Tiago Pariz
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Lideranças que dominavam o comando do partido em São Paulo perdem terreno depois de escândalos e têm de disputar espaço com companheiros menos cotados
Em seu berço de nascimento, o PT está em processo de renovação e em briga deflagrada sobre quem é o nome mais importante do partido. Em São Paulo, lideranças que antes determinavam o rumo do partido estão em declínio e, nesse vácuo, emergem figuras capazes de questionar até interesses do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa deterioração dos proeminentes foi precipitada pelos recentes escândalos que chacoalharam o partido, como os episódios do mensalão, dos aloprados e do caseiro.
O PT tinha um grupo fechado de tomada de decisões inquestionável. Quando os ex-ministros José Dirceu, Luiz Gushiken, Antonio Palocci e o senador Aloizio Mercadante decidiam o rumo petista, a militância obedecia. Apesar de ter poder acumulado, esse grupo está enfraquecido e sofre para fazer valer sua palavra. Dirceu e Gushiken foram envolvidos no mensalão, e Palocci saiu do governo acusado de quebrar o sigilo funcional do caseiro Francenildo Santos Costa. Já Mercadante foi alvejado depois que seus principais assessores na campanha pelo governo paulista em 2006 foram envolvidos na compra de um suposto dossiê com informações sobre uma pretensa relação do atual governador José Serra com a máfia das ambulâncias. O grupo ficou conhecido como “os aloprados”.
“Antes o que eles falavam era lei. Hoje não é bem assim. Há um novo grupo mais disseminado de deputados que diluiu o poder”, afirmou uma liderança paulista. Ao custo dessa derrocada, surgiram novos nomes com potencial de ocupar esse vácuo. O prefeito de Osasco, Emídio de Souza, o líder da bancada na Câmara, Cândido Vaccarezza, o ministro da Educação, Fernando Haddad, e o deputado José Eduardo Cardozo. “Está havendo um processo de transição de liderança para pessoas que têm destaques em suas áreas, mas ainda não têm o mesmo peso na máquina que o antigo grupo tinha”, explicou outro nome do PT de São Paulo.
Emídio de Souza reconhece que os recentes tumultos dentro do partido ajudaram a acelerar a renovação. “(O surgimento de novos nomes) tem a ver com os escândalos, mas mesmo que não tivesse acontecido, teriam surgido novas lideranças”, disse o prefeito de Osasco, que disputa a possibilidade de concorrer ao governo.
Apoio a Ciro
Essa briga em torno da escolha do melhor caminho na eleição para o governo paulista no ano que vem é o exemplo mais claro dessa condensação de lideranças e briga por espaço. Hoje existem duas correntes de sobrevivência: uma que acha que, por falta de nomes, o melhor é apoiar o deputado pelo Ceará Ciro Gomes (PSB), e a outra, que defende que, mesmo com um concorrente pouco competitivo, é importante ser cabeça de chapa. A segunda ala é encabeçada pela ex-ministra Marta Suplicy, que depois de duas derrotas para o PSDB paulista (uma para o governo e outra na reeleição para a prefeitura) também está em declínio.
José Dirceu defende o acerto com Ciro Gomes. Mas, diferentemente de outros tempos, a tese de Dirceu encontra dificuldades. Marta bate na tecla de que é preciso candidato próprio para tentar se impor em cima de seus correligionários, mas ela depende de um apoio que o presidente Lula não está disposto a dar. Por isso, num processo de sobrevivência política depois de ser cassado, Dirceu estimula essa briga e está do lado dos deputados. E depois de muita briga e turras internas o presidente da legenda, deputado Ricardo Berzoini, também passou a jogar o jogo da nova turma em ascensão. Mercadante, antes de ser alvejado, buscou ocupar um espaço deixado pelo deputado João Paulo Cunha, também envolvido no mensalão, em Osasco. Não conseguiu e deixou a porta aberta para Emídio.
Lula gostaria que o PT apoiasse Ciro e desistisse de concorrer ao governo para que a ministra Dilma Rousseff tivesse um único palanque forte em São Paulo. Lula tem o apoio de parte do novo grupo petista e do ex-ministro José Dirceu. Hoje, se o PSB não concordar com a possibilidade e lançar o deputado cearense à Presidência da República, as novas lideranças estão fechadas com Emídio de Souza. Além de ser o nome de parte dos deputados federais paulistas, ele conta com o apoio de 14 dos 20 deputados estaduais. Essa conta é apresentada por deputados estaduais para tentar rejeitar a tese de que o nome de Palocci é o mais forte no estado. “Quem iria imaginar que um prefeito de Osasco poderia pleitear ser governador de São Paulo num partido que tem Marta Suplicy, Aloizio Mercadante e tantos outros?”, indaga outro petista.
Para não ficar na defensiva, parte do PT já tem antecipado conversas com potenciais aliados. Estão na mira PDT, PCdoB, PR e prefeitos do PMDB descontentes com o alinhamento do presidente regional da legenda, Orestes Quércia, com o governador José Serra (PSDB).
Novidade
Pré-candidato ao governo de São Paulo, o prefeito de Osasco, Emídio de Souza, disse que o PT vai montar um palanque forte para a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ele afirmou que a manutenção dos candidatos petistas deve-se ao movimento dos outros partidos, sobretudo o PSB, que flerta com a possibilidade de Ciro Gomes ou Paulo Skaf como concorrentes. Souza ressaltou, no entanto, que a legenda não está fechada para composições e alianças. --> --> --> --
Rede de intrigas
Marta Suplicy
Tem o maior percentual de potenciais eleitores nas pesquisas de intenção de voto, mas teve seu poder enfraquecido no PT depois de duas derrotas seguidas para o PSDB. Decidiu apoiar a candidatura de Antonio Palocci ao governo estadual para tentar fortalecer seus militantes.
José Dirceu
Depois de ser cassado por envolvimento no mensalão, o ex-deputado passou a atuar nos bastidores em favor da candidatura da ministra Dilma Rousseff. É um dos defensores da tese de que é preciso abdicar do nome próprio e apoiar Ciro Gomes.
Aloizio Mercadante
Líder do PT no Senado, foi desautorizado publicamente pelo governo por não apoiar o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Perdeu uma eleição para o governo de São Paulo depois de seus assessores se envolverem no escândalo dos aloprados. Sua reeleição ao Senado não é tida como confortável.
Cândido Vaccarezza
Foi eleito líder do partido sem apoio de Ricardo Berzoini, do líder do governo Henrique Fontana (PT-RS) e do ex-líder Maurício Rands (PE). Ganhou espaço ao se aproximar de Dilma e de Lula, além de passar a negociar diretamente pelo governo na Câmara. É defensor da tese de subjugar o palanque estadual em favor da ministra da Casa Civil.
Antonio Palocci
Ex-ministro da Fazenda, saiu do governo pela porta dos fundos, mas ganhou fôlego político depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) o inocentou de qualquer envolvimento na quebra do sigilo funcional do caseiro Francenildo Santos Costa. Hoje é um dos nomes lembrados para disputar o governo paulista.
Emídio de Souza
Prefeito da quinta maior cidade de São Paulo, surgiu como concorrente ao governo estadual com a falta de opção entre os antigos medalhões petistas. Tem apoio da maioria dos deputados estaduais para sua empreitada.
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Lideranças que dominavam o comando do partido em São Paulo perdem terreno depois de escândalos e têm de disputar espaço com companheiros menos cotados
Em seu berço de nascimento, o PT está em processo de renovação e em briga deflagrada sobre quem é o nome mais importante do partido. Em São Paulo, lideranças que antes determinavam o rumo do partido estão em declínio e, nesse vácuo, emergem figuras capazes de questionar até interesses do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa deterioração dos proeminentes foi precipitada pelos recentes escândalos que chacoalharam o partido, como os episódios do mensalão, dos aloprados e do caseiro.
O PT tinha um grupo fechado de tomada de decisões inquestionável. Quando os ex-ministros José Dirceu, Luiz Gushiken, Antonio Palocci e o senador Aloizio Mercadante decidiam o rumo petista, a militância obedecia. Apesar de ter poder acumulado, esse grupo está enfraquecido e sofre para fazer valer sua palavra. Dirceu e Gushiken foram envolvidos no mensalão, e Palocci saiu do governo acusado de quebrar o sigilo funcional do caseiro Francenildo Santos Costa. Já Mercadante foi alvejado depois que seus principais assessores na campanha pelo governo paulista em 2006 foram envolvidos na compra de um suposto dossiê com informações sobre uma pretensa relação do atual governador José Serra com a máfia das ambulâncias. O grupo ficou conhecido como “os aloprados”.
“Antes o que eles falavam era lei. Hoje não é bem assim. Há um novo grupo mais disseminado de deputados que diluiu o poder”, afirmou uma liderança paulista. Ao custo dessa derrocada, surgiram novos nomes com potencial de ocupar esse vácuo. O prefeito de Osasco, Emídio de Souza, o líder da bancada na Câmara, Cândido Vaccarezza, o ministro da Educação, Fernando Haddad, e o deputado José Eduardo Cardozo. “Está havendo um processo de transição de liderança para pessoas que têm destaques em suas áreas, mas ainda não têm o mesmo peso na máquina que o antigo grupo tinha”, explicou outro nome do PT de São Paulo.
Emídio de Souza reconhece que os recentes tumultos dentro do partido ajudaram a acelerar a renovação. “(O surgimento de novos nomes) tem a ver com os escândalos, mas mesmo que não tivesse acontecido, teriam surgido novas lideranças”, disse o prefeito de Osasco, que disputa a possibilidade de concorrer ao governo.
Apoio a Ciro
Essa briga em torno da escolha do melhor caminho na eleição para o governo paulista no ano que vem é o exemplo mais claro dessa condensação de lideranças e briga por espaço. Hoje existem duas correntes de sobrevivência: uma que acha que, por falta de nomes, o melhor é apoiar o deputado pelo Ceará Ciro Gomes (PSB), e a outra, que defende que, mesmo com um concorrente pouco competitivo, é importante ser cabeça de chapa. A segunda ala é encabeçada pela ex-ministra Marta Suplicy, que depois de duas derrotas para o PSDB paulista (uma para o governo e outra na reeleição para a prefeitura) também está em declínio.
José Dirceu defende o acerto com Ciro Gomes. Mas, diferentemente de outros tempos, a tese de Dirceu encontra dificuldades. Marta bate na tecla de que é preciso candidato próprio para tentar se impor em cima de seus correligionários, mas ela depende de um apoio que o presidente Lula não está disposto a dar. Por isso, num processo de sobrevivência política depois de ser cassado, Dirceu estimula essa briga e está do lado dos deputados. E depois de muita briga e turras internas o presidente da legenda, deputado Ricardo Berzoini, também passou a jogar o jogo da nova turma em ascensão. Mercadante, antes de ser alvejado, buscou ocupar um espaço deixado pelo deputado João Paulo Cunha, também envolvido no mensalão, em Osasco. Não conseguiu e deixou a porta aberta para Emídio.
Lula gostaria que o PT apoiasse Ciro e desistisse de concorrer ao governo para que a ministra Dilma Rousseff tivesse um único palanque forte em São Paulo. Lula tem o apoio de parte do novo grupo petista e do ex-ministro José Dirceu. Hoje, se o PSB não concordar com a possibilidade e lançar o deputado cearense à Presidência da República, as novas lideranças estão fechadas com Emídio de Souza. Além de ser o nome de parte dos deputados federais paulistas, ele conta com o apoio de 14 dos 20 deputados estaduais. Essa conta é apresentada por deputados estaduais para tentar rejeitar a tese de que o nome de Palocci é o mais forte no estado. “Quem iria imaginar que um prefeito de Osasco poderia pleitear ser governador de São Paulo num partido que tem Marta Suplicy, Aloizio Mercadante e tantos outros?”, indaga outro petista.
Para não ficar na defensiva, parte do PT já tem antecipado conversas com potenciais aliados. Estão na mira PDT, PCdoB, PR e prefeitos do PMDB descontentes com o alinhamento do presidente regional da legenda, Orestes Quércia, com o governador José Serra (PSDB).
Novidade
Pré-candidato ao governo de São Paulo, o prefeito de Osasco, Emídio de Souza, disse que o PT vai montar um palanque forte para a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ele afirmou que a manutenção dos candidatos petistas deve-se ao movimento dos outros partidos, sobretudo o PSB, que flerta com a possibilidade de Ciro Gomes ou Paulo Skaf como concorrentes. Souza ressaltou, no entanto, que a legenda não está fechada para composições e alianças. --> --> --> --
Rede de intrigas
Marta Suplicy
Tem o maior percentual de potenciais eleitores nas pesquisas de intenção de voto, mas teve seu poder enfraquecido no PT depois de duas derrotas seguidas para o PSDB. Decidiu apoiar a candidatura de Antonio Palocci ao governo estadual para tentar fortalecer seus militantes.
José Dirceu
Depois de ser cassado por envolvimento no mensalão, o ex-deputado passou a atuar nos bastidores em favor da candidatura da ministra Dilma Rousseff. É um dos defensores da tese de que é preciso abdicar do nome próprio e apoiar Ciro Gomes.
Aloizio Mercadante
Líder do PT no Senado, foi desautorizado publicamente pelo governo por não apoiar o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Perdeu uma eleição para o governo de São Paulo depois de seus assessores se envolverem no escândalo dos aloprados. Sua reeleição ao Senado não é tida como confortável.
Cândido Vaccarezza
Foi eleito líder do partido sem apoio de Ricardo Berzoini, do líder do governo Henrique Fontana (PT-RS) e do ex-líder Maurício Rands (PE). Ganhou espaço ao se aproximar de Dilma e de Lula, além de passar a negociar diretamente pelo governo na Câmara. É defensor da tese de subjugar o palanque estadual em favor da ministra da Casa Civil.
Antonio Palocci
Ex-ministro da Fazenda, saiu do governo pela porta dos fundos, mas ganhou fôlego político depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) o inocentou de qualquer envolvimento na quebra do sigilo funcional do caseiro Francenildo Santos Costa. Hoje é um dos nomes lembrados para disputar o governo paulista.
Emídio de Souza
Prefeito da quinta maior cidade de São Paulo, surgiu como concorrente ao governo estadual com a falta de opção entre os antigos medalhões petistas. Tem apoio da maioria dos deputados estaduais para sua empreitada.
Ciro na berlinda
ResponderExcluirO papel de “encarregado de serviços sujos” que Ciro Gomes está disposto a assumir para a candidatura governista não é novidade nem caso isolado. Toda campanha tem esses acertos. Aparentemente, Marina Silva e Sônia Francine fecharam os seus, nos respectivos contextos, com o PSDB.
A mídia serrista ainda não sabe o que fazer com Ciro (nem com Marina).
Precisa incensá-lo por dois motivos: a) para gorar o acordo PT-PMDB, espalhando a bobagem de que apenas o deputado impediria José Serra de ganhar no primeiro turno – há meses as pesquisas mostram que Serra não tem chance de vencer no primeiro turno, em qualquer cenário. E b) manter Ciro na disputa nacional, afastando-o da campanha pelo governo paulista.
É ali, no tabuleiro tucano, minando o favoritismo de Serra em seu próprio quintal, que Ciro poderá decidir a eleição presidencial. Já disse e continuarei repetindo: Serra não será candidato a presidente se surgir uma forte candidatura adversária em São Paulo.
Ao mesmo tempo, entretanto, os analistas já perceberam a necessidade de impedir que Ciro ganhe importância demasiada como o anti-Serra universal. Um artigo de Elio Gaspari expôs esse medo de forma exemplar: mexeu com nosso governador, toma safanão.
Nas próximas semanas, esses ataques serão mais contundentes, pessoalizados, provocando o temperamento irascível do deputado. A idéia é indispô-lo com o PT, que, graças ao proverbial pendor auto-destrutivo, pode investir numa candidatura própria isolada e rejeitada, oferecendo de bandeja a vitória tucana em São Paulo.