terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Aceitar pleito no Irã e rejeitar em Honduras é 'dupla moral', diz Árias

Agência Estado

Presidente da Costa Rica elogiou eleições do domingo no país centro-americano.

LISBOA. O presidente da Costa Rica, Oscar Árias, disse nesta segunda-feira que rejeitar as eleições presidenciais em Honduras, feitas neste domingo, e reconhecer as eleições iranianas, realizadas em junho, representa uma "dupla moral".

O governo brasileiro é um dos que não reconhece o pleito hondurenho - dizendo que aceitá-lo seria "legitimar um golpe" - e que reconheceu o resultado das eleições no Irã, criticadas por supostas fraudes.

Árias, Prêmio Nobel da Paz em 1987, disse que as eleições em Honduras podem ser o caminho para a volta da normalidade ao país.

"A história das últimas eleições mostra que em Honduras havia cada vez maior abstenção nas eleições presidenciais. Estas tiveram maior participação e até agora não houve queixas significativas de fraudes", disse ele durante a 19ª Cúpula Ibero-Americana, realizada em Estoril.

"Acho que é uma dupla moral reconhecer as eleições iranianas, que não foram limpas e onde houve uma série de casos, e até um candidato resolveu desistir do segundo turno, e não reconhecer as hondurenhas", afirmou o costa-riquenho.

Árias atuou como mediador nas negociações para o acordo de San José, que tentou resolver a crise política em Honduras.

Divisão

As eleições de Honduras dividem os líderes presentes na cúpula em Portugal entre os que se aproximam da posição americana, de acatar os resultados da eleição, e a posição brasileira, de não reconhecer o pleito.

Os americanos procuram utilizar as eleições em Honduras para considerar a questão resolvida. O Brasil não aceita soluções que não passem pela volta do presidente deposto, Manuel Zelaya, ao poder.

Árias disse que em muitas ditaduras latino-americanas foram os próprios ditadores que organizaram eleições que acabaram com esses regimes. Citou o caso do general João Baptista Figueiredo, que governou o Brasil de 1979 a 1985, do general Augusto Pinochet, do Chile, e de líderes militares da Argentina.

O presidente da Costa Rica disse que esteve com os dois principais candidatos hondurenhos antes das eleições. "Eles foram escolhidos antes do golpe. Perguntei a eles se queriam continuar a campanha e eles disseram que sim."

O pleito deste domingo foi vencido por Porfírio "Pepe" Lobo, candidato conservador e opositor do presidente deposto Manuel Zelaya.

Segundo Árias, foi impossível devolver Zelaya à Presidência. "Fez-se tudo o que podia. É a primeira vez na América Latina que se tenta reverter um golpe de Estado, o que sabíamos que ia ser muito difícil."

Árias disse que, ao aceitar as eleições, pensa no bem-estar do povo hondurenho. "Honduras é um país em que um 20% do orçamento de Estado vem da ajuda internacional e esta foi bloqueada com o golpe. As crianças estão há cinco meses sem aulas", disse.

Crise

A crise política em Honduras teve início em 28 de junho, quando o presidente eleito do país, Manuel Zelaya, foi destituído do cargo pelas Forças Armadas, acusado de violar a Constituição do país, e em seu lugar assumiu um governo interino, liderado pelo antigo presidente do Congresso, Roberto Micheletti.

A deposição foi condenada por diversos países, entre eles o Brasil e os Estados Unidos, além de organizações como a OEA e a União Europeia.

Zelaya voltou clandestinamente a Honduras e se abrigou na embaixada do Brasil, onde está desde o mês de setembro.

Na próxima quarta-feira, como parte de um acordo intermediado pelos Estados Unidos, o Congresso deve votar se Zelaya voltará a ocupar a Presidência até o final de seu mandato em 27 de janeiro.

Micheletti afastou-se do cargo provisoriamente, podendo voltar ao poder dependendo da decisão do Congresso no dia 2.

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