sábado, 26 de setembro de 2009

Por uma nova ordem mundial

Gilberto Scofield Jr.
DEU EM O GLOBO

JÁ SÃO 20 GRITANDO

G-20 promete manter medidas de estímulo e regular o sistema financeiro, com apoio do FMI
Admitindo que o pior da crise parece ter passado, mas que o processo de recuperação econômica global ainda está incompleto, os líderes do G-20 - grupo que reúne as principais economias do mundo - encerraram ontem sua reunião de cúpula em Pittsburgh prometendo manter seus pacotes de estímulo, agir para garantir a volta dos empregos e reforçar a regulamentação do sistema financeiro internacional de modo a evitar novas crises no futuro. Ao mesmo tempo, os presidentes instruíram seus ministros da Fazenda a preparar até novembro as estratégias de saída para, "no momento certo", coordenarem o fim dos pacotes de forma a não afetar o crescimento mundial. A China queria que a discussão começasse agora. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, chegou a falar em uma nova ordem mundial.

Essas tarefas serão coordenadas e executadas no âmbito do G-20, que passa a ser o grande fórum de discussão das políticas econômicas mundiais, em substituição ao G-8 (o grupo dos sete países mais ricos e a Rússia). O objetivo, segundo a declaração final divulgada ontem, é fazer o mundo voltar a crescer, mantendo a responsabilidade fiscal. Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (Bird) darão apoio técnico às decisões do G-20. As recomendações desses organismos, no entanto, não terão caráter compulsório.

- Houve uma decisão importante de transformar o G-20 no principal fórum de políticas econômicas internacionais, o que significa a criação de uma nova ordem mundial. A volta do crescimento não trouxe de volta o emprego, e ficou estabelecido que nenhum país terá que abrir mão de suas políticas contracíclicas. O sistema financeiro internacional receberá regras adicionais para que não ocorram os desatinos que vivemos nos últimos meses. E houve o compromisso de melhora na participação dos emergentes no FMI e no Bird - disse Lula.

Limite a salários foi concessão à Europa

- Nós precisamos ter certeza de que, quando o crescimento voltar, os empregos vão voltar também. - afirmou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. - Nós trouxemos a economia global de volta da beira do abismo e fixamos os alicerces para uma longa prosperidade.

O G-20 concordou em estabelecer regras que forcem os bancos a elevarem seu capital e separarem parte de seus lucros para, em tempos de crise, garantir crédito à economia. Os bancos também terão de absorver parte das perdas em operações financeiras mais sofisticadas, o que os obrigará a calcular melhor os riscos. As maiores instituições financeiras mundiais ficarão sob intenso escrutínio, e a remuneração dos executivos ficará ligada ao desempenho.

Este último ponto, que pôs de um lado EUA e Reino Unido (contra os limites) e a União Europeia (a favor), foi a concessão feita pelo país-anfitrião para que europeus concordassem em transferir parte do poder que possuem no FMI e no Bird para os emergentes. A transferência no FMI será de 5%; no Bird, de 3%.

Os protestos de ontem foram pacíficos, ao contrário da véspera. A polícia estimou o número de manifestantes em 4.500, mas para os organizadores foi o dobro. Peter Shell, presidente do Thomas Merton Center, um grupo pela paz, disse que foi a maior manifestação na cidade desde os protestos contra a guerra no Vietnã, nos anos 1970. Um dos cartazes dizia "Sem resgate, sem capitalismo". Mas um grupo de anarquistas cantava "Nós vivemos num Estado fascista" ao som de "Yellow Submarine", dos Beatles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário