quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

'As imagens não falam por si'

DEU EM O GLOBO

Lula diz que é preciso esperar resultado de investigações sobre Arruda e propinas

Deborah Berlinck*, Cristiane Jungblut e Gerson Camarotti ESTORIL (Portugal) e BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que as imagens de gravações mostrando o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), além de assessores e deputados aliados, recebendo maços de dinheiro de um suposto esquema de corrupção investigado pela Polícia Federal “não falam por si”. Lula inicialmente se esquivou de comentar o escândalo já chamado de mensalão do DEM, dizendo que vai esperar o resultado das investigações.

Argumentou que presidente da República “não dá palpite”, apesar das defesas veementes que fez recentemente de aliados como o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), por exemplo.

Quando uma repórter perguntou se as imagens de Arruda e seus assessores recebendo dinheiro não falavam por si, o presidente respondeu: — A imagem não fala por si. O que fala por si é todo o processo de apuração e investigação — disse.

Lula insistiu na necessidade de se esperar o resultado das investigações: — Quando tiver toda a apuração e toda a investigação terminadas, a Polícia Federal vai ter que apresentar um resultado final do processo. Aí anuncia e você pode fazer juízo de valores. Mesmo assim, quem vai fazer juízo de valores final é a Justiça.

O presidente da República não pode ficar dando palpites se é bom ou se é ruim. Vamos aguardar a apuração.

O presidente cobrou do Congresso a votação da reforma política que, segundo ele, poderá evitar que “problemas como este continuem ocorrendo no Brasil ”. Ele lembrou que o governo mandou duas propostas ao Congresso, uma delas sobre financiamento público das campanhas eleitorais. Apesar disso, porém, em seus sete anos de governo, sua base no Congresso jamais trabalhou de fato pela aprovação de uma reforma política.

— Eu espero que o Congresso Nacional tenha maturidade para compreender que grande parte dos problemas que acontecem com dinheiro é a questão da estruturação partidária no Brasil. Vamos mudar urgentemente e fazer uma reforma política. Ela é condição fundamental para que a gente tente evitar que problemas como este continuem ocorrendo no Brasil — disse o presidente.
PT, em tom moderado, diz que não será ‘oportunista’

O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), adotou tom parecido com o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e disse que o partido — arrastado pelo escândalo do mensalão em 2005 — não agirá de forma oportunista em relação às denúncias de práticas semelhantes de corrupção envolvendo o governador José Roberto Arruda (DEM).

Segundo Berzoini, e outros petistas, o PT quer a apuração de todos os fatos e considera a situação de Arruda muito grave, mas, como diziam dos dirigentes petistas e de Lula em 2005, alegam que não se pode generalizar e cobrar que o comando do DEM soubesse de todas as supostas irregularidades de Arruda.

Na verdade, a estratégia do Palácio do Planalto e do PT de evitar agora ataques contundentes ao DEM tem o objetivo de mostrar postura diferente da do então PFL (hoje DEM) em 2005, e, com isso, demonstrar que todos os partidos possuem graves defeitos éticos. E tentam também reduzir o impacto, em 2010, dos efeitos do mensalão do PT, de 2005.

A avaliação política do PT sobre a fala de Lula é que, quanto mais tempo demorar uma solução sobre Arruda no DEM, maior será o prejuízo eleitoral para a oposição. Se o DEM tivesse decidido pela expulsão imediata de Arruda, teria mostrado uma atitude diferente da que teve o PT em 2005.

No Congresso, as declarações de parlamentares e dirigentes petistas oscilam da cautela ao ataque a Arruda, mas todos concordam que o PT local será o beneficiado em 2010.

— O PT tem que ser firme, mas não como agiram alguns opositores do governo federal. O PT não agirá de maneira oportunista. Temos que exigir (a apuração), até porque o Arruda ficou numa situação muito delicada em função das imagens.

Isso não é cautela, é uma postura de serenidade — disse Berzoini, afirmando não ter conversado com Lula. — É muito grave. As imagens de Arruda, mesmo quando não era governador, são incompatíveis com às de um homem público. Ele perde capacidade de se manter no governo.

Mas não achamos correto generalizar.

Que é (um mensalão ) do DEM, está claro.

Mas não pode cobrar do presidente do DEM que ele saiba de tudo o que acontece no DEM.

O lider do PT, deputado Cândid o Vaccarezza (SP), também cauteloso, disse que sempre teve essa posição: — Temos indícios de corrupção de dinheiro público, o que não é comprovação. Assim, não é porque as evidências são marcantes que vamos fazer um discurso político. Não acho que é o DEM (como um todo) que está sendo acusado.

Num tom diferente, o secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Cardozo (SP), pediu a saída imediata de Arruda.

— É um escândalo de grandes proporções.

Embora ele (Arruda) tenha direito a se defender, pela contundência das provas, parece caso de impeachment. Parece evidente que não se tratam de despesas não contabilizadas em ano eleitoral. As provas acerca da autoria dos delitos parecem irrefutáveis — disse Cardozo

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