quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Mantega: dólar ideal para o Brasil seria de R$ 2,60

DEU EM O GLOBO

A uma plateia de industriais, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, surpreendeu e disse que, se o dólar estivesse a R$ 2,60 - apontada como taxa de equilíbrio pelo banco americano Goldman Sachs -, "venceríamos todos". Nessas condições, disse, a indústria nacional poderia enfrentar a concorrência de produtos chineses e coreanos. "A indústria brasileira tem muita competência, capacidade. Mas nós temos uma desvantagem cambial", resumiu, em atitude inédita para uma autoridade econômica. O dólar fechou a R$ 1,717. Para chegar a R$ 2,60, seria preciso uma maxidesvalorização de 34%.

"Venceríamos todos" com dólar alto

CÂMBIO EM XEQUE

Guido Mantega diz que moeda americana a R$2,60 tornaria o Brasil imbatível

Martha Beck e Geralda Doca

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem a uma plateia de empresários que se o Brasil tivesse um câmbio de R$2,60 - apontado como taxa de equilíbrio para o país pelo banco Goldman Sachs -, "venceríamos todos". Ou seja, a indústria nacional seria mais competitiva e teria condições de bater a concorrência dos produtos importados, com ganhos para o Estado e a sociedade. Ontem, o dólar fechou a R$1,717. Se a taxa de equilíbrio do Goldman Sachs - banco que em 2002 criou o "lulômetro" para avaliar o risco da vitória do presidente Lula sobre o câmbio - fosse alcançada, algo inimaginável pelos principais analistas no país, o dólar teria que sofrer uma alta de 51,4%. E o real, em contrapartida, uma maxidesvalorização de 34%.

A taxa de equilíbrio é a cotação do dólar boa para as exportações e contas externas sem ser prejudicial ao custo da dívida, à importação e ao mercado de capitais. Ou seja, aquela que não gera bolhas e afeta o crescimento no médio e longo prazos. Ressaltando que o governo brasileiro não trabalha com este número ou uma outra meta, Mantega disse no 4º Encontro Nacional da Indústria (Enai) que vai trabalhar para que as empresas brasileiras não sejam prejudicadas pelo quadro atual e se comprometeu com novas medidas para elevar a competitividade.

- Com um câmbio a R$2,60, venceríamos todos. Venceríamos os chineses, a indústria coreana. Temos ciência de que o câmbio é fundamental, e vamos trabalhar essas frentes - disse Mantega, sendo aplaudido. - Não vamos deixar que a indústria seja vencida por uma concorrência desleal. Ela será um dos protagonistas do crescimento nos próximos sete anos. Vamos tomar medidas para estimular a competitividade das exportações. A indústria brasileira tem muita competência, capacidade. Mas nós temos uma desvantagem cambial.

Na semana retrasada, em conversa com jornalistas em Nova York, o secretário de Política Econômica da Fazenda, Nelson Barbosa, disse que, em seus cálculos, a taxa de equilíbrio seria R$2,10. O governo considera distorcido o atual patamar do câmbio e acredita que ele é prejudicial ao crescimento. Para conter a valorização excessiva do real frente ao dólar, várias medidas vêm sendo estudadas. Uma já foi tomada: a cobrança de IOF, a uma alíquota de 2%, sobre os investimentos financeiros de estrangeiros.

Os empresários presentes ao Enai, por sua vez, pediram desonerações tributárias e uma ação mais direta sobre o câmbio.

- A indústria brasileira não pode ser desmontada por causa de fatores conjunturais - disse o presidente da CNI, Armando Monteiro.

Mantega não revelou que ações serão adotadas. Mas, segundo técnicos da área econômica, já está decidido prorrogar a linha do BNDES com juros reduzidos para compra e produção de máquinas. Esse incentivo permite a contratação de empréstimos de R$42 bilhões até o fim do ano. Como até agora só foram contratados R$15 bilhões, o governo vai prorrogar a linha para 2010.

Frase de ministro influencia dólar

Também está na mesa de Mantega a redução do prazo de aproveitamento de créditos de PIS/Cofins na compra de matérias-primas para empresas exportadoras. Esse prazo poderia cair para zero, o que daria mais capital de giro às empresas. Mas, essa ação tem custo de R$4 bilhões para os cofres públicos e, por isso, é pouco provável que saia do papel no curto prazo.

Mantega disse que a economia brasileira pode crescer entre 6% e 6,5% de 2010 a 2016. Segundo ele, o país já retomou seu ciclo de crescimento e o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) crescerá 5% em 2010, com alta de 13% a 15% da taxa de investimento. Ele disse que, no terceiro trimestre, a economia cresceu 10% num ritmo anual. Segundo o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, que participou do Enai, a economia cresceu 2% no terceiro trimestre de 2009 em relação ao segundo trimestre do ano.

Logo após as declarações de Mantega sobre a moeda americana a R$2,60, o dólar comercial acelerou o movimento de alta, subindo 0,87%, a R$1,725 e acabou fechando com alta de 0,41%, a R$1,717. O otimismo com a recuperação da economia brasileira e a alta das ações da Petrobras (2,73%) levaram o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) a fechar em alta de 1,17%, a 67.406 pontos, maior nível desde 17 de junho de 2008.

Colaborou Mariana Schreiber

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