sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Um homem insubstituível

Rubens Bueno*

"Menor que o meu sonho não posso ser" (Lindolfo Bell)



Muito se lamentou a morte de Luiz Felipe Haj Mussi. Muitas também foram as homenagens. Mas é o passar dos dias que nos revela o tremendo vácuo, a enorme falta que o dr. Mussi está fazendo. E o pior, a triste falta que dr. Mussi fará, dia após dia, a todos os que tiveram o privilégio de conviver com sua gentileza e generosidade e puderam contar com seu aconselhamento e amizade.

Tenho certeza que falo por muitos.

Dono de um saber na área do Direito como poucos já dominaram, Mussi dedicou grande parte de seu tempo a formar políticos conscientes de seu papel e da ética da qual não poderiam jamais afastar-se um milímetro que fosse. Sem nada exigir, chegou a viajar por estradas muitas vezes ruins eperigosas para dar palestras no interior no Paraná, onde quer que o PPS precisasse dele para fazer cursos de Formação Política. Simplesmente porque ele considerava importante o contato, por menor que fosse, da prática política das regiões mais afastadas com o debate dos compromissos que os representantes precisam assumir. Ele acreditava na semente.

Da mesma forma adentrou às universidades, em todo o estado, para defender o parlamentarismo em memoráveis debates com estudantes e professores, em 1993.

Mesmo sem ter pretensões políticas como costuma considerar-se hoje, dr. Mussi doou um tempo precioso de sua vida a redigir a reforma do Estatuto, o Código de Ética e o Regimento Interno do PPS. A cada congresso nacional do partido que se aproximava, coordenava uma comissão para rever e alterar itens do estatuto, para adequar o partido aos novos tempos, propostas que seriam submetidas ao plenário do congresso.

É que Luiz Felipe Haj Mussi fazia política de verdade. E acreditava nisso. Poderia dizer-se que ele trabalhava nos bastidores se essa palavra não estivesse tão desgastada, com sentido até pejorativo. Seria como, no cinema, alguém que trabalhe atrás das câmeras. Há muito que se fazer, que avaliar, discutir, aprofundar para que decisões sejam tomadas com segurança, para que sejam seguidas com consciência.

Pois o dr. Mussi, desembargador aposentado, muito ligado à família, que fazia questão de ter sempre por perto, ainda conseguia dedicar tempo a discussões partidárias, a análise de assuntos os mais variados para que o PPS sempre encontrasse um norte, o norte claro, correto, coerente, ético e transparente como sempre defendeu.

E nunca perdeu a capacidade de indignar-se. Ele, que não precisava arregaçar as mangas, passava horas e horas debruçado sobre ações, representações e o que mais achasse que precisava ser feito em função de determinado assunto. No dia mesmo em que morreu, segunda-feira 21 de setembro, dr. Mussi havia decidido entrar com representação contra a decisão do presidente Lula de indicar o advogado geral da União, José Antonio Dias Toffoli, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Estava indignado que nenhuma das entidades que representam advogados, magistrados e ministério público o tivesse feito, em função das condenações já sofridas por Toffoli, sem falar dos concursos em que foi reprovado.

Ganhou no TSE sua proposta de liberar a internet para os partidos divulgarem seus candidatos, quando ainda era vedado. Agora o Congresso Nacional amplia considerávelmente o que êle defendia: a Internet é uma conquista da Humanidade pela liberdade de informação e expressão. Preparou ação junto STF para tentar uma Súmula Vinculante que declarasse inelegíveis candidatos processados e condencados em segunda instância, dentre outros crimes, o do desvio de dinheiro público.

Dr. Mussi era assim. Incansável. Determinado a fazer deste um mundo melhor. Um mundo que, para nós que ficamos, e falo também do PPS pelas dezenas de manifestações recebidas de todo o Paraná e do Brasil e, tenho certeza, por muita gente outra, um mundo agora irremediavelmente mais pobre.

Assim como a saudade que a família vai sentindo aos poucos, aumentando sempre, sem possibilidade de ser preenchida ou sequer amenizada, também o PPS começa a perceber que, diferente do que se prega, há sim pessoas insubstituíveis. E certamente Mussi é uma delas.

Seus sonhos continuam maiores que os poucos 64 anos de sua vida!

*Rubens Bueno, ex-deputado federal, é presidente do PPS do Paraná

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