sábado, 28 de novembro de 2009

Brasil se abstém na condenação do Irã

DEU EM O GLOBO

A Agência Internacional de Energia Atômica aprovou, com apoio de 25 dos 35 países votantes, uma condenação ao programa nuclear do Irã, exigindo que o país interrompa a construção de usina nuclear considerada suspeita. Até Rússia e China, aliados do Irã, endossaram o texto; o Brasil se absteve. O embaixador na AIEA, José Guerreiro, justificou: “Ninguém faz concessão sob pressão.”

Irã isolado, mas não pelo Brasil

Agência da ONU censura programa nuclear, faz exigências e remete caso ao Conselho de Segurança

Os representantes dos 35 países da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU se reúnem: forte censura ao Irã


VIENA

OIrã recebeu uma forte censura da imensa maioria da diretoria da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU, que aprovou uma firme resolução de rechaço ao programa nuclear do país. Ao todo, 25 dos 35 países votaram a favor de exigir a interrupção da construção de usinas nucleares suspeitas de produzir armas atômicas, e de mandar o assunto para o Conselho de Segurança da ONU, com o apoio irrestrito de antigos aliados do Irã, como Rússia e China. Um dos poucos países a não aprovar a medida foi o Brasil, que se uniu a países como Venezuela, Cuba e Paquistão.

Na resolução, a AIEA faz um relato das várias violações que o Irã cometeu nos últimos anos em seu programa nuclear, frisando o fato de o país ter, secretamente, iniciado a construção da usina de Forlow, na cidade de Qom, só revelada em setembro. O documento exige a "suspensão imediata" das obras da usina (que estão em fase final); "esclarecimentos em relação ao propósito" dela; e garantias oficiais de que o país não tem outra usina ou material atômico não declarado.

- O fato de que 25 países de todas as partes do mundo votaram a favor (da censura) mostra a necessidade urgente de o Irã atender ao crescente déficit de confiança internacional sobre suas intenções - afirmou o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs. - Se o Irã se recusar, será responsável por seu crescente isolamento e pelas consequências.

O premier britânico, Gordon Brown, afirmou ontem que o Conselho deverá aprovar "sanções mais duras" ao Irã.

Teerã reagiu imediatamente.

- Resoluções da AIEA nem do Conselho de Segurança nem sanções ou ameaças de ataques militares poderão interromper as atividades nucleares pacíficas no Irã, nem por um segundo - disse o representante iraniano na AIEA, Ali Asghar Soltanieh.

Saltou aos olhos o apoio de Rússia e China, países com fortes ligações comerciais e diplomáticas com o Irã. A China não apenas apoiou a resolução como foi responsável por parte de sua redação. Em fevereiro de 2006, a AIEA aprovou sua última resolução contra o Irã, iniciando quatro etapas de sanções da ONU. Naquela vez, China e Rússia não apoiaram a resolução.

Grupo não-alinhado racha ao meio

A aprovação não foi unânime. Três países votaram contra: Venezuela, Cuba e Malásia. O Brasil se uniu a Afeganistão, Egito, Paquistão, África do Sul e Turquia e se absteve. O Azerbaijão faltou à votação.

O governo brasileiro, que recebeu o presidente Ahmadinejad esta semana, tem apoiado o Irã seguidas vezes. O Brasil reconheceu a eleição presidencial fraudada de junho, e o presidente Lula chegou a comparar a repressão à população a uma briga de torcidas.

Defendendo a abstenção, o Itamaraty disse que o Brasil defende o direito ao desenvolvimento de tecnologia nuclear civil, mas não seu uso bélico: "Na recente visita do presidente Ahmadinejad, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou esse direito do Irã. Isso não quer dizer que o Brasil apoie países que intentem desenvolver a tecnologia para fins armamentistas."

O Irã costuma receber apoio dos países que pertencem ao Movimento dos Não-Alinhados, mas, desta vez, o grupo rachou na AIEA. Índia, Quênia, Peru, Camarões, Burkina Fasso e Mongólia votaram a favor da resolução. Egito, Paquistão e África do Sul se abstiveram e três votaram contra.

Dois fatores levaram ao resultado. Serviços de inteligência descobriram que o Irã tem um programa de enriquecimento de urânio mais avançado do que afirma, e desenvolve sistemas capazes de lançar bombas nucleares.

O segundo foi a revelação de que o país está construindo a usina de Fordow. Técnicos da AIEA dizem que Fordow é pequena demais para gerar eletricidade, mas pode produzir bombas. E, como está feita, exige a existência de outra usina, que estaria escondida.

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