terça-feira, 8 de setembro de 2009

Poderosa combinação

Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO


O otimismo em relação ao futuro da candidatura da Dilma Rousseff a presidente está de volta ao PT. Mas em vez do pré-sal, é a expectativa de uma retomada consistente do crescimento econômico que anima os petistas. Eles já falam em vitória no primeiro turno, independente do fato de só haver dois candidatos à eleição, como gostaria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ou quatro, na cédula que passou a ser desenhada desde a entrada em cena da ex-ministra Marina Silva.

"Ainda assim será eleição uma plebiscitária", diz o deputado João Paulo Cunha (PT-SP). "Para que isso ocorra, não importa que sejam dois, três ou quatro os candidatos".

João Paulo Cunha é um desses petistas para quem as candidaturas de Ciro Gomes (PSB-CE) e de Marina Silva (PV-AC) viram pó, ao longo da disputa, e que a eleição será definida num Fla-Flu tucano-petista no qual a candidata de Lula estará em condições de liquidar o embate no primeiro turno.

Os registros petistas remetem a duas ocasiões. Em 1993, Lula chegou a ter 43% das intenções de voto. O então candidato petista crescia nas pesquisas quanto maiores eram os infortúnios na economia. Em 1994 Fernando Henrique Cardoso decretou o Plano Real (Lula ficou contra) e não tardou a alcançar o primeiro lugar. Saiu do zero para ganhar a eleição. No primeiro turno. Foi reeleito em 1998, outra vez no primeiro turno, ainda sob a influência da estabilização da economia.

O mesmo se deu com Lula em 2001. É bem verdade que ele enfrentou concorrência no meio do caminho. Primeiro de Roseana Sarney, que deixou a corrida antes do tiro de largada, pelo motivos conhecidos, e depois de Ciro Gomes, que chegou a marcar 28% contra 33% de Lula, em agosto. Ciro afogou-se no destempero, a economia ia mal e o petista manteve-se na pista, em crescimento. Foi por pouco que não levou no primeiro turno contra o candidato tucano José Serra.

"O que define a eleição é a combinação da situação econômica do país com a capacidade gerencial do governo", acredita o deputado João Paulo Cunha.

O produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 5,1% em 2008, mas no último trimestre do ano a economia foi sacudida pela crise financeira internacional. Não houve crescimento. Isso projetou uma onda de desânimo no PT. Aparentemente, agora a crise está de saída e João Paulo está convencido de que o país entrará numa escala ascendente. "Se não tiver nenhum problema, como a crise passada, vamos chegar a 2010 com crescimento econômico muito bom".

O que seria uma combinação eleitoral poderosa, pois o PT espera chegar às eleições presidenciais do próximo ano com resultados para mostrar em alguns dos principais programas de governo. É claro, tem o pré-sal, por meio do qual o PT chama o PSDB para o debate ideológico, mas tem também projetos populares como o "Minha Casa, Minha Vida".

O governo não vai entregar 1.000000 de casas até a eleição, mas o grupo majoritário do PT avalia que se forem entregues 100 mil, 130 mil o efeito será parecido, pois passará a mensagem de que o programa está em movimento. E o PAC do Saneamento e Habitação, em nove regiões metropolitanas, terá então o que os petistas chamam de "visibilidade significativa".

Tomando por base o instituto Datafolha, o PT aponta que em 14 meses a ministra da Casa Civil saiu de 3% para 16%. Ou seja, cerca de 17 milhões de eleitores se movimentaram em direção à candidatura de Dilma Rousseff. José Serra, que é considerado no partido o adversário certo da ministra, tinha 36% em março de 2008, mesmo patamar registrado em maio de 2009. Na opinião de João Paulo, "o teto de todo mundo que fica contra um governo com economia ascendente".

Nas pesquisas espontâneas, aquelas em que o entrevistado cita um nome sem ver uma lista precisamente elaborada, Dilma já está com 4%, a apenas um ponto de Aécio Neves, governador de Minas, e a dois do tucano que lidera as pesquisas, José Serra.

Para João Paulo, a ministra não precisa crescer muito nas pesquisas, "mas devagar e continuamente". Segundo o deputado, 20% será um bom índice, ao final deste ano, e 30% em meados do ano que vem. Se esse plano de voo se realizar, João Paulo não tem dúvidas da eleição da ministra no primeiro turno.

Otimismo é uma marca registrada do PT, nem sempre confirmada nas urnas. É só lembrar da eleição municipal de 2004, quando o partido cantava vitória em 1.000 municípios, mas não chegou a 500. Mas esse é o estado de ânimo atual petista.

Dilma tira agora uma semana de férias. Só na volta será possível afirmar que, como dizem os petistas, ela passou a controlar o temperamento e a entender melhor os meandros do Congresso e os movimentos socias.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

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