segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Com quem ficam os eleitores pró-Lula

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
José Roberto de Toledo* e Daniel Bramatti*

Com 72% de aprovação do seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o principal ator de sua sucessão. Para acompanharmos a transformação de sua popularidade em votos para o candidato governista é preciso cruzar a intenção de voto nos presidenciáveis com a avaliação do governo. Até agora, essa transfusão corre a conta-gotas.

Cruzamentos da pesquisa CNI-Ibope obtidos pelo Estado mostram que apenas 21% dos que acham o governo Lula bom ou ótimo têm intenção de votar em Dilma Rousseff (PT). Um porcentual bem maior, 36%, afirma que votaria em José Serra (PSDB) se a eleição fosse hoje. O que faz mais de um terço dos que aprovam o governo pretenderem votar no principal candidato de oposição?

Há três respostas possíveis: 1) Não reconhecem Dilma como candidata de Lula, 2) Não enxergam a eventual eleição de Serra como uma mudança em relação a Lula, 3) Conhecem Dilma, mas não simpatizam com ela. Os cruzamentos da pesquisa CNI-Ibope indicam que as três são verdadeiras.

Dois em cada três eleitores pró-Lula conhecem pouco ou nada a candidata do PT (23%, "um pouco"; 30%, "só de nome"; 10%, nada; 2% não sabem). Mesmo entre os que a reconhecem como candidata do governo, a maior parte (24%) sabe "alguma coisa" sobre ela e seus atos. Só 11% dizem conhecê-la bem. O tempo de TV do PMDB no horário eleitoral, o maior entre todos os partidos, nunca valeu tanto.

Serra é muito mais conhecido pelo eleitorado governista: 30% dizem conhecê-lo bem, e 38% sabem "alguma coisa" sobre ele. No seu caso, isso é positivo. O tucano já tem 36% da intenção de voto entre os pró-Lula e potencial de chegar a 71% nesse segmento (só 29% se recusam a votar nele em qualquer hipótese). Hoje, não é visto pela maioria como uma "ameaça" ao status quo.

Para Dilma ter chances sobre Serra, ela precisará mais do que se tornar conhecida: precisará conquistar corações e mentes. Nada menos do que 35% dos que aprovam o governo Lula dizem que não votariam em Dilma "de jeito nenhum". Uma conta simples mostra que é fundamental para a candidata petista diminuir sua rejeição nesse segmento.

Hoje a ministra perde 25% do total do eleitorado apenas entre os que aprovam o governo. Se somarmos os que acham o governo regular, ruim ou péssimo e antipatizam com ela (15%), Dilma estará deixando de disputar 4 em cada 10 votos possíveis. Algo a que nenhum presidenciável pode se dar ao luxo.

Portanto, a transfusão da popularidade de Lula para Dilma depende de três variáveis: torná-la conhecida como candidata do governo, marcar Serra como o anti-Lula e melhorar a imagem da ministra entre os eleitores. O programa eleitoral do PT veiculado em cadeia de TV esta semana tentou fazer isso.

Ciro Gomes (PSB) é mais conhecido do eleitorado pró-Lula do que Dilma: 44% a 35%. Mesmo assim, tem um porcentual de intenção de voto menor do que o da ministra dentre os que aprovam o governo: 13% a 21%. Em compensação, tem quase o dobro de simpatizantes de Dilma entre os que acham o governo regular: 13% a 7%.

Isso mostra que a candidatura presidencial de Ciro, se não decolar nem naufragar de vez, pode servir aos interesses de Lula e ajudar Dilma: ele tem mais chances do que ela de conquistar votos entre os que desaprovam ou não se entusiasmam com o governo, um eleitorado que, sem ele no páreo, migraria para Serra.

Mas essa é uma estratégia que envolve riscos para Dilma. Se Ciro conseguir recuperar o ímpeto de sua campanha, voltará a disputar eleitores governistas com a ministra. No cenário oposto, de polarização aguda entre Dilma e Serra, os eleitores de Ciro podem antecipar o voto útil ainda no 1º turno e abandoná-lo, muitos deles em direção ao tucano.

Já Marina Silva (PV) permanece uma ilustre desconhecida do eleitor. Tem pouca penetração entre os pró-Lula e alta rejeição entre os opositores. Seu teto é baixo, seu discurso é limitado a um tema que não é telhado de vidro para o governo (ao menos não aos olhos do eleitorado) e seu tempo no horário eleitoral da TV é insuficiente para compensar essas desvantagens.

*José Roberto de Toledo é jornalista especializado em reportagens com uso de estatísticas e coordenador da Abraji

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