domingo, 22 de novembro de 2009

Vinicius Torres Freire:: 2010 e a política "nas bases"

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Militância do PT decaiu, mas governo Lula se aproximou das centenas de milhares de movimentos sociais do país

A análise mais comum do cenário da eleição de 2010 em geral trata de política partidária, do efeito da economia sobre o eleitorado e do impacto de políticas sociais. Nesses três aspectos da conjuntura eleitoral, a situação dos oposicionistas é de ruim a deplorável. O quadro fica ainda pior se considerarmos a nova relação do lulismo-petismo com os movimentos sociais.

Quanto à política, observa-se o encurralamento da omissa oposição devido à popularidade de Lula e à indecisão do único partido viável e alternativo à continuação do governo do PT.

Confinada nesse "córner", a candidatura mais viável do PSDB, a de José Serra, padece ainda de isolamento. Aécio Neves dá sinais de que, não sendo o candidato, confraternizará com o adversário, aderindo ao centrão luliano ou com ele firmando um acordo de convivência pacífica.

Vide as conversas do governador mineiro com Ciro Gomes (PSB) e com facções do PMDB. Serra ainda sofre oposição de aliados, como parte do DEM, de falta de base no Rio e com a ruína tucana no Rio Grande do Sul. Tem crônica dificuldade no Nordeste e pode enfrentar a omissão interessada de Aécio em Minas, para citar problemas mais notórios.

Quanto à economia, 2010 deve ser muito bom. No quadriênio de Lula 2, o país terá vivido os anos de maior incremento das condições de vida em mais de um quarto de século.

Quanto às políticas sociais, a variedade do seu alcance é obscurecida pelo clichê e pelo tamanho do Bolsa Família (11 milhões de famílias, quase 40 milhões de pessoas) e pelos benefícios de até um salário mínimo do INSS, recebidos por 18,5 milhões de pessoas, que tiveram grandes reajustes. Programas de benefícios diretos e politicamente visíveis em agricultura familiar, crianças, mulheres, minorias, saúde familiar, educação etc. atingem dezenas de milhões difíceis de contar. Como proporção do PIB, o gasto social federal foi de 13% em 2002 para 15% em 2008. É um aumento grande.

Mas o governo Lula fez política por baixo também. A militância petista enfraqueceu-se, mas Lula levou para perto do governo os movimentos sociais, como mostra um relato do Ipea (no livro "Brasil em Desenvolvimento", grátis no site do Ipea). Aumentou em um terço o número de conselhos nacionais consultivos de políticas públicas. Por meio deles, incrementou a realização de conferências nacionais de políticas públicas, que tratam de direitos humanos a ambiente, de jovens a mídia etc. Mais de 2 milhões tomaram parte nas conferências, gente integrante das quase 400 mil ONGs do país. Associações das mais diversas, mas muitas "de base", têm assentos nos conselhos nacionais. A Secretaria-Geral da Presidência da República desde 2003 está encarregada de dialogar com tais movimentos sociais -foram 700 encontros só no primeiro ano.


Não há pesquisas para dizer se tais movimentos são "mais petistas". Mas "mais tucanos" é que não são. A maioria das centrais sindicais está com o governo, e a maioria das que não estão é de esquerda e/ou antitucana.

Na reta final da campanha, ou na urna, o eleitor pode ignorar isso tudo e decidir que quer mudança. Sabe-se lá. Mas a oposição não está fazendo coisa alguma para que o eleitor pense em novidades.

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