domingo, 6 de dezembro de 2009

DEM jovem engrossa ''fora, Arruda''

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Manifestantes do próprio partido e de outras correntes políticas lideram protestos pela derrubada do governador

Eduardo Nunomura

Quando a TV Globo definiu a ocupação da Câmara Legislativa do Distrito Federal como a "justa ira da cidadania", os manifestantes vibraram. Foi uma vitória perante a opinião pública, entenderam. Logo trataram de disparar mensagens pela internet. Era preciso engrossar e organizar o movimento, tentando se livrar das investidas dos partidos e sindicatos. Quanto mais apartidário, melhor. Eles só não imaginavam que, ainda que à distância, jovens democratas empunhassem a mesma bandeira pelo "fora, Arruda".

Num arroubo de autocrítica, militantes dos democratas vêm clamando pela queda de José Roberto Arruda. São jovens que usam a internet, sobretudo o Twitter, para condenar o único governador do partido e cobrar a sua expulsão. Foram eles que criaram no microblog tópicos como #panetonenao, #arrudagate e #DEMsemArruda. Nas frases curtas, as "tuitadas", expressavam a indignação: "Não vamos de panetone", "expulsão mesmo", "ele traiu a confiança de todos" e "a corrupção afasta, desencoraja e enoja".

"Pregamos a ética no mensalão do PT e por isso não podemos concordar com a permanência dele", sentenciou Diego Conti, de 24 anos. Assessor de um vereador do DEM em Suzano, Conti foi um dos que inundaram as caixas postais dos membros de seu partido na reunião de terça-feira. Ele ficou irado com o adiamento da decisão do destino de Arruda até a quinta-feira dia 10. "A Executiva é composta de gente mais velha, de atitudes mais conservadoras. Para melhorar, só uma geração sem cicatrizes e mágoas."

Na reunião da Executiva, o deputado Ronaldo Caiado (GO) e os senadores Agripino Maia (RN) e Demóstenes Torres (GO) recebiam "tuitadas" ensandecidas dos militantes e diziam defender a expulsão. Foram votos vencidos. "É uma postura baseada no estatuto, mas vai ter um peso político, que é a opinião pública se voltando contra nós", analisou o democrata Henrique Sartori, de 29 anos, professor universitário e um ex-cara-pintada que foi às ruas pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, em 1992. "Quando o PFL se propôs a mudar para DEM, quis a renovação e abriu espaço para a juventude. Mas não servimos simplesmente para carregar bandeira ou usar o apito."

Para o sociólogo Brasílio Sallum Jr., da USP, é ótimo que jovens democratas estejam se insurgindo, mais um sinal do descolamento entre partidos e sociedade. "As pessoas não se veem mais representadas pelo sistema político, que está anacrônico e não sobrevive sem a combinação de recursos legais e ilegais", analisou. "Já a sociedade progrediu no sentido de um mínimo de comprometimento e de mais transparência. A corrupção é o oposto disso."

RESISTÊNCIA

Os manifestantes decidiram ontem ignorar a ordem da Justiça de reintegração de posse e permanecer no prédio. Eles criaram uma rádio e um blog para divulgar o movimento, fortemente baseado em assembleias. A internet é a grande aliada. Mas também saíram às ruas para atrair mais pessoas. Aqueles que permaneciam em vigília eram em sua maioria universitários e secundaristas. Muitos até têm preferência por partidos de esquerda, mas a grande maioria repudiava a menção a eles e às centrais sindicais. "Essa é uma luta independente e as pessoas estão nos apoiando por isso", defendeu o apartidário Rafael Holanda Barroso, estudante de ciência política da Universidade de Brasília (UnB).

O cientista político Ricardo Caldas, da UnB, atesta a seriedade do movimento "fora, Arruda", capitaneado pelos estudantes. "Há uma indignação coletiva, mas muitos não sabem como agir ou protestar. Quando os jovens se organizam, outros começam a pensar que também podem estar lá."

Tâmara Jacinto, de 22 anos, que estuda relações públicas, resume os anseios do movimento:

"Não existe mais desinformação e o jovem virou independente. Não dá mais para acreditar que PT, PSDB e muito menos DEM sejam lindos, maravilhosos. Ninguém mais tolera corrupção e partidos."

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