quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Micheletti anuncia saída para viabilizar eleição

DEU EM O GLOBO

Brasil protesta, mas já aceita votações em Honduras sem restituição de Zelaya, dizem diplomatas

Seguidores de Micheletti protestam contra posição do Brasil na crise

Flávio Freire* e Gilberto Scofield**

TEGUCIGALPA e WASHINGTON. O presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, prometeu que se afastaria temporariamente do cargo até meia-noite de ontem (4h, em Brasília) para a realização das eleições presidenciais marcadas para domingo. O governo de Honduras, segundo um acordo aceito por Micheletti para viabilizar um processo eleitoral pacífico, ficaria a cargo de um conselho de ministros até o dia 2 de dezembro.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem que a realização das eleições sem a restituição do presidente deposto, Manuel Zelaya, não é a melhor solução para a crise política no país.

- Todos os países da América Latina e do Caribe já declararam que não reconhecerão o novo governo. Eu não sei, no futuro, o que vai acontecer com os outros países, mas o Brasil continuará firme nessa posição - ressaltou.

Apesar de considerar um "fato consumado" que as eleições irão ocorrer sem a restituição de Zelaya, o Itamaraty mantém a postura de não reconhecer a legitimidade das eleições realizadas sob o comando do governo Micheletti por princípio e cautela. O país pode rever seu apoio se os resultados forem positivos, mas não poderá recuar se as eleições fracassarem.

Amorim confirmou também que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu uma carta do presidente dos EUA, Barack Obama, manifestando um ponto de vista diferente em relação a crise hondurenha. Mas disse que o documento não pode ser considerado uma prova de que o relacionamento entre Brasil e EUA esteja vivendo momentos de tensão. Ou que eles tenham se agravado após Lula ter recebido a visita oficial do presidente Irã, Mahmoud Ahmadinejad

- O presidente Lula deverá responder a carta da forma adequada mostrando seu ponto de vista - disse Amorim.

Na carta, Obama pediu a cooperação do Brasil para o impasse institucional em Honduras explicando que nunca foi intenção dos americanos usar as eleições como uma espécie de justificativa para que se esqueça de que houve um golpe de Estado no país. E frisou - como também ficou claro no discurso do secretário-adjunto de Estado para o Continente Americano, Arturo Valenzuela, na segunda-feira - que a volta de Honduras à OEA está condicionada ao cumprimento do acordo de Tegucigalpa-San José.

Micheletti diz que seria alvo de atentado no domingo

Segundo diplomatas americanos e brasileiros, a carta enviada no domingo, somada ao discurso de Valenzuela na OEA na segunda-feira, convenceram o governo brasileiro a aceitar a realização das eleições em Honduras sem a volta de Zelaya.

Dentro do Departamento de Estado dos EUA, há uma noção de que o acordo Tegucigalpa-San José é um caminho do meio para a normalidade democrática em Honduras num debate polarizado: de um lado, o bloco de países que acham que somente a volta imediata de Zelaya ao poder pode ajudar a legitimar as eleições (Brasil incluído), do outro, o governo interino e seus apoiadores republicanos no Congresso dos EUA, para quem as eleições têm o poder de redimir o golpe.

Numa mostra da tensão no país, Micheletti anunciou ontem ter sido informado pela polícia de que armas apreendidas na véspera por agentes seriam usadas num atentado contra ele no domingo. Dois nicaraguenses e dois hondurenhos foram presos por ocultar o arsenal: fuzis de mira telescópica, munição para AK-47 e rádios. De madrugada, uma bomba foi lançada contra o prédio do Corte de Justiça. E o canal 36, ligado à resistência, estava fora do ar desde a manhã.

Ontem, representantes da Camacol, que reúne câmaras de comércio de 21 países latino-americanos, expressaram apoio à realização das eleições.

Colaboraram Leila Suwwan, de Brasília, e Luiz Ernesto Magalhães

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