DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Após Congresso desautorizar por imensa maioria restituição, inicia-se debate sobre futuro de deposto
Ruth Costas, enviada especial, TEGUCIGALPA
O veto contundente do Congresso à restituição do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya - no total, 111 deputados votaram contra a sua volta e só 14 a favor - levantou ontem pelo menos três dúvidas no que diz respeito ao desfecho da crise. O que acontecerá com Zelaya? Como será feita a transição para o governo eleito no domingo? E como o país sobreviverá à crise provocada pelo corte da ajuda internacional, uma vez que a restituição era vista como uma forma de romper o isolamento internacional de Honduras?
O resultado da votação foi recebido como "derrota em final de Copa do Mundo" na Embaixada Brasileira em Tegucigalpa, onde Zelaya está abrigado desde setembro. Mas não com surpresa. O presidente deposto disse ao Estado que, apesar das promessas de diálogo, não recebeu nenhum telefonema do presidente eleito, Porfirio "Pepe" Lobo, do Partido Nacional - sigla que votou em bloco contra a sua restituição.
O mandato de Zelaya termina no dia 27 de janeiro. Segundo uma fonte próxima a ele, uma das opções consideradas pelo presidente deposto seria se asilar depois dessa data. Ontem, os rumores sobre um possível exílio começaram a crescer. Zelaya, porém, nega-se a dizer quais são seus planos. "Não tenho bola de cristal para prever o futuro", esquiva-se.
Em entrevista no palácio presidencial, o presidente de facto, Roberto Micheletti - de volta ao cargo após um afastamento de uma semana - disse que não pode dar anistia a Zelaya porque isso seria responsabilidade do Congresso, mas apenas um indulto (para crimes comuns, não políticos). Segundo Micheletti, o exílio de Zelaya poderia trazer "paz e tranquilidade" para Honduras.
O presidente de facto anunciou a formação de um "governo de reconciliação" - condição prevista no Acordo San José-Tegucigalpa e exigida pelos EUA para reconhecer as eleições de domingo. O problema é que os aliados de Zelaya não estão dispostos a participar e não parecem bem-vindos nesse novo arranjo.
Micheletti se justifica dizendo que dissidentes do governo deposto também terão voz na nova gestão. "No governo há muita gente que esteve com o senhor Zelaya e podemos integrar mais deles", afirmou o presidente de facto, visivelmente bem-humorado.
Para driblar os efeitos do corte da ajuda internacional, o governo anunciou o aumento dos impostos sobre cigarros e bebidas e a redução dos benefícios fiscais de algumas empresas.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
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