sábado, 3 de outubro de 2009

Honduras: negociação começa na próxima semana

Ricardo Galhardo
Enviado especial
DEU EM O GLOBO

Missão da OEA chega a Tegucigalpa; Zelaya e Micheletti indicam interlocutores para a mesa de diálogo

TEGUCIGALPA. Depois de três meses da crise política iniciada com o golpe de Estado de 28 de junho, o presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, e o presidente deposto, Manuel Zelaya, finalmente vão iniciar um diálogo em busca de acordo.

As negociações serão mediadas pela Organização dos Estados Americanos (OEA), que enviou uma missão ontem a Tegucigalpa a fim de preparar o terreno para uma reunião de chanceleres prevista para o dia 7.

Segundo o assessor da secretariageral da OEA, John Bihel, os dois lados já indicaram cinco interlocutores cada para compor a mesa de negociação. Fontes ligadas a Micheletti contaram que a negociação teria como ponto de partida o Acordo de San José, com modificações pontuais. No meio político hondurenho, o otimismo leva a especulações sobre a possibilidade de um acordo antes mesmo da missão de chanceleres.

Micheletti defendeu uma saída doméstica para a crise. A OEA teria um papel secundário, de dar amparo ao diálogo.

— Creio que este é um problema hondurenho e o mais lógico seria que nós, hondurenhos, o resolvêssemos. Logicamente, gostaríamos que viesse alguém para contribuir com o diálogo — disse Micheletti.

Os representantes da OEA, que chegaram ontem a Honduras, adotaram um discurso semelhante.

— Nossa tarefa é propiciar o diálogo para a restituição da ordem constitucional — disse o secretário de Relações Políticas da OEA, Victor Rico.

A missão encontrou em Tegucigalpa um ambiente político muito diferente de domingo, quando foram impedidos de entrar no país.

Micheletti, que até então vinha sendo enfático em recusar a possibilidade da restituição de Zelaya, foi lacônico ao responder sobre o assunto, ontem: — Sobre isso quem vai falar são as pessoas indicadas para a negociação.

Para Arias, Constituição hondurenha é a pior Zelaya disse aos deputados brasileiros que admite voltar à Presidência com poderes reduzidos.

Segundo eles, o objetivo de Zelaya não é mais governar, e sim dar um exemplo de repúdio aos golpes no continente.

Micheletti também se mostrou otimista quanto a um acordo.

O único fato que destoou do clima de conciliação e otimismo foi uma declaração desastrada do presidente da Costa Rica, Óscar Arias, autor do Acordo de San José, afirmando que o silêncio da Constituição hondurenha sobre a possibilidade de impeachment alimenta a crise. “Eu me forcei a estudar a Constituição de Honduras. Não creio que haja constituição pior na face da Terra”, disse ao jornal “Miami Herald”.

A declaração foi duramente criticada por políticos.

Apesar da distensão no campo político, a repressão aos movimentos que pedem a restituição da ordem constitucional continua. Ontem, 38 sem-terras presos durante a desocupação do Instituto Nacional Agrário foram transferidos para uma penitenciária.

Segundo a polícia, 3.200 pessoas foram presas desde o golpe e 2.200 desde a volta de Zelaya ao país, na segundafeira passada.

De acordo com o Comitê de Defesa dos Direitos Humanos de Honduras, 12 pessoas morreram desde o dia 28 de junho em função do golpe. A Polícia Nacional rejeita o número e fala em quatro mortes, mas não mas não admite a responsabilidade por nenhuma delas.

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