sábado, 26 de setembro de 2009

Honduras leva a bate-boca entre Brasil e EUA

Gustavo Chacra
DEU EM O ESTDO DE S. PAULO

Representante americana na ONU critica Amorim por acionar Conselho de SegurançaO chanceler brasileiro, Celso Amorim, bateu boca com a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice. O incidente ocorreu quando o Conselho de Segurança, a pedido do Brasil, estava deliberando sobre uma declaração condenando o cerco à embaixada brasileira em Honduras. Em conversa privada, Rice disse a Amorim que aquele não era o local adequado para esse tipo de representação, ao que o chanceler respondeu: “Se fosse a Embaixada dos EUA, você estaria muita irritada”. O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, acusou militares de atacarem a embaixada brasileira com gases tóxicos. O governo de facto disse que a informação é falsa.

EUA e Brasil divergem no CS da ONU

Amorim discute com embaixadora americana sobre intimidação à embaixada e denuncia "planos de invasão"

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, teve um bate-boca ontem com a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Susan Rice, na reunião do Conselho de Segurança. O incidente ocorreu logo depois de o chanceler brasileiro discursar na sessão extraordinária do órgão, solicitada pelo governo brasileiro, em que foi aprovada por consenso uma declaração pedindo o fim das intimidações do governo de facto hondurenho contra a Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Em seu discurso, Amorim afirmou que o governo brasileiro tem "indícios concretos" que o regime de Roberto Micheletti tem planos de invadir a embaixada.

O bate-boca com a embaixadora dos EUA foi presenciado por jornalistas brasileiros. "Este não é o local adequado para este tipo de representação", disse Susan a Amorim quando os dois já estavam de pé e parte dos embaixadores havia se retirado para deliberar sobre a questão apresentada pelo Brasil. O ministro brasileiro respondeu: "Não farei uma discussão teórica sobre isso." Depois de uma conversa inaudível, Amorim acrescentou: "Se fosse a Embaixada dos EUA, você estaria muito irritada." Susan retrucou que "ainda assim não faria comentários". Amorim finalizou dizendo "vá em frente, faça sua declaração".

Ao ser questionada pelo Estado sobre a discussão, Susan respondeu: "Tivemos uma conversa privada que não estamos preparados para partilhar com vocês." Horas mais tarde, em entrevista coletiva a jornalistas brasileiros, o ministro citou a resposta da embaixadora para não comentar o assunto.

Depois da discussão, Susan seguiu com outros embaixadores para uma reunião a portas fechadas dos 15 membros do Conselho de Segurança. Amorim não participou. Usando palavras quase idênticas às do ministro brasileiro em seu discurso de introdução, a embaixadora leu a declaração do conselho condenando "os atos de intimidação contra a embaixada do Brasil" e pedindo ao "governo de facto de Honduras que encerre as ameaças".

RECADO A MICHELETTI

Amorim usou termos duros ao descrever os indícios de que o governo de facto pretende invadir a embaixada brasileira. "Primeiro, a decisão de enviar à embaixada um oficial de Justiça munido de um mandado de busca. Evidentemente, os funcionários brasileiros recusaram-se a receber o mandado e não permitiram a entrada do oficial na embaixada", discursou Amorim.

"O regime também mudou o tratamento formal concedido à embaixada, o qual parece implicar que esta teria deixado de gozar do status diplomático", acrescentou.

"O governo de facto enviou uma comunicação diretamente ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil na qual se refere à embaixada como "uma das instalações que o governo brasileiro ainda mantém em Tegucigalpa". Tudo isso parece um prelúdio para outras ações."

Segundo o chanceler brasileiro, "a embaixada tem estado cercada, submetida a atos de assédio e intimidação. Tais atos violam totalmente a Convenção de Viena".

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