quarta-feira, 7 de outubro de 2009

OEA transige com golpistas, acusa deposto

Fabiano Maisonnave
Enviado Especial a Tegucigalpa
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


A um dia da chegada da comitiva de alto nível da OEA (Organização dos Estados Americanos), o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, acusou a entidade interamericana e "subalternos" de Barack Obama de serem "complacentes" com o governo interino por supostamente aceitarem prolongar as negociações para seu retorno ao poder.

"Alertamos a comunidade internacional, os chanceleres, que não continuem sendo levados pelas manobras cada vez mais evidentes de prolongar a ditadura estabelecida em Honduras por mais de cem dias", disse, demonstrando muito mais irritação do que nos últimos dias. "É uma armadilha a mais para prolongar a agonia e o sofrimento do povo hondurenho."

A avaliação de Zelaya é a de que o seu retorno à Presidência já é irreversível, mas que o governo interino tentará adiá-lo ao máximo. Por isso, a exigência de que o Acordo de San José, proposta que prevê a sua volta condicionada ao poder, seja assinado antes das negociações em si.

"Acredito que a OEA deve esclarecer a sua posição", disse Zelaya, para quem a entidade interamericana age com muita "suavidade, muita complacência com o regime".

Questionado a esclarecer a "complacência", Zelaya disse que "a OEA, cuja sede é em Washington, tem a presença de todos os países da América, mas também dos EUA. Estou muito feliz com as declarações do presidente Obama, da secretária Clinton, mas considero que os seus subalternos estão fazendo mais a política dos velhos republicanos do que a democracia que o presidente quer impulsionar".

Segundo Zelaya, os "subalternos" estão fazendo um jogo duplo: "Dão espaços, tréguas, para iniciar outra vez um processo de diálogo que havíamos concluído em San José. Iniciar um processo de diálogo após tudo que se havia avançado me parece um retrocesso criminoso".

Refugiado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa há 17 dias, Zelaya está impedido de se reunir com seus delegados para as negociações intermediadas pela OEA. O governo interino não autoriza que eles entrem na representação.

Os problemas de coordenação de Zelaya com seus representantes são visíveis. À tarde, ele divulgou uma lista que inclui dois candidatos a presidente anti-Micheletti.

Momentos após o anúncio, porém, o candidato Carlos H. Reyes disse à Folha, por telefone, que não sabia da sua indicação e que não aceita ser delegado nas reuniões de hoje.

Sem acesso aos seus colaboradores, Zelaya recebeu a visita ontem de quatro eurodeputados, que não participam das negociações da OEA.

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