sábado, 7 de novembro de 2009

Críticas de Caetano a Lula dividem artistas

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Para alguns ele foi grosseiro e incoerente, mas há quem seja solidário às declarações e diga que o cantor conhece o "peso das palavras" como poucos

Atacado por líderes do PT por ter qualificado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como "analfabeto", o cantor Caetano Veloso recebeu, na classe artística, manifestações de solidariedade e de crítica.

"Por que nada de Lula pode ser criticado?", questionou Nelson Motta, produtor musical, escritor e colunista do Estado. "Achei realmente deselegante, para dizer o mínimo, o fato de o cantor ter chamado o presidente Lula de analfabeto, coisa que ele não é", afirmou o escritor Ricardo Lísias.
"O leão está banguela, rugindo lugares comuns", opinou o ator Pascoal da Conceição.

Para a documentarista e ensaísta Miriam Chnaiderman, não se deve interpretar as declarações como uma "análise política" sobre o Brasil. "Caetano, como sempre, não está minimamente preocupado em ser coerente. E é essa sua riqueza como criador maravilhoso que é."

Já o maestro Jamil Maluf não vê incoerência na manifestação. "Caetano conhece o peso das palavras como poucos. Se disse o que disse é por que realmente pensa o que pensa."

OPÇÃO

Caetano se referiu a Lula como "analfabeto" em entrevista à jornalista Sonia Racy, do Estado. Ele também anunciou sua opção pela candidatura de Marina Silva à Presidência, em 2010. "Não posso deixar de votar nela", disse o cantor. "Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é uma cabocla. É inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro."

"É no mínimo estranho alguém que diz isso depois dizer que Lula é grosseiro. Ele (Caetano) é que foi grosseiro", disse Ricardo Lísias.

"Não vejo motivo para tanto estupor por dizer que Lula, apesar de fazer ótima administração, principalmente econômica, muitas vezes é grosseiro, arrogante, bravateiro e mal-educado em seus discursos. Não tira nenhum de seus méritos políticos e administrativas. É algo que o próprio Lula não deve ignorar nem negar. Não é crime nem pecado mortal, é só uma questão de estilo, afirmou Nelson Motta.

MARINA

Sobre a entrada de Marina Silva na corrida presidencial, Motta negou que pretenda votar nela, apesar de ter simpatia pela senadora acreana. "Concordo com Caetano quanto à educação, serenidade e elegância da Marina, mas ser Lula mais Obama... É uma certa empolgação do Caetano."

"A defesa que Caetano faz da candidatura de Marina Silva reflete um desejo messiânico", disse Ivam Cabral, ator e diretor teatral. "O Brasil não precisa de outros profetas. Caetano ignora aspectos importantes da personalidade dela. Sua religiosidade fervorosa e radical pode trazer atrasos significativos em relação a temas como engenharia genética, pesquisa de embriões, direitos de homossexuais, etc."

Além de sair em defesa de Lula, Ricardo Lísias criticou seu antecessor na Presidência, Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). "Não concordo que ter FHC e depois Lula é algo bom. Eu acho FHC uma figura ornamental, um sujeito que se orgulha de falar inglês e francês, de ter doutorado, de ser professor da USP e que simplesmente fez um governo que só favoreceu a classe economicamente dominante. Tenho extrema antipatia por essa oligarquia de doutorado, que acha que sabe falar, o pessoal fino de Higienópolis."

Marina Silva não quis se manifestar sobre as declarações do cantor a respeito do presidente.

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