terça-feira, 27 de outubro de 2009

Por pobrismo e renúncia à mudança, Freire dá 4,5 ao governo Lula

Por: Valéria de Oliveira
DEU NO PORTAL DO PPS


O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, disse que o governo Lula não seria aprovado se dependesse da nota dele: 4,5 foi a escolhida quando os jornalistas que participaram do programa Roda Viva, da TV Cultura, lhe pediram para atribuir-lhe uma de zero a 10. Essa pontuação se deve, por um lado, às melhorias no salário mínimo, aposentadoria e em alguns indicadores sociais. Por outro, “porque Lula não era para melhorar, mas para mudar”. Em vez disso, manteve a política econômica que privilegia os banqueiros e tratou o problema da pobreza com um instrumento do coronelismo, o Bolsa Família.

“Eu não sonho em ver todo o Brasil recebendo Bolsa Família, não. Quero um projeto de desenvolvimento e geração de empregos no Nordeste; não de manutenção do pobrismo, que me possibilitasse ser eleito sempre, porque o pobre está lá para me dar votos”. Apenas com programas de transferência de renda, disse Freire, o Nordeste continua a ser um bolsão de pobreza, porque ele não muda a realidade.

Serra

Ao ser perguntado se, num eventual governo Serra, o Bolsa Família acabaria, o presidente do PPS disse que não é o alter ego do governador de São Paulo que, se eleito presidente, “não faria o meu governo”. Afirmou que os pontos comuns entre o PPS e o governador são a opção por novos paradigmas de desenvolvimento após a crise; investimento em energias do futuro, que não façam o mundo padecer com o carbono e aposta na sociedade do conhecimento, dentre outros. A respeito da definição da candidatura tucana, Freire disse não acreditar que seja necessária uma precipitação, mas acrescentou que não defende que a escolha se dê apenas em março do próximo ano.

Ao falar de economia, Roberto Freire disse que, com um cenário internacional favorável, enquanto China e Índia disputavam a dianteira do crescimento, o Brasil dividia com o Haiti “a rabeira” dos índices. Agora, salientou, o presidente Lula reclama das ações do TCU (Tribunal de Contas da União) e das leis ambientais porque “está cada vez mais claro que este governo é incompetente para investir; se não fossem nossas estatais, estaríamos numa tragédia completa por causa da má gestão (governamental), porque não se tem projeto”.

MST

O PPS não apóia a criminalização dos movimentos sociais, disse Freire, ao ser questionado sobre o MST. Entretanto, ressalvou, “não considera que o MST esteja acima da lei e que possa usar dinheiro público sem prestar contas à sociedade”. Quando foi consultado se considerava que o movimento é de esquerda, aquiesceu, mas lembrou que, ao destruir pesquisas, conforme o MST já fez, pratica “o pior obscurantismo, lembra a queima de livros e de pessoas pela inquisição”, na Idade Média. “Quando penso na esquerda, me vem a imagem do iluminismo, as figuras de Giordano Bruno, de Galileu Galilei; não a de Torquemada”.

O partido, afirmou, é favorável tanto à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a organização quanto àquela instalada com o objetivo de apurar irregularidades na Petrobras. “As CPIs são vistas sempre como instrumentos da oposição; aí o governo investe na paralisação delas. Está errado. Quem perde é a sociedade”.

Esquerda

Especificamente sobre a definição de esquerda no mundo atual, questão que os jornalistas lhe pediram insistentemente, Freire disse que ela passa, por exemplo, pela defesa da globalização da imigração. “Integrar o capital é fácil, mas e o trabalho?”, ponderou. Ao responder quais governos considerava de esquerda no mundo, afirmou: “Pensava que o de Lula ia ser. O PT é de esquerda, mas o governo do PT não é”, declarou. Segundo Freire, é possível ser de esquerda e empreender um governo conservador.

Ao analisar a decisão de parte do PMDB de apoiar a candidatura da ministra Dilma Roussef, o ex-senador - um dos fundadores do MDB - disse que o partido jogou fora sua história. “Já há algum tempo (a legenda) não tem força para lançar um candidato a presidente”, afirmou. Acaba optando pelo apoio ao “governo de plantão”. O partido tornou-se importante, nas eleições, pelo seu tempo de TV.

A persistir a tendência de vitória do governador José Serra, avalia Freire, o PMDB, que não está unido, pode mudar na convenção e apoiar a candidatura oposicionista. “Como definir desde já? Eles (PT e PMDB) estão com dificuldades nos estados”, lembrou. O jantar que selou a parceria, comentou, foi um “factóide” porque aqueles que dele participaram já eram comensais do governo.

O jornalista da Carta Capital Gilberto Nascimento disse que Freire recebia jeton de empresas públicas de São Paulo mesmo morando em Recife. O ex-senador respondeu: “Não moro em Recife, mas em São Paulo e Brasília; e trabalho. Nunca faltei a uma reunião em três anos. Sou um homem comum e decente. Alguém pode não concordar com o que eu penso, mas creio que é uma honra para essas empresas que eu participe delas; tenho 40 anos de vida pública e sempre tentaram achar alguma coisa contra mim. Não acharam e vieram com essa”. Freire acrescentou que o deputado cassado José Dirceu teve de se retratar por ter afirmado que ele não trabalhava nos conselhos dos quais participa. “Eu disse que iria processá-lo; ele se retratou”.

Participaram da entrevista os jornalistas Eliane Cantanhede, da Folha de São Paulo; Cláudio Araújo, editor de O Estado de São Paulo; Guilherme Bruno, do portal IG, e Gilberto Nascimento, da Revista Carta Capital. O apresentador e mediador do Roda Viva é o jornalista Heródoto Barbeiro.

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