chávez considerou que a embaixada brasileira era o local mais seguro para Zelaya. Por essas informações, Chávez teria dito a Zelaya que as embaixadas da Venezuela, México, Costa Rica e El Salvador, entre outras, poderiam ser atacadas pelas forças do governo de facto, por causa da proximidade entre o presidente deposto de Honduras e dos governos desses países. A representação diplomática do Brasil, ao contrário das outras, ofereceria toda a segurança para o abrigo do presidente deposto, pois o governo do presidente Lula está à frente das pressões para que o poder seja devolvido a Zelaya. Além do mais, a posição brasileira tem o apoio integral dos EUA, que não reconhecem o governo que se instalou em Honduras.

Brasil, EUA e Chile, principalmente, exigem que seja adotado em Honduras o Acordo de San José, articulado pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias. Por esse acordo, o poder será devolvido a Zelaya, que comandaria as eleições presidenciais de novembro.

O Brasil exige que o governo de facto, de Roberto Micheletti, negocie com Zelaya as condições do retorno dele ao poder.

O presidente Lula continua a dizer que não teve nenhuma participação prévia na decisão de Zelaya de regressar a Tegucigalpa e se refugiar na embaixada, que teve os serviços de energia elétrica, água e telefonia fixa cortados por algumas horas na segunda-feira. Por intervenção do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), União Europeia e Embaixada dos EUA, as cerca de cem pessoas que estão com Zelaya na representação diplomática passaram a receber alimentos e água.

O Itamaraty pediu oficialmente a Zelaya que evite fazer declarações capazes de desencadear qualquer tipo de reação de seus partidários, o que poderia levar a atos de violência. A decisão do governo de facto de receber uma missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) foi considerada um sinal de que Micheletti começa a ceder. A surpreendente volta de Zelaya a Tegucigalpa o estaria desestabilizando.

A Câmara dos Deputados aprovou ontem o envio de uma delegação de parlamentares brasileiros para Honduras. De acordo com Ivan Valente (PSol-SP), um dos integrantes da delegação, "a ideia é rechaçar todas as tentativas de desvirtuamento das instituições e proteger a integridade da representação brasileira em Honduras".

Os deputados, no entanto, enfrentam dificuldades logísticas e legais para a viagem. Como no momento o Brasil não tem relações diplomáticas com Honduras, eles terão de ter um salvo-conduto do Congresso hondurenho para entrar no país. Também desconhecem como poderiam chegar a Honduras, uma vez que - num dia marcado pela intensificação dos saques a supermercados e bancos (mais informações na página 13) - os aeroportos do país permaneciam fechados.

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