sexta-feira, 30 de outubro de 2009

'Alianças de Lula indicam populismo'

Maiá Menezes
DEU EM O GLOBO


"Ele é mais popular na Argentina do que na Anpocs", brinca sociólogo portenho

CAXAMBU (MG). Ao traçar ontem o perfil dos sistemas partidários na América Latina e compará-los com modelos europeus e com o americano, o sociólogo Torcuato Di Tella, ex-ministro da Cultura argentino, afirmou que o populismo no governo Lula pode ser identificado em um ponto: nas alianças que ele buscou e consolidou desde o primeiro mandato.

Durante conferência no último dia do 33oEncontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu, Torcuato afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é popular em seu país, mas fez a ressalva: — Lula tem origem num sindicalismo do tipo americano, que busca resultados.

Depois que chegou ao governo, fez acordo com partidos como o PMDB e com grupos religiosos (com o hoje PRB, do vice-presidente José Alencar, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus). Essas alianças é que têm elementos populistas — disse o sociólogo, afirmando que os sindicatos ligados ao PT não são “atrelados ao Estado” como os do governo populista de Getulio Vargas.

Para o ex-ministro, o presidente Lula tem características de um social-democrata, “mas não é um típico populista ou um típico social-democrata”. Ele ressaltou que, apesar da observação em relação à aliança, gosta de Lula, assim como seus conterrâneos.

— Na Argentina, o pessoal adora o Lula. A esquerda se pergunta: por que não temos alguém como ele? Já a direita diz que o presidente brasileiro é alguém com quem se pode conversar.

O Lula é mais popular na Argentina do que na Anpocs — provocou o sociólogo, diante das perguntas da plateia sobre as características populistas da gestão petista.

Em um dos debates que inauguraram o encontro, anteontem, o cientista político Luiz Werneck Vianna fez duras críticas à gestão petista e a Lula, a quem chamou de “chefe carismático”.

Segundo ele, o Brasil está retomando o caminho do passado, do desenvolvimentismo, na contramão “de uma cidadania ampla”. O que, para ele, “não é um bom presságio para a democracia brasileira”.

Torcuato Di Tella falou ainda sobre as raízes do populismo nos países periféricos.

Segundo ele, a tradição rural, que cria um tripé social formado por três pais — o pai de família, o padre e o patrão —, acaba influenciando na estrutura da sociedade, na hora em que as pessoas saem do campo para a cidade.

— Ao sair para a cidade, eles perdem os três pais. E aparecem os chamados “pais dos pobres”, como aconteceu com Getulio Vargas, (Juan Domingo) Peron, Hugo Chávez e Evo Morales — disse o sociólogo, sem citar Lula.

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