terça-feira, 6 de outubro de 2009

Comoção no adeus à voz latina de Mercedes

Ariel Palacios
BUENOS AIRES
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Populares, muitas autoridades e artistas despedem-se da cantora na Argentina

O corpo da cantora Mercedes Sosa foi cremado ontem no cemitério de La Chacarita, na capital argentina, no início da tarde. Seu filho, Fabián Matus, declarou que a maior parte das cinzas de sua mãe será espalhada em Tucumán, sua província natal. Outra parte será colocada na província de Mendoza, onde ela dizia que havia passado seus anos de maior felicidade. O restante será espalhado em Buenos Aires, cidade onde residiu nas últimas duas décadas e meia.

Enquanto seu corpo era cremado, os amigos de "La Negra", como era chamada carinhosamente, entoaram Luna Tucumana, uma canção que retrata a província natal de Mercedes Sosa, Tucumán. Antes de ser levado para La Chacarita, o corpo de Mercedes Sosa foi velado ao longo de quase 24 horas no Congresso Nacional, com todas as honras. Milhares de pessoas foram a seu velório para dar o último adeus à intérprete que imortalizou canções como Gracias a la Vida e Duerme Negrita. A cantora morreu no domingo de madrugada após graves complicações hepáticas, renais, respiratórias e cardíacas.

Desde 1962 até este ano, Mercedes gravou 47 álbuns e participou de seis filmes. Ela apresentou-se nos principais templos da cultura mundial, entre os quais o nova-iorquino Lincoln Center, o Concertgebouw de Amsterdã e o Vaticano. Seu último álbum, Cantora, é candidato ao Grammy Latino.

O ministro da Cultura do Brasil, Juca Ferreira, desembarcou ontem de madrugada em Buenos Aires para participar do velório, em representação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após ter dado o adeus à cantora no Congresso Nacional, Ferreira declarou aos correspondentes brasileiros na Embaixada do Brasil em Buenos Aires que "Mercedes foi um símbolo! Sinto que ela furou um bloqueio entre a cultura da cidade de Buenos Aires e a do interior da Argentina, essa Argentina profunda das províncias".

Segundo Ferreira, que assistiu a vários shows da cantora ao longo das últimas duas décadas, destacou a voz "doce e suave, mas profunda ao mesmo tempo" de Mercedes Sosa. O ministro afirmou que o velório da cantora foi "comovente" e que não conseguiu conter as lágrimas. No velório, o filho de Mercedes Sosa, Fabián Matus, afirmou ao ministro Ferreira, que sua mãe considerava o Brasil seu "segundo país".

O técnico da seleção argentina, Diego Armando Maradona, foi ao velório em plena madrugada. Maradona, após beijar a testa da cantora, não deixou de lado seu peculiar estilo polêmico ao referir-se à cantora que admirava: "Mercedes tinha essa impressionante liberdade com a qual cantava... nenhuma outra mulher tinha os ovários para cantar tal como ela cantava!" Segundo Maradona, "morreu a deusa da liberdade".

A morte de Mercedes também abalou presidentes latino-americanos como o venezuelano Hugo Chávez, que afirmou que "Mercedes foi embora fisicamente, mas continuará entre nós". O boliviano Evo Morales sustentou que "morreu uma voz, uma inspiração que sempre esteve do lado dos movimentos sociais, dos pobres, das pessoas que aspiravam tempos melhores". O presidente israelense Shimon Peres também referiu-se à cantora: "Ela encarnou a liberação da América Latina, e de certa forma, também a decepção que essa liberação trouxe."

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