quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Grupos minoritários denunciam abuso de poder econômico em eleição no PT

DEU EM O GLOBO

Suspeita é que chapa de Dutra tenha pago anuidade para militantes votarem

Gerson Camarotti e Maria Lima

BRASÍLIA. Na reta final das eleições diretas para o comando nacional do PT e os diretórios estaduais, o PED (Processo de Eleição Direta), as tendências minoritárias do partido passaram a levantar suspeitas sobre o abuso do poder econômico da tendência Construindo Novo Brasil (CNB), antigo Campo Majoritário, a chapa favorita para vencer a disputa neste domingo.

Nos bastidores, integrantes de outras tendências dizem que o CNB estaria pagando a taxa de habilitação de filiados para ter o maior número possível de militantes votando no domingo.

A estratégia do CNB é elevar o número de eleitores aptos a votar no PED ao patamar de 400 mil militantes. Na última eleição, em 2007, votaram cerca de 330 mil militantes. O PT tem 1,3 milhão de filiados. E, de quebra, aumentar o caixa do partido com as taxas de habilitação de eleitores. Segundo os próprios petistas, o aumento no número de militantes aptos deve favorecer a vitória em primeiro turno do candidato do CNB, o ex-senador José Eduardo Dutra, e expresidente da Petrobras.

Preocupado com as distorções da eleição interna, o deputado Geraldo Magela (DF), candidato da tendência Movimento PT, defendeu ontem o fim da obrigatoriedade do pagamento da anuidade como condição para os militantes votarem. E demonstrou contrariedade com a possibilidade de vitória de Dutra no primeiro turno.

—Tem duas coisas que podem garantir a vitória do Dutra: o inchaço de eleitores aptos para votar e a taxa de R$ 15. Vou propor acabar com a taxa do voto.

Isso virou um negócio esdrúxulo.

Tem militante que fica afastado da vida do partido e acaba votando com o pagamento de R$ 15. Isso é uma distorção. O PED deveria ser um meio democrático — atacou Magela.

Arrecadação do PED deve chegar a R$ 6 milhões Segundo as regras, o militante, para votar no PED, tem que pagar a anuidade, que subiu este ano de R$ 5 para R$ 15. Com o aumento, a arrecadação do PED, só com anuidades, deve ir de R$ 2 milhões para R$ 6 milhões, caso se confirme a previsão de 400 mil militantes credenciados.

De forma discreta, as tendências minoritárias comparam a mobilização feita pelo antigo Campo Majoritário à prática de compra de votos nas eleições.

Outro candidato à presidência do PT, o deputado José Eduardo Cardozo (SP), da tendência Mensagem ao Partido, reforça as suspeitas: — Essa eleição é positiva quando ocorre dentro dos parâmetros.

Quando há violação da regra, passa a existir o conflito, a briga. Isso pode prejudicar a unidade do partido.

O candidato do CNB, José Eduardo Dutra, rebate: — Não é uma taxa para votar.

Só quem está reclamando é o Magela. Participei de nove debates e ninguém reclamou. Sobre esse negócio de compra de votos, quem está falando isso tem que dar nome aos bois, dizer que entidade tal está patrocinando os pagamentos para beneficiar tal chapa. Não dá para ficar levantando aleivosias.

A deputada Iriny Lopes (ES), candidata pela tendência Articulação de Esquerda, diz que a anuidade tem que ser paga pelo militante, não por grupos: — Se tiver alguma corrente que esteja pagando essa taxa, isso tem que ser denunciado

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