sábado, 7 de novembro de 2009

Cristina defende protestos que atrasaram jornais

DEU EM O GLOBO

Críticas do governo Kirchner à imprensa argentina roubam a cena em assembleia da SIP

Janaína Figueiredo, Correspondente

BUENOS AIRES. No mesmo dia em que foi inaugurada a 65aAssembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), em Buenos Aires, um novo ataque da presidente argentina, Cristina Kirchner, aos meios de comunicação de seu país foi manchete dos principais jornais locais. Numa semana em que a capital argentina e a província de Buenos Aires foram cenário de vários protestos, Cristina expressou seu apoio aos manifestantes e questionou a imprensa. Organizados por sindicatos e movimentos sociais, os protestos haviam bloqueado a principal avenida do centro, a Rodovia Panamericana, a entrada das empresas que distribuem os jornais “La Nación”, Clarín” e a revista “Notícias”, e paralisado todas as linhas de metrô da capital.

“A presidente respaldou os piqueteiros e criticou a imprensa”, noticiou ontem o jornal “La Nación”, que costuma ser alvo dos Kirchner. Na véspera, Cristina afirmara que “algumas pessoas gostam de mostrar os pobres quando estão sozinhos, abandonados e chorando, para demonstrar que existe pobreza.

Mas quando esses pobres, esses negros geram organização popular, trabalho e dignidade, aí já começam a incomodar”.

— O paradoxo de tudo isso é que as políticas que geraram esses pobres que os canais de TV mostram de forma quase obscena foram defendidas por esses mesmos meios de comunicação — disparou ela.

Presidente limita pontos de venda de jornais O conflito entre a Casa Rosada e a imprensa argentina, um dos assuntos que já começaram a ser debatidos na assembleia da SIP, foi aprofundado pela decisão do governo Kirchner de modificar, por decreto, as regras de funcionamento do mercado de distribuição dos jornais.

Quinta-feira, Cristina assinou um decreto proibindo a venda de jornais em supermercados e postos de gasolina, entre outros comércios, concedendo o controle do mercado aos vendedores de jornais. A medida foi considerada parte da ofensiva do casal Kirchner contra meios de comunicação privados, entre eles o grupo Clarín, um dos mais afetados pela Lei sobre Serviços Audiovisuais, aprovada recentemente pelo Congresso.

Com esse pano de fundo, editores e jornalistas de todos os países do continente começaram a discutir e analisar a situação dos meios de comunicação na região. Ontem, o caso argentino roubou a cena.

— A presidente se irritou pelo fato de a imprensa ter mostrado o que não podia ter sido escondido (os protestos nas ruas) — comentou a jornalista Magdalena Ruíz Guiñazú.

Segundo Magdalena, o jornalismo de seu país está diante de uma encruzilhada”.

— A presidente é advogada e considera o jornalismo culpado por mostrar o que ninguém pode esconder — disse Magdalena, que coordenou a palestra sobre “Luzes e sombras do bicentenário na América Latina”.

Na visão do jornalista Rodolfo Terragno, senador da União Cívica Radical, também no evento, “cada atentado, cada lei, cada crítica (dos governos contra a imprensa) deve acender uma luz vermelha” entre os jornalistas.

Para Terragno, os Estados não estão preparados para conviver com as novas tecnologias: — É cada vez mais difícil controlar os meios de comunicação, como faziam as ditaduras

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