quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Fábulas paulistas

Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO


As decisões não serão tomadas hoje, mas se fossem, o PSDB lançaria o governador José Serra seu candidato a presidente, com base no critério de pesquisa de intenção de voto; o candidato ao governo de São Paulo seria Geraldo Alckmin, também com base em resultados de pesquisas, com vice-governador do DEM, que seria o Guilherme Afif Domingos, e total apoio de Serra e do prefeito demista Gilberto Kassab, de cuja fidelidade ao governador não há a menor dúvida até este momento; os candidatos desta coligação ao Senado seriam Orestes Quércia, do PMDB, e um nome do PSDB, sendo o mais provável Aloysio Nunes Ferreira.

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, está afinado com esta equação paulista e concorda com a escolha do candidato presidencial com base em pesquisa, mas como as decisões não serão tomadas hoje, seguirá com sua campanha para viabilizar-se e tornar-se mais conhecido, para o que der e vier. No mínimo, para estar em melhor posição quando chegar o momento das decisões. O governador mineiro cresceu muito no PSDB, ganhou aceitação, é para muitos o melhor candidato. Mas o partido quer que ele apoie Serra, por causa da resposta do eleitorado. Porém, isto pode mudar. Aécio cultiva duas características de sua personalidade: acha-se simpático e mais amplo, e sabe que a qualquer momento, se José Serra mudar suas perspectivas, se os índices de pesquisa se alterarem significamente, se conseguir fazer seu nome sair do lugar mesmo sem expor-se na TV, emergirá. E com apoio total de José Serra.

Esta é a situação real do momento que, às vezes, parece o que não é pela alta dose de conspiração que se atribui a qualquer movimento destes atores até aqui citados. Alguns mitos vêm caindo por terra e, às vezes, como esta semana, quando todos eles se reuniram em São Paulo, desabam de uma só vez.

Por exemplo: a instalação da casa de Minas Gerais na capital é um projeto que Aécio queria concretizar há tempos e não foi nada combinado. O governador mineiro deu a Serra o tratamento de convidado e aproveitaram ambos para mostrar afinação política.

Outro: ainda há um grupo ao redor de Serra, bem menor, hoje, do que já foi, que bombardeia Alckmin, mas Serra já se convenceu que Alckmin é o melhor candidato ao governo paulista para sua candidatura presidencial, pelo simples fato de que tem uma dianteira sólida nas pesquisas. Mas, garantem os espertos, Serra jamais tratou disso com seus mais próximos ou com Geraldo Alckmin.

Mais uma aparência que o encontro desta semana em São Paulo revelou equivocada é que Serra estaria sendo levado a apoiar Alckmin para ceder à força de Aécio. O fato é que Aécio e Alckmin já não são mais tão amigos como quando lutavam na mesma trincheira contra Serra. O governador de Minas afastou-se do ex-candidato do partido a presidente da República desde que este conquistou uma secretaria no governo paulista. Naquele momento seus projetos sofreram uma fissura.

A interpretação sobre a saída de Gabriel Chalita do PSDB para o PSB, em processo, é outro caso nesta relação. Tem vindo acompanhada de uma explicação sobre antiga intenção de Alckmin de também mudar de partido para concorrer ao governo de São Paulo se voltasse a se sentir boicotado por Serra. Dizem hoje tucanos paulistas que Alckmin já não tem mais ligações políticas com Chalita, que nunca foi bem aceito no PSDB. Os dois não são mais peças do mesmo projeto e a ameaça de Alckmin de sair do partido ficou para trás, convencido de que será o candidato de Serra.

Resta a fábula da rebeldia da criatura Kassab contra o criador Serra ao tentar impor-se como candidato ao governo paulista, em 2010, uma jogada para a qual teria o apoio de Quércia. De todas as fantasias, dizem os intérpretes dos movimentos políticos em São Paulo, esta é uma das maiores.

Orestes Quércia quer ser candidato a senador e ganhar a eleição. Seu trabalho político é ajudar a candidatura José Serra dentro do seu partido, o PMDB, fora de São Paulo, uma vez que o controle formal da legenda está com o grupo que apoia Lula. O que ele conseguir é lucro.

Quanto a Kassab está, sim, criando arestas com o PSDB, mas não porque pretenda candidatar-se ao governo de São Paulo. Na sucessão presidencial e estadual o prefeito está fechado com Serra. O que tem incomodado os tucanos paulistas, porém, é a ampla organização que Kassab está promovendo do Democratas em todo o Estado. A instalação do DEM pelo interior, um trabalho liderado pelo prefeito que hoje é o principal político do partido, tem avançado em espaços do PSDB e atropelado alguns caciques tucanos que reclamam da invasão demista. Um contencioso real e forte, o único que pode ser visto concretamente. Expansão, e isto não é fantasia, que tem tudo a ver com a criação de bases de uma candidatura ao governo de São Paulo, mas a partir de 2014.

Unesco

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) faz alguns esclarecimentos a respeito de dados aqui publicados a partir de avaliação de seus dirigentes sobre programas de alfabetização de adultos no Brasil e no mundo. Fica claro o objetivo da instituição de corrigir e superar a impressão que pode ter ficado nas autoridades educacionais do governo de que ali há críticas à administração federal. Segundo a assessoria da Unesco, o relatório de monitoramento de 2008 informa que, entre 2001 e 2006, segundo o IBGE, haviam sido alfabetizadas 1,4 milhão de pessoas no Brasil, sendo a meta do Plano Nacional de Educação alfabetizar 10 milhões de pessoas entre 2001 e 2010. Diz ainda a instituição que a taxa de analfabetismo adulto no Brasil está decrescendo, ainda que em ritmo que dificilmente possibilitará o alcance das metas do plano, apesar dos esforços das autoridades do governo.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

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