domingo, 27 de setembro de 2009

Quércia: 'Temos poder para fazer a aliança com o PSDB''

Clarissa Oliveira e Julia Duailibi
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Aliado dos tucanos em São Paulo, o ex-governador Orestes Quércia (PMDB) disse não "confiar" na aliança com o PT em 2010 e na disposição do PT de dar a vice-presidência para o seu colega de partido Michel Temer, presidente da Câmara. "Eu nem acredito que o PT dê a vice-presidência para ele."

Na contramão de Temer, que em entrevista ao Estado defendeu que a aliança PT-PMDB seja definida em outubro, Quércia disse que será a convenção, apenas em junho, que decidirá quem o partido apoiará. "É um grupo no PMDB que pretende apoiar e não quer conversar com ninguém." As declarações do ex-governador já têm um tom de racha, tradicional no PMDB a cada eleição. "A mesma esperança que eles têm de que o PMDB apoie a candidatura do PT nós temos no sentido de virar. Quem manda no partido é a convenção", afirmou.

Para Quércia, a "posição de São Paulo" de fechar com o PSDB é "incontestada". Abaixo, a entrevista concedida na sexta-feira em seu escritório.

Com o foi a reunião com a cúpula do PMDB semana passada?

Estivemos lá eu, Jarbas (Vasconcelos) e Ibsen Pinheiro, representando o Pedro Simon, por causa das declarações do presidente do partido de que teria se definido pela candidatura da Dilma. Sou da Executiva Nacional e ninguém me chamou para falar sobre esse assunto. Mesmo essa questão de eventual candidatura do Michel, ele nunca falou, nunca conversou com ninguém. Nossa expectativa é de que as coisas vão mudar muito. Mas, se conversar, a gente sente que é possível ter uma solução boa.

Solução boa é o quê? Apoiar o candidato do PSDB?

O que colocamos é que o raciocínio está errado. O comando nacional vai definir, mas não chamou o comando nacional? Não é Exército, não é regime militar. O comandante manda, dá a ordem e se cumpre. Política é conversar, é diálogo, é debate. Ficou definido, no final da reunião, que o Michel iria convocar outra reunião para continuar debatendo.

Espera-se que a aliança com o PT seja anunciada em breve.

Quem anuncia isso? É o presidente do PMDB? Não, é o presidente do PT. Então, significa que o PT está mesmo mandando no PMDB. Não é o PMDB. É um grupo no PMDB que pretende apoiar e não quer conversar com ninguém.

O PMDB vai rachar de novo?

Não queremos que o PMDB rache. Até porque temos esperança. A mesma esperança que eles têm de que o PMDB apoie a candidatura do PT nós temos no sentido de virar. Quem manda no partido é a convenção.

Há a sensação de que a negociação com o PSDB é projeto pessoal do sr. para se lançar ao Senado.

É da Executiva do partido em São Paulo. Não é meu.

Quem está com o sr. nesse plano?

Todo o PMDB de São Paulo. Na reunião, eu coloquei isso. A posição de São Paulo é incontestada. Nem o Michel nunca contestou, que é nosso deputado federal. Essa posição é legítima, apoiada unanimemente.

Além de São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul, quem mais?

Santa Catarina. Não está definido o Rio Grande do Sul, mas tenho certeza de que vai definir. Temos esperanças no Mato Grosso do Sul e em Goiás.

O sr. diz que o PMDB paulista está fechado. Mas a decisão ocorreu quando não era tão forte a possibilidade de Temer ser vice. São Paulo não pode rever a posição?

Não. Nossa posição é de apoio à campanha do PSDB para o governo e de Serra para presidente. Se não conseguirmos na convenção, em São Paulo temos poder para fazer a aliança com o PSDB. Mesmo sem a aliança nacional.

Mesmo com o Temer na vice?

É. Por que vamos protelar o processo? Tudo bem, eu respeito muito o Temer. É uma liderança muito importante. Mas não vai mudar São Paulo.

O PMDB de São Paulo fará a campanha do Serra mesmo tendo a vice de Dilma com o Temer?

Não posso dizer isso, porque não sei o que vai dizer a convenção do partido. Quero fazer isso. Pretendo fazer isso. Vou propor à convenção nacional do partido apoio ao Serra para poder fazer isso.

E o palanque nacional?

O palanque nacional vamos decidir na época. Isso não é hora de decidir. A hipótese com que eu trabalho é a de apoiar o Serra para presidente. Vejo condição para isso. Quem está demonstrando claramente essa possibilidade sou eu? Não, é o Michel Temer. Porque eles estão precipitando. Por que estão fazendo isso? Eles querem segurar o processo.

Por que não fazer aliança com o PT?

Quando fui candidato a senador, havia um compromisso de me ajudar. E eles não cumpriram o compromisso.

O sr. acha que o PT vai deixar de cumprir compromissos se firmar uma aliança em torno da Dilma?

Não sei. Eu não confio na aliança com o PT. Agora, se os outros confiam, o que é que eu posso fazer? Eu não confio.

O sr. apoiou o presidente Lula lá atrás.

Eu apoiei o projeto, e ele não foi executado. Não cumpriram esse programa. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) conseguiu fazer 7% das obras anunciadas. Existem 29% em andamento e 64% não saíram do papel.

O PT diz que o sr. desembarcou do programa petista porque não teve espaço para cargos.

Nem nunca quis. Nas conversas em que fui consultado, nunca reivindiquei cargo nenhum. Tenho alguma coisa pessoal contra o Lula? Não, nunca tive. Sempre foi muito simpático comigo. Ajudei a organizar o apoio do PMDB ao governo Lula. Ajudei a somar o partido em torno do Michel. Mas estou convencido de que é ruim para o País continuar com o PT no governo. Gostaria de estar brigando pela candidatura do PMDB. Infelizmente, não é possível.

O senhor está se sentindo atropelado nesse processo de aliança?

O raciocínio deles é "vamos decidir o nacional e todo mundo vai ter de seguir". Vai decidir não em nome do partido, em nome de uma discussão, de um debate. Se decidir. Espero que isso não venha a acontecer. Estou convencido de que o Michel Temer vai cumprir o compromisso que ele assumiu comigo, com o Jarbas e com o Ibsen Pinheiro de continuar a discussão.

Mas, no final, o PMDB sempre acaba indo com o governo, não?


Não deveria. Lembro que na campanha passada lutei muito para ter candidato próprio. Dessa vez, percebi que era difícil. Fizemos a aliança em São Paulo já prevendo a hipótese de apoiar o Serra. Se o Brasil continuar com o governo do PT sem o Lula vai ser a pior coisa que pode acontecer. Tenho obrigação de fazer alguma coisa. E acho que, hoje, é brigar como puder para ajudar o Serra. Porque eu adoro o Serra? Não. Há um processo em andamento, de que é a melhor alternativa para o País. Se amanhã ele não for o candidato do PSDB, vamos apoiar o Aécio. Que representa aquilo que o Serra também representa.

O sr. apoiaria o Serra mesmo que retirassem a legenda para o sr. disputar o Senado?

Não sou ambicionado desesperadamente para ser senador. Evidentemente, acho que teria de ser do PMDB esse senador.

A ala governista diz que ficou resolvido que a definição das alianças deverá ser antecipada.

Confira com o Ibsen, o Jarbas. Temer ainda pediu para eu ser mais manso na minha declaração, pois estava cheio de jornalistas lá fora. Eu disse "tudo bem, vou ser manso".

Se ele não estivesse na liderança do partido seria mais fácil fazer a negociação que o sr. quer?

Eu o ajudei a ser presidente.

E agora ele trai o sr.?

Ele não está traindo. Está sendo pressionado pelo outro lado, pelas circunstâncias. Pode ser que ele goste da circunstância de ser vice-presidente. E eu nem acredito que o PT dê a vice-presidência para ele. Eu não acredito.

Por quê?

É subjetivo. Difícil explicar por quê. Tem muita gente que não acredita. Não sou só eu, não. Gente do Michel não acredita.

Mas o que dá esse argumento para o sr.?

É uma impressão. Evidentemente, interessa a eles dizer que o Michel é o vice. Aí São Paulo está envolvido. É o vice de São Paulo. Não sei se é para valer.

É jogo de cena?

Pode ser. Não acredito que eles vão apoiá-lo. Vocês vão ver isso acontecer. Não existe nada oficial. Dizem que o Michel seria bom. Mas aí, a maioria não quis, essas coisas. Tenho uma falha política. Sou muito sincero em tudo. Não costumo mentir nunca. Falo aquilo que eu penso.

Como o sr. vê a discussão do candidato a governador em São Paulo?

Há dois candidatos, o Aloysio e o Alckmin. Basicamente, vai depender do PSDB e do Serra.

Se Aloysio for candidato, Alckmin pode ir para o Senado. Aflige o sr.?

São duas vagas.

O DEM tem resistência ao Alckmin, setores do partido ameaçam lançar o Kassab?

Não existe isso. Kassab não é candidato.

Mas seria bom a Alda Marco Antônio na Prefeitura de São Paulo?

Seria ótimo. Se o Kassab fosse candidato, acho que teria condições de se eleger.

Poderia ser um prêmio de consolação caso o PSDB tire do senhor a legenda para o Senado?

Pode ser. Fechado. Pronto.

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