quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Lula diz que 'inaugurações' só começaram

Bruno Marques*
DEU EM O GLOBO

Em desafio à oposição e ao presidente do STF, o presidente Lula disse que continuará em campanha "inaugurando obras", embora grande parte de suas viagens seja para lançar ou vistoriar obras - e não inaugurá-las.


Lula desafia STF e oposição: viagens vão continuar

Presidente diz que seguirá "inaugurando" obras ao lançar programas e que seus antecessores são "todos da mesma laia"

BELO HORIZONTE. Acusado pela oposição e pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, de fazer campanha antecipada para sua candidata à Presidência, a ministra Dilma Rousseff, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu as críticas ontem, com doses de ironia.

Em visita à capital mineira, disse que até o fim de seu mandato fará muitas viagens com sua equipe de governo — como a da semana passada, pelo Vale do Rio São Francisco — para vistoriar e inaugurar obras.

— Eu só peço calma, calma porque nós ainda nem começamos a inaugurar o que temos que inaugurar neste país. Tem muita coisa para acontecer e tem muita coisa que nós vamos fazer ainda, daqui para a frente — avisou o presidente, deixando um recado aos críticos: — Vocês não perdem por esperar.

Aguardem — disse ele, apesar de a maioria das viagens que faz é para lançar e vistoriar obras, e não inaugurar, já que programas como o PAC e as obras do São Francisco têm baixa execução orçamentária.

Lula disse ainda que seus ministros não andam pelo país a turismo e que sua movimentada agenda irrita os partidos da oposição: — Agora, os homens estão ficando nervosos porque estamos inaugurando obras. É a primeira vez na vida que vejo alguém ficar nervoso porque se inaugura obra. Quando eu fazia oposição, ficava nervoso porque não tinha obra, não tinha escola, não tinha estrada, não tinha ponte, não tinha nada.

Eles ficavam em Brasília vendo o tempo passar.

Anteontem, DEM, PSDB e PPS apresentaram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) representação acusando Lula e a ministra Dilma de promoverem atos eleitorais antes do prazo estipulado pela legislação. O ministro Gilmar Mendes também se manifestou, dizendo que o governo testa a Justiça Eleitoral e que “nem o mais cândido dos ingênuos” acredita que viagens como a do São Francisco são para fiscalizar obras.

Lula esteve em Belo Horizonte para lançar — e não inaugurar — um programa de inclusão digital e para a assinatura de um convênio para construção de 531 moradias populares pelo Minha Casa, Minha Vida. Ele estava acompanhado de Dilma e os ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Hélio Costa (Comunicações), Luís Dulci (Secretaria Geral da Presidência), Márcio Fortes (Cidades) e Fernando Haddad (Educação). Ao citar os programas sociais do seu governo, disparou contra os anteriores: — É muito fácil assumir a Presidência da República e não fazer nada porque ninguém nunca fez. Os outros presidentes são todos da mesma laia. Mas eu precisava fazer, porque, se eu não fizesse, nunca mais alguém vindo do povo, um torneiro mecânico, seria eleito novamente.

Lula reconheceu que seu governo ainda não fez tudo o que tem para fazer e que, por décadas, ainda haverá uma dívida com o povo.

Dilma também ressaltou as políticas sociais do governo e disse que há 26 anos o país não via um programa habitacional como o Minha Casa, Minha Vida.

Disse que cerca de 100 mil contratos de moradias já foram assinados pelo programa e que outros 400 mil serão assinados até dezembro. E mais 400 mil ficarão para o segundo semestre de 2010. Apesar de negar o clima de campanha, ela deu autógrafos quando Lula discursava.

— Vamos em frente e muita fé no nosso país — afirmou Dilma, ao fim de seu discurso.

O evento em Belo Horizonte também marcou a ampliação do acesso gratuito à internet na capital mineira.

* Especial para O GLOBO

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