quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Uso político de provas do Enade é criticado

DEU EM O GLOBO

Especialistas criticaram as questões do Enade com elogios a ações do governo Lula. "É inaceitável", disse um professor da UFF.


"Questões do Enade são inaceitáveis"

Especialistas criticam perguntas que faziam elogios a ações do governo Lula

PROFESSOR DE Ética, Roberto Romano diz que houve "bajulação"

Maiá Menezes


As questões propostas no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) que faziam elogios a ações do governo Lula foram consideradas inadequadas e ineficazes por estudiosos ouvidos pelo GLOBO. Na avaliação da professora Bertha Valle, da Faculdade de Educação da Uerj, há, na prova, perguntas que não servem para medir os conhecimentos gerais dos universitários.

- Foi uma forma inadequada de elaboração das questões que devem ser de conhecimentos gerais - afirma a educadora, que lembra que as diretrizes da prova foram definidas por uma comissão de sete professores indicados pelo Inep:

- Fica difícil acreditar que não houve intenção de algum membro do governo de enaltecer realizações do Executivo.

O professor Eurico Figueiredo, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirma que as questões revelam uma "privatização de interesses" dos que estão no poder.

- É inaceitável. São tantos os problemas do Brasil, tantas questões, por que vinculações com assuntos ligados ao governo? É inábil, inaceitável, e não é inteligente para o próprio governo - diz o professor, lembrando que, com a popularidade em alta, o presidente Lula não precisaria desse tipo de propaganda.

Professor de Ética e Filosofia da Unicamp, Roberto Romano afirmou que a elaboração da prova revelou abusos.

- Ficou claro o abuso de um instrumento público. Foi uma bajulação e uma quebra da regra pública. Ninguém tem o direito de utilizar um instrumento do Estado para exaltar a opinião do governante. E no Brasil isso é muito comum para fins oligárquicos. Um educador é pago para ensinar e não para exaltar seu superior - disse o professor, referindo-se a uma das questões da prova que citava diretamente o presidente Lula.

A questão aparece na prova de Comunicação Social, aplicada a estudantes universitários de seis carreiras: a prova afirma que Lula foi criticado pela mídia ao dizer que a crise financeira internacional teria o efeito de uma marolinha no Brasil. O enunciado afirma que "agora é a imprensa internacional que lembra e confirma a previsão de Lula".

Ex-presidente do Inep no governo tucano, Maria Helena Guimarães Castro vê um desvio de finalidade na prova. Ela defende que as perguntas deveriam se referir a políticas públicas, e não a projetos específicos.

- Esse tipo de pergunta não mede conhecimento. Apenas se o aluno está acompanhado o que o atual governo está fazendo. Da forma como está, fica algo muito mais publicitário do que qualquer outra coisa.

Ela ressalta ainda que a prova deveria contemplar perguntas de outros governos emblemáticos para o país, como os anos JK:

- As questões devem exigir raciocínio do aluno sobre a solução de problemas do país.

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