segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Candidatura própria volta a ser discutida no PMDB

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Raymundo Costa, de Brasília

Perto de ultrapassar a marca simbólica dos 20% nas pesquisas de intenção de voto, a candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) a presidente atravessa uma área de turbulência no PT e no PMDB. Em seu partido, as duas maiores dificuldades dizem respeito aos palanques estaduais de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, o segundo e o terceiro maiores colégios eleitorais do país, respectivamente. Já com o PMDB os problemas são a volta da candidatura própria à agenda do partido e a ofensiva desencadeada pelo PT para responsabilizar o grupo do senador José Sarney no setor elétrico pelo apagão da semana passada.

A ofensiva petista provocou a imediata reação dos homens de Sarney no setor elétrico: se é verdade que "a cabeça" do sistema é pemedebista, os cargos subsequentes foram inteiramente aparelhados pelo PT. Até um irmão do ministro Antonio Palocci foi assimilado pelo esquema (além de Sarney, o deputado Jader Barbalho, do PMDB do Pará, também tem influência no setor elétrico, sobretudo na Eletronorte). Mas o governo agiu rápido e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva tratou de acalmar os ânimos: Sarney é peça vital para os interesses do governo no Senado e para assegurar o apoio do PMDB à candidatura de Dilma.

Um teste para o pré-compromisso firmado pela cúpula do PMDB com o PT será a reunião que o governador do Paraná, Roberto Requião, convocou para o dia 21, em Curitiba. O encontro é para discutir uma proposta do neopemedebista Mangabeira Unger de candidatura própria do PMDB em 2010. Proposta capaz de esquentar a temperatura de qualquer convenção pemedebista, mas que deve dar em nada até pela "falta de um candidato", de acordo com o diagnóstico preciso do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia.

Por enquanto, a seção mais engajada na proposta da candidatura própria é a do Rio Grande do Sul. Mas os gaúchos também devem - na falta de um candidato - refluir e apoiar provavelmente a candidatura do PSDB a presidente da República.

Por mais que o presidente do PMDB, Michel Temer, e auxiliares de Dilma contabilizem a grande maioria do PMDB em favor da ministra, no fundo o PT guarda cautelas em relação à confiança que a cúpula pemedebista exibe quando fala do apoio do partido à ministra. Em 2006, cerca de 15 mil pemedebistas chegaram a se mobilizar numa prévia que elegeu como candidato a presidente o ex-governador do Rio Anthony Garotinho. O tempo de televisão do partido acabou dividido entre as siglas porque o PMDB ficou sem candidato.

Uma conversa entre Temer e Quércia, na semana passada, foi recebida como um mau sinal no PT. Temer disse que fora firmada uma trégua em São Paulo, o que não mudaria o quadro pelo qual ele chegaria à convenção de junho com 15 dos 25 delegados paulistas. Isso em comum acordo com o ex-governador. Quércia disse ao Valor que não há trégua porque não há briga, e que ele realmente indicará Temer como delegado à convenção, "e talvez mais um ou dois deputados".

Recentemente, Quércia levou 62 dos 65 prefeitos paulistas do PMDB para uma reunião com José Serra, governador do Estado. Nas contas do pemedebista e do PSDB não havia nenhum "temista" entre eles.

Em favor de Dilma existe o fato de que a eleição de 2010 não será verticalizada, como a de 2006, o que permitirá ao PMDB se coligar nacionalmente com Dilma sem vestir uma camisa de força para compor suas alianças estaduais. Mas os conflitos com o PT têm sido a marca das discussões, até agora, além do fato de o próprio PT estar em processo interno de mudança de comando, o que em nada ajuda as negociações da ministra da Casa Civil.

O PT elegerá um novo presidente no dia 22. Será o ex-senador e ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra, um aliado político do governador de Sergipe, Marcelo Déda. O primeiro nordestino a comandar a sigla. Mas sua posse está prevista para fevereiro, e o atual presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), comanda as articulações estaduais e integra o restrito grupo que se reúne semanalmente para analisar a conjuntura política e programar a agenda de candidata da ministra Dilma.

Dutra acredita que o lugar é do PT, segundo confidenciou a amigos petistas. Mas nem Berzoini parece disposto a deixar o grupo nem interlocutores de Dilma apostam na mudança. Favorece Dutra o PT de São Paulo querer a substituição, pois a integração do sergipano daria um caráter institucional ao grupo, o que não ocorre no momento - Berzoini, para todos os efeitos, participa como deputado federal. Dutra não tem mandato legislativo.

Nos últimos dias voltou à pauta do PT a antecipação da posse do presidente a ser eleito no dia 22. Berzoini quer manter o calendário original, que prevê posse em 20 de fevereiro de 2010, mas pode ser forçado a mudar de ideia: está em curso uma articulação para que os presidentes dos diretórios regionais renunciem a seus cargos para permitir que os novos dirigentes sejam logo empossados. O movimento seria comandado por Olívio Dutra, no Rio Grande do Sul, e contaria com o apoio da seção paulista do PT.

Berzoini também perdeu apoio no PT por decisões equivocadas, como tomar partido em disputas regionais. Em Minas, por exemplo, ficou ao lado do ministro Patrus Ananias contra o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel. Os dois disputam a hegemonia do partido no Estado e é dado como certo que a eleição dos novos dirigentes não encerra o embate - Ananias, se perder o Processo de Eleição Direta (PED) deve pedir prévia para a escolha do candidato do PT ao governo.

Minas é um dos Estados que a direção do PMDB considera prioritários para assegurar a aliança com o PT. Se a decisão fosse tomada hoje, é certo que o PT teria um candidato próprio ao governo estadual, provavelmente Pimentel. E o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), o campeão das pesquisas para o governo estadual, só teria chances numa composição para o Senado. No Rio o PED pode abrir ou fechar a porta da candidatura Lindberg Farias contra Sérgio Cabral (PMDB).

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