quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Aécio recebe Ciro e irrita o PSDB

DEU EM O GLOBO

Deputado volta a dizer que desiste se o tucano de Minas for o candidato

Fábio Fabrini, Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos

BELO HORIZONTE e BRASÍLIA. Num encontro que causou constrangimento à cúpula do PSDB, o governador tucano de Minas, Aécio Neves, trocou afagos, ontem, com o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), um dos principais desafetos do governador paulista José Serra. Os dois posaram juntos no lançamento de um projeto em Belo Horizonte e almoçaram no Palácio das Mangabeiras. Ciro reafirmou que desiste de concorrer ao Planalto caso Aécio seja o candidato tucano à Presidência.

- Se Aécio se viabilizar candidato, penso que sua presença é tão importante para o Brasil que minha candidatura não é necessária mais - disse, acrescentando que o mineiro acabaria com a "radicalização paroquial" entre PT e PSDB em São Paulo: - O Aécio encerra esse provincianismo. Pode convocar todos os brasileiros decentes, de todos os partidos, como faz em Minas, e celebrar um projeto de país que dê avanço ao que o presidente Lula representou.

Ao lado de Aécio, Ciro não citou Serra, mas, numa provável referência, chamou-o de "coiso", quando perguntado sobre a transferência de seu domicílio eleitoral para São Paulo:

- Havia um parecer jurídico que dizia, pelo fato de eu ser irmão do governador do Ceará (Cid Gomes, PSB), que o "coiso", com os seus aliados, poderiam tentar uma impugnação.

Ele se referia a uma advertência do partido de que uma candidatura majoritária no mesmo estado de um parente de primeiro grau poderia ser alvo de questionamentos judiciais.

A aproximação gerou desconforto e reclamações.

- Ele (Ciro) é um desafeto do PSDB. Esteve no meu estado há 20 dias e disse que o PSDB significa atraso. Faz uma campanha nacional contra o partido - disse a vice-presidente do PSDB, Marisa Serrano (MS).

À saída, Aécio rebateu:

- Da minha parte, não há desconforto. Tenho uma relação com o Ciro que se iniciou com o próprio PSDB, onde ele foi uma das principais figuras. Respeito a posição daqueles que divergem de mim; não tenho que achar que todos têm de ter a mesma opinião. Ao contrário, faço política numa dimensão maior.

E, antes do almoço, chamou Ciro de "amigo de uma vida":

- Se pudéssemos estar juntos, seria extraordinário.

"Esse encontro foi uma provocação", diz Fruet

A aproximação entre Aécio e Ciro incomoda Serra e seus aliados. O encontro foi encarado como gesto de hostilidade. Ciro tem sido um crítico implacável do ex-presidente Fernando Henrique e de Serra, além de ter atuado como um aliado do presidente Lula. É a aposta do presidente para disputar o governo paulista, com o apoio do PT.

- A movimentação de Aécio favorece o partido. Mas seu envolvimento com Ciro preocupa. Parece uma estratégia deliberada do PT e dos coordenadores da campanha da ministra Dilma Rousseff para tumultuar a estratégia do PSDB para 2010. Fica difícil acreditar na sinceridade dos propósitos de Ciro, se ele também faz declarações de amor ao presidente Lula - avaliou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

- Como construir alguma coisa para 2010 se Ciro é o maior crítico do governo Fernando Henrique e Aécio foi líder do PSDB no governo? Aécio está na oposição e o Ciro na base do governo. Será que o PSB apoiará Aécio? E se o Ciro for candidato a presidente, será que Aécio apoiaria o candidato do PSB? - diz Arnaldo Madeira (PSDB-SP), ex-líder do governo Fernando Henrique. - Eles estão criando um factóide.

- Esse encontro foi uma provocação - resumiu Gustavo Fruet (PSDB-PR).

Já o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PR), tentou minimizar:

- Aécio tem o apoio do PSB em Minas. Acho natural que, como pré-candidato, procure apoio em todo lugar. E o Ciro está sinalizando que pode votar nele. Não vejo problema.

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