sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Irritado, Brasil critica Estados Unidos

DEU EM O GLOBO

Chanceler Celso Amorim diz que houve excesso de tolerância com golpe

Eliane Oliveira

BRASÍLIA. A negativa ao pedido de salvo-conduto para que o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, deixasse a embaixada brasileira em Tegucigalpa e partisse para o México irritou Brasília, que não descartava, a médio prazo, um possível reconhecimento das eleições presidenciais hondurenhas, realizadas no dia 29 de novembro, a partir de uma negociação. Além disso, o governo brasileiro criticou os EUA, a que considerou "excessivamente tolerantes" com o governo interino do país centro-americano.

- Os EUA devem estar frustrados com os recentes desdobramentos da crise em Honduras.

Deve ser uma frustração muito grande, acho eu, para os Estados Unidos, cuja diplomacia se envolveu até muito mais que a nossa. Essa frustração advém do fato de você ter sido excessivamente tolerante com um governo golpista - disse o chanceler Celso Amorim.

Segundo um integrante do governo brasileiro, as declarações do presidente eleito de Honduras, Porfirio Lobo, de que não mediria esforços para conseguir o apoio do presidente Lula teriam sido vistas como uma possibilidade de diálogo, uma janela aberta na posição até então inflexível das autoridades interinas hondurenhas.

- Com essa história de salvo-conduto, não há como flexibilizar - disse a fonte.

Brasil buscará apoio de países menores na OEA

A estratégia, agora, é buscar o apoio dos países menores que são associados à Organização dos Estados Americanos (OEA) para que, em um enfrentamento direto com os EUA, o Brasil consiga obter uma posição mais firme do organismo em relação ao cenário político naquele país. Segundo o assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, a maioria dos países da OEA é favorável ao não-reconhecimento das eleições.

- Há muita inquietação, principalmente da parte dos países pequenos, que estão assustados. Imagine se se legitima um golpe de Estado, o que você acha? Vamos deixar para a OEA resolver - disse ele.

Esse clima de indignação também era evidente ontem no Itamaraty. Mais cedo, em entrevista ao programa de rádio "Bom dia, ministro", o chanceler Celso Amorim comentou:

- Confesso que acordei hoje (ontem) pensando que o Zelaya já estaria no México, mas fui surpreendido com a informação de que teria havido essa dificuldade por uma exigência absurda.

Amorim não descartou uma conversa entre Brasília e Porfirio Lobo, mas disse que não é possível um reconhecimento "a curto prazo" das eleições.

- A preocupação principal do momento é manter a segurança de Zelaya e permitir que ele saia do país. Se tiver que haver um diálogo entre uma parte e outra, haverá. Com o passar do tempo, o povo hondurenho encontrará a sua solução. Agora, que as eleições não foram legítimas, não foram - criticou.

Amorim: "Não vamos enxotar Zelaya"

Ele classificou a rejeição ao salvo-conduto de "truculenta" e avisou que Zelaya continuará na embaixada até quando quiser.

- Vamos ver o que acontece, mas não vamos ficar enxotando o presidente Zelaya da nossa embaixada. Demos proteção a ele, proteção reconhecida pela OEA e pelo Conselho de Segurança da ONU.

O ministro explicou que a ideia de Zelaya ir para o México - e de lá, segundo um integrante do governo, provavelmente para Cuba - foi negociada com o governo mexicano por Brasil e Argentina. Disse ter partido do próprio presidente deposto o desejo de buscar abrigo no México.

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