sábado, 19 de dezembro de 2009

Aécio mergulha na campanha em Minas

DEU EM O GLOBO

Governador evita falar sobre 2010. Hoje, ele e o vice, candidato ao Palácio da Liberdade, vão inaugurar obras

Fábio Fabrini


BELO HORIZONTE. O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), manteve ontem campo aberto para especulações sobre seu rumo político. Um dia depois de anunciar que desistiu de disputar a Presidência, manteve silêncio sobre uma eventual candidatura ao Senado, a possibilidade de ser vice na chapa encabeçada por José Serra ou mesmo a retomada do projeto presidencial, em caso de recuo do governador paulista. Por ora, o tucano mergulha em seu estado.

Hoje, inaugura obras pelo interior ao lado do vice, Antônio Augusto Anastasia, pré-candidato ao Palácio da Liberdade.

De manhã, Aécio anunciou a ampliação da fábrica da Helibras em Itajubá (MG), onde serão fabricados, até 2016, 50 helicópteros para as Forças Armadas, ao custo de 1,89 bilhão de euros.

Em breve discurso, limitou-se a dizer que, “fora do estado, só Deus sabe o que o futuro nos reserva”.

À tarde, segundo sua assessoria, recolheu-se ao Palácio das Mangabeiras, residência oficial.

A viagem de hoje é encarada pelos tucanos como uma arrancada do projeto de sucessão em Minas. Eles vão inaugurar estradas no interior do estado.

A estratégia é retomar as agendas pelo interior, que Aécio abandonou em função da disputa interna com Serra, e alavancar o desempenho do pré-candidato tucano em Minas, que está na lanterna nas pesquisas. Os concorrentes da base do presidente Lula aparecem à frente em todas as sondagens.

— O engajamento (de Aécio) é decisivo para a campanha do Anastasia. Ele tem autoridade para pedir ao eleitor um gesto de confiança (no vice) pela continuidade de sua administração — avalia o presidente do PSDB em Minas, deputado federal Nárcio Rodrigues, acrescentando que haverá também um fortalecimento dos candidatos a deputado estado afora.

A investida do governador põe o PT e o PMDB mineiros em situação semelhante a dos tucanos em nível nacional. Enquanto ele fortalece o nome de Anastasia, os dois partidos não se entendem sobre quem lançar ao Palácio da Liberdade, numa eventual aliança. Internamente, os petistas ainda não se decidiram entre o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, e o exprefeito Fernando Pimentel. Já os peemedebistas insistem na candidatura do ministro das Comunicações, Hélio Costa.

Em almoço ontem, os presidentes recém-eleitos das duas legendas deixaram clara a preocupação com a presença de Aécio na pré-campanha.

Mas não chegaram a um termo sobre quem abrirá mão da cabeça de chapa e admitiram que será difícil construir uma aliança para o primeiro turno.

— A saída do governador do cenário nacional consolida a candidatura de Anastasia. Isso requer do PT e do PMDB uma decisão. Se a ministra Dilma tiver dois palanques, a eleição vai para o segundo turno — disse o petista Reginaldo Lopes.

Uma possível candidatura de Aécio ao Senado embolaria mais o jogo eleitoral em Minas. PT e PMDB pretendem eleger dois candidatos, mas dão como certo que uma das duas vagas em disputa é do governador. Além de Pimentel, Patrus e Costa, o vicepresidente José Alencar (PRB) se diz disposto a concorrer, caso seu estado de saúde melhore.

— Há grande dificuldade se o governador for o candidato.

Ele sai na frente, é o candidato com melhores condições de ganhar — reconheceu o peemedebista Antônio Andrade.

Serra esteve em BH, propôs acordo e não teve sucesso Aécio e Serra tiveram, no Palácio das Mangabeiras, uma conversa que definiu os rumos da disputa interna no PSDB, segundo fontes tucanas. O paulista viajou secretamente a Belo Horizonte e, na noite de 2 de dezembro, teria proposto um acordo ao colega, sem sucesso.

Serra teria proposto adiantar a definição da candidatura de março, como vinha defendendo, para fevereiro. O objetivo seria esperar ao menos que o PT lançasse oficialmente a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, evitando desgaste de imagem e um confronto direto com o presidente Lula até lá. Mas Aécio não teria concordado, sob o argumento de que seria tarde para construir alianças e que sua situação no PSDB era desconfortável.

— Era importante que Aécio se antecipasse e tomasse uma decisão, para depois não ficar na condição de candidato preterido.

Ele se preservaria — comenta um deputado tucano, acrescentando que, na falta de consenso, os dois teriam acertado para o encontro regional do partido em Teresina (PI), dia 11, uma conversa sobre como seria o anúncio da desistência.

Quatro dias antes, na convenção do PSDB em Belo Horizonte, Aécio se precipitou e disse a repórteres que, do evento, poderia sair uma definição. Em reação, o paulista teria desistido da viagem, o que levou ao cancelamento do encontro, conforme políticos tucanos.

Anteontem, Aécio comunicou sua desistência na ausência de Serra. Em pronunciamento no Palácio da Liberdade, não o citou, o que constrangeu líderes tucanos

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