terça-feira, 3 de novembro de 2009

Governistas formam comissão de campanha

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Paulo de Tarso Lyra e Raymundo Costa, de Brasília

O PMDB governista formou uma supercomissão, integrada pelos pesos-pesados do partido que firmaram o pré-compromisso de apoio à candidatura da ministra Dilma Rousseff a presidente. O grupo começa a discutir com o PT as alianças estaduais, o programa da candidata e a participação da legenda no futuro governo, se a aliança sair vitoriosa da eleição de 2010.

A reunião, agendada para amanhã, é o primeiro passo para formalizar a aliança política entre PMDB e PT. Respaldados pelo peso institucional e pela popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o grupo governista sente-se mais confiante para isolar os pemedebistas que defendem o apoio à candidatura presidencial do governador de São Paulo, José Serra (PSDB).

O desafio à vista é a disputa pelo controle do diretório do PMDB de São Paulo, comandado há décadas pelo ex-governador Orestes Quércia. Com o apoio de Lula, o presidente da Câmara, Michel Temer, promete desta vez enfrentar seu "criador" na política paulista. O tamanho do desafio pode ser medido pela demonstração de força dada por Quércia na semana passada: o ex-governador levou 62 dos 65 prefeitos filiados ao PMDB para uma reunião com Serra no Palácio dos Bandeirantes.

Principal nome dos governistas para compor a chapa ao lado de Dilma, Temer também prometeu ao presidente Lula levar 60% dos delegados de São Paulo a apoiar a aliança com o PT na convenção partidária marcada para junho de 2010.

Mesmo no Rio Grande do Sul, onde a rivalidade política das duas legendas é histórica, há chances, remotas, de uma aproximação. O PT lançou o nome de Tarso Genro para o governo estadual. O ministro da Justiça de Lula articula uma aliança com o PMDB por meio do ex-governador Germano Rigotto (PMDB).

A avaliação corrente no grupo que assessora Dilma é que a provável candidatura de Serra sofrerá com o desgaste do governo de Yeda Crusius, que em algumas pesquisas aparece com uma reprovação recorde de 74%. É a pior avaliação entre todos os governadores. O principal adversário desta tese é o deputado Eliseu Padilha que, a exemplo de Quércia, controla com mão de ferro o PMDB gaúcho. Ex-ministro tucano, Padilha tende a apoiar Serra em 2010.

Compõem o estado-maior pemedebista, além de Michel Temer, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima; o ministro das Comunicações, Hélio Costa; os deputados Eunício Oliveira (CE), Jader Barbalho (PA), e Henrique Eduardo Alves (RN, líder do partido na Câmara); além dos senadores Romero Jucá (RR, líder do governo) e Renan Calheiros (AL, líder do partido).

A formação do grupo faz parte da estratégia do governo de sedimentar a força de um bloco institucional no PMDB, a partir de Estados do centro-sul, mais fortes economicamente, como Rio, São Paulo e Minas. Em contrapartida, o PMDB retribui dando provas de que busca um entendimento mais amplo, o que se evidencia na própria indicação dos nomes para a supercomissão. Pelo menos três deles - Hélio Costa (MG), Geddel Vieira Lima (BA) e Jader Barbalho - são de Estados nos quais a aliança política está emperrada.

O caso do Pará é o que está mais bem encaminhado. Jader deve aceitar concorrer ao Senado, ao lado do petista Paulo Rocha, apoiando a reeleição da atual governadora, Ana Júlia Carepa (PT). Em troca, quer indicar o vice na chapa e recuperar os espaços políticos que tinha na gestão estadual. A alternativa é vantajosa para Ana Júlia que, além de mal avaliada perante a opinião pública, não controla o PT local, o que a torna ainda mais fraca politicamente.

Na Bahia, uma aproximação entre Geddel e o governador Jaques Wagner (PT) parece quase impossível, o que resulta em dois palanques para Dilma. O PT acha que Geddel errou ao romper com Wagner. O pemedebista reclama que o rompimento começou na disputa pela Prefeitura de Salvador, quando os petistas lançaram o nome de Walter Pinheiro contra João Henrique (PMDB), que acabou reeleito.

O governador diz que aceita uma reconciliação, desde que o gesto venha de Geddel. O ministro considera o recuo uma humilhação. Emissários políticos minimizam os prejuízos, afirmando que "não seria humilhante se a reaproximação fosse em atendimento a um pedido presidencial", que ainda não foi feito.

Minas é outro Estado onde Dilma deve ter dois palanques. O embate começa dentro do próprio PT, porque o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel querem concorrer ao governo. A segunda etapa do processo seria a disputa contra Hélio Costa, que tem bom recall entre os eleitores, lidera as pesquisas até o momento mas não controla o PMDB mineiro.

A situação pode se alterar com as decisões do governador, Aécio Neves (PSDB). Ele já anunciou que lançará o seu vice-governador, Antonio Anastasia, ao governo mineiro. Se Aécio concorrer ao Senado, em vez disputar a Presidência, tem eleição garantida, deixando apenas uma vaga em aberto para o Senado.

No Rio, o Planalto acredita que não há problemas no apoio à reeleição do governador Sérgio Cabral. Os outros palanques para Dilma no Estado seriam os de Anthony Garotinho (PR) e Marcelo Crivella (PRB). O prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), na expectativa do governo, poderá enfrentar Benedita da Silva - que tem maioria no diretório fluminense - em uma disputa à candidatura petista ao Senado. Lindberg contaria com a simpatia de Lula, que o estimulou a concorrer à Prefeitura de Nova Iguaçu em 2004. Outra alternativa seria Lindberg ser indicado a vice de Cabral pelo PT.

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