DEU EM O GLOBO
O Brasil vai crescer em 2010, e isso ajudará a candidata do governo Dilma Rousseff. Um ambiente de crescimento com inflação baixa é o ideal para um governista. O candidato José Serra será favorecido pela experiência em cargos públicos e por resultados de São Paulo. Marina Silva tem um discurso coerente com novos tempos. Ciro Gomes tem recall de outras disputas.
Cada candidato tem suas vantagens e armas e com elas entrará na disputa de 2010. Ciro Gomes está afastado de cargo executivo há vários anos, tem tido baixa visibilidade e mesmo assim tem um desempenho acima do que se poderia esperar de um candidato nessas condições.
Marina Silva, dos quatro, é, de longe, a mais carismática.
Candidata há menos tempo, de um partido pequeno, sem estrutura, sem capilaridade, mesmo assim aparece bem nas pesquisas.
Compare-se a maciça propaganda feita pelo governo para Dilma Rousseff com as poucas chances de aparecer que tem a candidata Marina Silva e se verá que a diferença entre elas não é tão grande. Marina poderá crescer se conseguir usar a capilaridade dos movimentos sociais. A parte do movimento social que não foi capturada pela farta distribuição de dinheiro público do governo Lula tem muito mais afinidade com a história e o projeto de Marina.
José Serra tem a inequívoca vantagem de estar na frente nas pesquisas e tem também uma máquina poderosa: a do maior estado da Federação. Ele tem uma série de obras para inaugurar numa área que é um entroncamento de melhora da qualidade de vida, redução das emissões de carbono em São Paulo e aumento da produtividade: a transformação do transporte público na maior cidade do país. Com um transporte mais racional, com a mistura de novas linhas do metrô, dos Veículos Leves sob Trilhos, e aumento da malha de trens, o governo José Serra está iniciando um projeto que pode revolucionar a vida do paulistano. Serra tem a desvantagem de deixar uma obra aberta. Grande parte do projeto está para ser terminada em 2011 e 2012.
Por decisão tomada pelo presidente Lula, o país começou a campanha eleitoral mais cedo. Cedo demais. Lula tem feito uma campanha abusiva para a sua candidata, sabedor que a fragilidade dela é ser uma estreante em campanha eleitoral.
Lula disse que Dilma vai inaugurar obras até o limite legal. Isso mostra que a lei é falha: ao não fixar regras para o período da pré-campanha, a lei se deixa burlar.
Dos quatro candidatos competitivos até o momento, Dilma é a única neste noviciado na política eleitoral.
Não tem natural talento para o palanque. Aparece sempre como um anexo do presidente, e quando fala é um discurso áspero, repetitivo, com palavras e conceitos estranhos ao mundo dos palanques.
Dilma será favorecida pelo ambiente de conforto econômico criado pelo crescimento com inflação baixa. Esse ambiente favoreceria mesmo é o presidente Lula, se ele estivesse disputando a reeleição. É bem mais incerto quando o candidato é outra pessoa.
Não é tarefa trivial transferir votos. Lula terá que provar que votar em Dilma é como se fosse votar nele.
O eleitor tem sua própria forma de pensar, que desafia os analistas. Veja-se, por exemplo, o que aconteceu, pela pesquisa Datafolha, entre agosto e dezembro.
Em agosto, Heloísa Helena estava na pesquisa de intenção de votos com 12% das preferências. Ela desistiu, e seu partido se inclina por Marina Silva. Heloísa Helena, que saiu do PT em conflito, não fez qualquer gesto em direção a Dilma Rousseff. Mas com sua saída da pesquisa, Dilma cresceu seis pontos, Marina, cinco pontos, e José Serra, um ponto.
As obras do PAC são uma vantagem que será explorada por Dilma. Algumas dessas obras são controversas, outras estão muito atrasadas, mas várias delas trarão dividendos eleitorais para o governo. No setor de energia, que ela controla diretamente, Dilma tem que torcer para um ano bom, de muita água nos reservatórios, e sem raios em Itaberá.
Porque se houver um novo apagão, ela certamente ficará com o ônus do evento.
Ciro Gomes pode construir uma espécie de terceira via, encarnando um candidato que não seja nem anti-Lula, nem o candidato oficial. Vai investir contra José Serra, de quem genuinamente não gosta, e esperar a bênção de Lula, em caso de fraco desempenho ou algum imprevisto na candidatura de Dilma Rousseff.
Ciro terá maiores chances se tiver aprendido a conter seus impulsos que produziram gafes notórias em outras campanhas. No cenário em que ele não disputa, José Serra é o beneficiado.
Em Copenhague, Marina Silva foi abordada algumas vezes por jornalistas estrangeiros.
Uma jornalista perguntou a ela se era verdade que três candidatos presidenciais brasileiros estavam ali, na COP-15, e se isso era prova da importância que o Brasil dá à questão climática.
Ela respondeu que a sociedade brasileira está empurrando governo e candidatos para a busca de um crescimento em equilíbrio com o meio ambiente: — Eu acho ótimo que os três estejam aqui, mas evidentemente eu estou nesta causa há trinta anos.
A causa ambiental não é mais um gueto. Espalhou-se por todas as áreas e é a única base para um projeto do século XXI. Marina tem a inegável vantagem de estar neste caminho há mais tempo e ter uma intimidade com todas as nuances dessa vasta questão, onde os recém-chegados podem derrapar. Às vezes, explicitamente, como no ato falho de Dilma.
O ano começará com quatro bons candidatos em campo.
Cada um tem sua força e suas fragilidades. A luta entre eles atravessará 2010 e definirá o rumo dos próximos anos. No comando, estará o eleitor, e seu voto.
O Brasil vai crescer em 2010, e isso ajudará a candidata do governo Dilma Rousseff. Um ambiente de crescimento com inflação baixa é o ideal para um governista. O candidato José Serra será favorecido pela experiência em cargos públicos e por resultados de São Paulo. Marina Silva tem um discurso coerente com novos tempos. Ciro Gomes tem recall de outras disputas.
Cada candidato tem suas vantagens e armas e com elas entrará na disputa de 2010. Ciro Gomes está afastado de cargo executivo há vários anos, tem tido baixa visibilidade e mesmo assim tem um desempenho acima do que se poderia esperar de um candidato nessas condições.
Marina Silva, dos quatro, é, de longe, a mais carismática.
Candidata há menos tempo, de um partido pequeno, sem estrutura, sem capilaridade, mesmo assim aparece bem nas pesquisas.
Compare-se a maciça propaganda feita pelo governo para Dilma Rousseff com as poucas chances de aparecer que tem a candidata Marina Silva e se verá que a diferença entre elas não é tão grande. Marina poderá crescer se conseguir usar a capilaridade dos movimentos sociais. A parte do movimento social que não foi capturada pela farta distribuição de dinheiro público do governo Lula tem muito mais afinidade com a história e o projeto de Marina.
José Serra tem a inequívoca vantagem de estar na frente nas pesquisas e tem também uma máquina poderosa: a do maior estado da Federação. Ele tem uma série de obras para inaugurar numa área que é um entroncamento de melhora da qualidade de vida, redução das emissões de carbono em São Paulo e aumento da produtividade: a transformação do transporte público na maior cidade do país. Com um transporte mais racional, com a mistura de novas linhas do metrô, dos Veículos Leves sob Trilhos, e aumento da malha de trens, o governo José Serra está iniciando um projeto que pode revolucionar a vida do paulistano. Serra tem a desvantagem de deixar uma obra aberta. Grande parte do projeto está para ser terminada em 2011 e 2012.
Por decisão tomada pelo presidente Lula, o país começou a campanha eleitoral mais cedo. Cedo demais. Lula tem feito uma campanha abusiva para a sua candidata, sabedor que a fragilidade dela é ser uma estreante em campanha eleitoral.
Lula disse que Dilma vai inaugurar obras até o limite legal. Isso mostra que a lei é falha: ao não fixar regras para o período da pré-campanha, a lei se deixa burlar.
Dos quatro candidatos competitivos até o momento, Dilma é a única neste noviciado na política eleitoral.
Não tem natural talento para o palanque. Aparece sempre como um anexo do presidente, e quando fala é um discurso áspero, repetitivo, com palavras e conceitos estranhos ao mundo dos palanques.
Dilma será favorecida pelo ambiente de conforto econômico criado pelo crescimento com inflação baixa. Esse ambiente favoreceria mesmo é o presidente Lula, se ele estivesse disputando a reeleição. É bem mais incerto quando o candidato é outra pessoa.
Não é tarefa trivial transferir votos. Lula terá que provar que votar em Dilma é como se fosse votar nele.
O eleitor tem sua própria forma de pensar, que desafia os analistas. Veja-se, por exemplo, o que aconteceu, pela pesquisa Datafolha, entre agosto e dezembro.
Em agosto, Heloísa Helena estava na pesquisa de intenção de votos com 12% das preferências. Ela desistiu, e seu partido se inclina por Marina Silva. Heloísa Helena, que saiu do PT em conflito, não fez qualquer gesto em direção a Dilma Rousseff. Mas com sua saída da pesquisa, Dilma cresceu seis pontos, Marina, cinco pontos, e José Serra, um ponto.
As obras do PAC são uma vantagem que será explorada por Dilma. Algumas dessas obras são controversas, outras estão muito atrasadas, mas várias delas trarão dividendos eleitorais para o governo. No setor de energia, que ela controla diretamente, Dilma tem que torcer para um ano bom, de muita água nos reservatórios, e sem raios em Itaberá.
Porque se houver um novo apagão, ela certamente ficará com o ônus do evento.
Ciro Gomes pode construir uma espécie de terceira via, encarnando um candidato que não seja nem anti-Lula, nem o candidato oficial. Vai investir contra José Serra, de quem genuinamente não gosta, e esperar a bênção de Lula, em caso de fraco desempenho ou algum imprevisto na candidatura de Dilma Rousseff.
Ciro terá maiores chances se tiver aprendido a conter seus impulsos que produziram gafes notórias em outras campanhas. No cenário em que ele não disputa, José Serra é o beneficiado.
Em Copenhague, Marina Silva foi abordada algumas vezes por jornalistas estrangeiros.
Uma jornalista perguntou a ela se era verdade que três candidatos presidenciais brasileiros estavam ali, na COP-15, e se isso era prova da importância que o Brasil dá à questão climática.
Ela respondeu que a sociedade brasileira está empurrando governo e candidatos para a busca de um crescimento em equilíbrio com o meio ambiente: — Eu acho ótimo que os três estejam aqui, mas evidentemente eu estou nesta causa há trinta anos.
A causa ambiental não é mais um gueto. Espalhou-se por todas as áreas e é a única base para um projeto do século XXI. Marina tem a inegável vantagem de estar neste caminho há mais tempo e ter uma intimidade com todas as nuances dessa vasta questão, onde os recém-chegados podem derrapar. Às vezes, explicitamente, como no ato falho de Dilma.
O ano começará com quatro bons candidatos em campo.
Cada um tem sua força e suas fragilidades. A luta entre eles atravessará 2010 e definirá o rumo dos próximos anos. No comando, estará o eleitor, e seu voto.
Ótimo texto!!!
ResponderExcluirPostei em meu twitter ( http://twitter.com/joaodamasio ) a indicação para o texto que considero a melhor análise politica contemporânea entre as muitas que li até hoje, o texto "Força de cada um".
Parabéns pela crítica política.
João Damasio
Estudante de Jornalismo / Educador Ambiental