quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Eventual acordo não bastará para reverter prejuízos à economia

Ana Flor
Enviada a Tegucigalpa
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Golpe intensifica efeitos da crise sobre Honduras; estimativa é de 180 mil novos desempregados e 650 mil novos pobres no país

Queda no influxo de turistas, corte em ajuda internacional e percalços no comércio com vizinhos também ajudam a formar quadro desolador


Um acordo que promova o entendimento político em Honduras e a restauração da democracia não irá significar o fim da crise que vive o país centro-americano.

As perdas sociais e econômicas ocorridas com a crise internacional que se iniciou em 2008 se agravaram depois do golpe de 28 de junho, quando a retirada do presidente Manuel Zelaya da Presidência levou a comunidade internacional a cortar repasses e ajuda financeira ao país, além de afugentar milhares de turistas.

Para a organização Fórum Social de Dívida Externa e Desenvolvimento de Honduras (Fosdeh), nos próximos meses entre 650 mil e 700 mil de hondurenhos deixarão a classe média para ingressar no grupo que vive em situação de pobreza, o que elevaria para 70% da população de quase 8 milhões a fatia nessa situação.

Mesmo que os negociadores cheguem a um consenso nesta semana, a tarefa de reocupar os 180 mil novos desempregados dos últimos meses, segundo dados oficiais, ficará para o próximo presidente, que assume em janeiro. A informalidade e o subemprego também cresceram e atingem hoje pelo menos 40% dos hondurenhos.

O turismo é o setor mais afetado pela crise. Terceira maior fonte de recursos do país, teve uma queda de entre 40% e 70%. Ministro do Turismo na gestão de Manuel Zelaya, Ricardo Martínez diz que nos últimos três meses 120 mil turistas deixaram de visitar o país. A baixa ocupação dos hotéis, que chegou a 8%, segundo ele, em algumas regiões, ameaça empregos.

Outra fonte de renda do país, o setor de confecção de roupas sofreu com a adoção em reiteradas ocasiões do toque de recolher, que atingiu os turnos das empresas. Com o aumento de 60% que Zelaya deu ao salário mínimo, muitos empresários começaram a pensar em se mudar para outros países da região. "Não podemos deixar um setor tão importante à sua própria sorte", diz Adolfo Facussé, um dos principais empresários do país.

Apesar de apoiar o golpe, a poderosa Associação Nacional de Indústrias de Honduras, que ele preside, hoje é uma das principais forças de pressão para que o governo interino de Roberto Micheletti chegue a um acordo para pôr fim à crise.

Os Estados Unidos cortaram, desde junho, cerca de US$ 70 milhões em repasses para programas sociais, construção de estradas e treinamento militar. Segundo o embaixador americano, Hugo Llorens, apenas os repasses de ajuda humanitária foram mantidos. Já a União Europeia cortou o equivalente a US$ 95 milhões.

Não foram apenas as grandes economias que cancelaram repasses ou trocas economicamente rentáveis a Honduras. Nas horas após o golpe, países vizinhos que formam o Sica (Sistema de Integração Centro-Americana) fecharam suas fronteiras, prejudicando o fluxo de bens de consumo. Esses países concentram 19,3% das exportações e 18,9% das importações de Honduras, segundo a ONG Grupo Sociedade Civil.

Com a escassez de recursos externos, o governo interino tem usado as reservas do país para manter a máquina funcionando. O vice-ministro de Comércio Exterior de Zelaya, Jaime Turcios, diz que já foi gasto pelo menos US$ 1 bilhão desde o golpe.

Ele enumera ainda as perdas comerciais causadas pela suspensão das trocas com países da região e da América do Sul. "Os golpistas eram tão contrários à entrada de Honduras na Alba [Aliança Bolivariana para as Américas, bloco liderado pela Venezuela], só que até agora não houve um movimento do Congresso para sair", afirma ele, atribuindo a decisão aos ganhos comerciais que Honduras obtém da troca comercial.

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