quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ofensiva pró-Dilma busca forçar Ciro a um recuo

Jarbas de Holanda
Jornalista

No cenário descrito aqui quarta-feira passada – de previsível reforço da já elevada popularidade de Lula em face do impacto gerado pela escolha do Rio como sede das Olimpíadas de 2016 – multiplicaram-se desde então as ações político partidárias e político-administrativas para afirmação da candidatura da ministra Dilma Rousseff. E com a proclamação de que ela é candidata única do governo, na retomada da perspectiva de conversão da disputa presidencial num confronto em torno do lulismo. Perspectiva posta em xeque nos últimos dois meses pela emergência da alternativa de um lulismo paralelo, sem os desgastes do petismo, representada por Ciro Gomes.

Por isto mesmo, as ações político-partidárias acima referidas trataram de combinar a formalização de pré-acordo entre o PT (o governo) e as duas alas dirigentes do PMDB, (que indicarão o candidato a vice), com o cerco aos partidos da base governista suscetíveis de se vincularem a Ciro –já bem sucedido no caso do PDT, e do PC do B que, juntos com o PSB, compunham o chamado bloquinho de esquerda da Câmara e agora caminham para integrar-se à campanha dilmista. Cerco que se estende a duas outras legendas de centro-direita – o PP e o PR.

Quanto às ações político-administrativas - ligadas a projetos, obras e programas assistencialistas do governo e à capitalização do pré-sal e das Olimpíadas, bem como de festas e atos religiosos - a candidata tem incluído em sua agenda o mais que pode, delas e deles, nas diversas regiões do país. A fim de conseguir o máximo possível de presença na mídia, capaz de lhe propiciar, logo, uma melhora dos precários índices de intenção de votos que tem obtido, inferiores aos de Ciro e fatores de questionamento de sua candidatura no PMDB e demais partidos da base governista, inclusive no PT.

Consiga ela, ou não um aumento desses índices já nas próximas pesquisas, a grande operação desencadeada em seu favor vem produzindo uma consequência política imediata: o isolamento da candidatura de Ciro Gomes. Que, além da barragem a possível aliança do PSB com outros partidos, também foi alvo – como revelou a Veja desta semana – de uma ameaça do chefe da articulação dilmista, o ex-ministro José Dirceu, ao próprio governador do Ceará, Cid Gomes (irmão de Ciro): a de ruptura da aliança local para sua reeleição, por meio do lançamento para a disputa do cargo da prefeita petista de Fortaleza, Luziane Lins, se a candidatura presidencial de Ciro for mantida. O que se articula, ainda (desde que seja evitado um conflito agudo entre o Palácio do Planalto e Ciro), com a renovação do empenho da cúpula nacional do PT para que ele abandone o projeto nacional em troca da candidatura ao governo paulista.


De Palocci à gastança atual

(Trechos de artigo de Rubens Ricupero –
“Metódica descontinuidade”, na Folha, de 11/10)

“Isolada do resto do governo, a recente deriva da política externa não parece fazer muito sentido. Por que afagar o Irã e hostilizar a Colômbia? Porque tentar constranger Obama como réu em encontro da Unasul e armar o circo da embaixada em Honduras?

As fichas começam a cair quando se constata que de oito meses para cá, o governo se empenha em sistemática afirmação de uma identidade própria”. “O pré-sal e a crise financeira fornecem as duas oportunidades para justificar a descontinuidade em relação ao período anterior”. “A crise fez do pecado de gastar uma virtude redentora.

Legitima arquivar em definitivo a receita proposta por Palocci e Delfim para aumentar o superávit primário até zerar o déficit nominal. A nova política, que mercados financeiros e agências de risco confundem com a antiga, consiste no crescimento puxado pelas despesas do governo e pelo consumo de massa”.

“A cara definitiva da era Lula não é a dos amargos cortes da gestão Palocci. O presidente se sente bem mais à vontade banhado no suculento caldo de benesses que lhe assegure, como admite, um lugar ao lado de Vargas no panteão dos benfeitores”. “A diplomacia é um dos elementos que se encaixam nesse conjunto. Para quem acha que algumas das mudanças que ela tem sofrido não fazem sentido, é bom lembrar a reação de Polônio ao desvario de Hamlet: embora seja loucura, existe nele boa dose de método”.

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