quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Fernando de Barros e Silva:: De choques e pau de arara

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

São Paulo - A novidade de um presidente que "fala a língua do povo" tem aspectos obviamente simpáticos. Mas o que um dia foi ganho democrático degenerou em espetáculo.

Lula criou uma mitologia em torno de sua figura. É hoje um ator satisfeito e seguro de si. Difícil encontrar quem resista a seus improvisos retóricos. As pessoas em geral acham graça das muitas bobagens que ele diz. Ai de quem se atreve a apontá-las. É crime de lesa-pátria.

Anteontem, no Prêmio Direitos Humanos 2009, Lula se dirigiu a Inês Etienne Romeu -que foi presa e torturada como Dilma Rousseff durante a ditadura: "Minha querida Inês, eu só queria te dizer uma coisa: valeu a pena cada gesto que vocês fizeram. Cada choque que vocês tomaram, cada apertão que vocês tiveram, valeu a pena porque nós aprendemos".

Aplausos da plateia...

Será preciso anotar que essa história de tortura que valeu a pena, de martírio que serve de aprendizado, é o fim da linha? Alguém, entre os que o ovacionaram, será ainda capaz de se escandalizar com algo que Lula diga? Sim, foi "só" um deslize, mas a questão é esta: tem limite?

Na mesma cerimônia, Lula disse que "a gente sofreria menos se transformasse os nossos companheiros em heróis, e não apenas em perseguidos". É a velha visão sentimental e romântica. O país seria melhor se tivesse maturidade para julgar os torturadores, em vez de distribuir medalhas às suas vítimas.

A esquerda, de resto, irá um dia desmistificar a luta armada?

Já passou a hora de reconhecer que aquilo não foi só um delírio total, mas, antes disso, um grande erro, ainda que tivesse alguma chance de dar certo.

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Do choque virtuoso de Lula chegamos ao pau de arara de Aloizio Mercadante. Em entrevista a uma rádio de Recife, o senador do PT disse que Ciro Gomes, nascido no interior paulista, "pegou o pau de arara na direção errada". Enquanto as pessoas vinham para São Paulo, "ele foi para lá (o Ceará)".

Mercadante é aquele que acusou José Serra de preconceito contra os nordestinos na campanha de 2006.

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