domingo, 29 de novembro de 2009

Jarbas Vasconcelos: Serra está certo ao não admitir candidatura já

DEU EM O GLOBO
ENTREVISTA


Senador dissidente do PMDB admite que oposição está perdida diante da alta popularidade do presidente Lula

Diferentemente da maior parte dos tucanos e seus aliados, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) diz que o governador José Serra (SP) está certo ao postergar o anúncio da candidatura a presidente da República pelo PSDB, porque evita cair no que chama de armadilha do Planalto para leválo a bater boca com o presidente Lula — e não com a candidata do PT, ministra Dilma Rousseff. Em jantar com Serra, Jarbas teve a confirmação de que ele não só é candidatíssimo à sucessão como está montando palanques regionais. Em entrevista em seu gabinete, disse que Serra é o mais qualificado para presidir o país, que Lula é responsável por um período de “profunda mediocridade” e que não é simples transferir voto.


Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

O GLOBO: A oposição parece perdida diante da alta popularidade do presidente Lula...

JARBAS VASCONCELOS: Concordo. Esta constatação não é de agora. Estou completando três anos de mandato e o que encontrei no Senado foi perplexidade, desorganização, ausência total de articulação. Na única vez que partidos de oposição e dissidentes da base governista se uniram, conseguimos derrubar a CPMF.

Como superar esta desarticulação?

JARBAS: O país está passando por um período de profunda mediocridade. O presidente é muito responsável por isso, na proporção que tece loas ao fato de ser quase analfabeto, não ter instrução e ter vindo de baixo. O nível de debate, não só no Congresso como no Brasil e na intelectualidade, é de uma pobreza franciscana. As pessoas alcançam formação pelo berço ou pela escola. Evidentemente, Lula não teve no berço e não teve na escola. O berço independeu dele. A escola foi porque não quis. Formação é importante para qualquer coisa, não só para ser presidente da República. Ele governa de forma autoritária.

É este o problema?

JARBAS: Ele resolve as coisas no Congresso pelo fisiologismo ou jogando o prestígio dele. O grande mérito do Lula foi, ao assumir, há sete anos, não ter feito loucuras, aventuras com o país. Manteve a política econômica de Fernando Henrique Cardoso. Foi importante porque o país tinha medo de Lula, do PT. Lula imprimiu, a partir daí, a frase “nunca antes na história do Brasil” e grande parte da população acha que foi ele quem acabou com a inflação, controlou contas públicas e colocou o Brasil no rol do primeiro mundo. O PT e Lula votaram contra o Plano Real, o Proer e a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Ele se apropriou das conquistas do governo passado?

JARBAS: Quando diz nunca antes no Brasil, a sensação para o pobre é que foi ele quem criou o real, acabou com a inflação, estabilizou a moeda. Mas não custaria nada, e não peço nem que faça penitência admitindo que ficou contra tudo isso, admitir que o país estava ajustado.

lApesar dos tropeços do governo, nada parece colar nele...

JARBAS: Só não cola se deixarmos de dizer. Se uma parcela, mesmo minoritária ou insignificante, diz, esta parcela tende a crescer, aumentar. O pior é se omitir. Como na campanha presidencial passada, quando as forças de oposição e o próprio candidato se omitiram de enfrentar e debater o processo de privatização do governo Fernando Henrique.

Na sua opinião, qual a melhor opção para a oposição?

JARBAS: O político brasileiro mais qualificado para presidir o país chama-se José Serra.
Mas ele resiste em assumir a candidatura antes de março.

JARBAS: Concordo com a estratégia de Serra. Sei que tem levado a uma ansiedade muito grande. Mas, oficializando a candidatura, vai bater boca com Lula. Vão querer transferir para Serra uma coisa que a oposição não está fazendo: combater Lula. Serra não tem que bater boca com Lula. Tem que bater boca com Dilma , que não está preparada e esconde por trás da arrogância sua falta de conhecimento e de experiência política.

A queda de Serra nas últimas pesquisas não preocupa?

JARBAS: Uma pesquisa não pode incomodar uma pessoa que é a mais qualificada para governar o país. Por que Serra tinha patamares altos? Não havia outros candidatos. Na proporção que apareceram Marina Silva, Ciro Gomes e Dilma se consolidaram, é natural que Serra saia de 40% para pouco acima de 30%.

Mas a candidata do PT está crescendo e tem como cabo eleitoral alguém com 80% de popularidade.

JARBAS: A questão é saber se Lula transfere votos e em que proporção. A primeira, não contesto , transfere. Mas transferência está cada vez difícil. O grosso do eleitorado de Lula está no Nordeste, mas Dilma perde para Serra em Pernambuco. Há um ano, ( Lula) não transferiu o suficiente para que Marta Suplicy ganhasse a prefeitura de São Paulo. O outro candidato não era nenhum fenômeno, o Kassab (Gilberto, do DEM). Foi com uma candidata experiente, ex-prefeita e ex-ministra. Experiência que Dilma nunca teve. Lula foi para São Paulo, botou a cara, foi para o vídeo, fez carreata, comício e Marta foi derrotada.

Enquanto Serra resiste em assumir a candidatura, o governador Aécio Neves (MG) tenta a vaga de candidato do PSDB.

JARBAS : A notícia que tenho é que não existe problema entre Serra e Aécio.

O senhor acredita numa chapa purosangue do PSDB?

JARBAS: Não adianta falar disso agora. Pode ter chapa puro-sangue , mas lá para frente.

Seria a forma de conquistar o eleitorado mineiro?

JARBAS: Aécio fazendo força é uma coisa. Aécio dizendo apenas que Serra é candidato, é outra. É preciso analisar que Aécio está deixando o governo e que o vice dele (Antonio Anastasia) não terá eleição fácil pela frente. E como será? Ele sendo candidato só ao Senado vai ser suficiente para eleger o Anastasia?

Vê a hipótese de Serra recuar e a oposição ficar sem candidato? Aécio disse que fica à disposição até o fim do ano.

JARBAS: Não. Ele é candidatíssimo. Segundo ele, está acertado com Aécio. Existem atritos de periferia dos dois entornos, mas não entre eles. Jantei com ele esta semana (segunda-feira). Está muito tranquilo, seguro.

Quando assumirá isso publicamente?

JARBAS: O que Serra puder protelar, empurrar para frente, ele vai. Não sei se até o final de janeiro ou fevereiro.

Como enfrentar uma campanha na qual a oposição identificou uso da máquina e que promete ser das mais caras?

JARBAS: Dá para enfrentar e ganhar. Não estou dizendo que temos superestrutura. Ao contrário. A gente tem o principal, o candidato. O governo tem candidato fraco. Lula levou o país a um falso ufanismo, fazendo as pessoas acreditarem que ele resolveu tudo. Na proporção em que o país toma conhecimento de que não foi bem assim, de que Lula não é candidato, não fica tão difícil. Lula bateu um patamar de 80% e acha que pode tudo. Mas tudo termina. A ditadura acabou. A questão não é só paciência, mas enfrentamento. Saber como enfrentar.

Não ter candidato definido não dificulta alianças regionais?

JARBAS: Serra está atento a isso. Pediu para eu ser candidato em Pernambuco, estado estratégico para a oposição. Disse que não estava no projeto, mas não descarto, porque vejo em primeiro lugar o projeto nacional.

Existe alguma chance de o PMDB não ir com Dilma?

JARBAS: São remotas, mas vejo chance de isso acontecer. O PMDB tem três blocos: um com Lula, outro, minoritário, com o PSDB, e agora um terceiro defendendo candidatura própria. Se a coisa pegar fogo em alguns estados, complica a coisa da aliança nas convenções em junho.

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