terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Raymundo Costa:: Aécio na vice só para decidir

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Quase 100% dos tucanos defendem a chapa presidencial José Serra-Aécio Neves na eleição de 2010. Quase, porque Aécio não vê com muito entusiasmo a ideia de ser vice de José Serra. Essa é uma hipótese que o governador de Minas Gerais leva sim em consideração, mas só para a hipótese de ela vir a ser decisiva para assegurar a vitória do PSDB. Ele seria então um sócio com direito a voto na vitória serrista.

No momento, os olhos de Aécio Neves estão efetivamente voltados para Minas. Trata-se de uma necessidade.

É indispensável, para Aécio, manter a cidadela mineira em 2010. Para isso não basta que o atual governador do Estado se eleja senador, o que é considerado pule de dez.

Para Aécio Neves será também preciso eleger como sucessor no Palácio da Liberdade o seu atual vice, Antonio Anastasia, um candidato sem experiência em disputas eleitorais. Tarefa dura, quando se olha a concorrência, ao redor, recheada de veteranos mais ou menos vencedores.

Os dois pré-candidatos do PT são oponentes respeitáveis.

Um é o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), responsável por aquele que é o principal programa social do governo Lula, o Bolsa Família. O outro é Fernando Pimentel, que deixou a Prefeitura de Belo Horizonte, em 1º de janeiro de 2009, com índices na faixa dos 70% de aprovação nas pesquisas de opinião pública.

Patrus e Pimentel integram a linha do tempo de um ciclo bem avaliado do PSB e do PT em Belo Horizonte.

Além dos dois, tem ainda o pemedebista Hélio Costa, ministro das Comunicações, que é visto como o cavalo paraguaio da eleição, mas está à frente nas pesquisas para o governo estadual, aliás, muito à frente de Anastasia.

Manter Minas, para Aécio, é garantir-se no jogo, em 2014, entre aqueles que efetivamente integram ou virão a integrar a primeira divisão da política. Uma disputa que terá Lula como contendor, independentemente de quem seja o vencedor da eleição presidencial de outubro de 2010.

Aécio será carta fora do baralho da chapa de Serra tanto na pior como na melhor das hipóteses para o PSDB. A pior seria a derrota humilhante, cada vez mais distante à medida que Serra mantém-se estável nas pesquisas. A melhor, a vitória consagradora, caso em que o governador de Minas não faria diferença para a eleição de Serra.

No cálculo do PSDB, uma chapa Serra-Aécio daria a largada na eleição com 10 milhões de votos de diferença sobre a situação, ou seja, sobre a candidata do PT, Dilma Rousseff. A conta é que Serra, na pior das hipóteses, arranca de São Paulo com uma vantagem de 7 milhões de votos. Com Aécio na chapa, a diferença não teria como ser compensada pelo PT nas regiões Norte e Nordeste, os principais redutos eleitorais de Lula.

Os tucanos mais otimistas acreditam que os 7 milhões de São Paulo já bastariam para pavimentar a eleição de Serra, porque acham altamente improvável que Dilma tenha a mesma votação que Lula teve no Norte e no Nordeste. Além disso contam com a vitória em Minas Gerais (ao contrário da eleição passada), seja ou não Aécio o vice na chapa de Serra.

Aécio tem o tempo a seu favor. Ele pode esperar até o fim de junho, época em que os partidos realizam suas convenções, para decidir o que fazer em outubro - só não poderá concorrer ao governo estadual, cargo para o qual já foi duas vezes eleito.

Do ponto de vista tucano, a chapa Serra-Aécio é sinônimo de vitória, mas o Palácio do Planalto também estaria ao alcance com uma chapa puro-sangue ou em aliança com outra agremiação partidária.

Isso porque o PSDB supõe que chegará unido a 2010, o que não ocorre desde 2002, pelo menos. Argumento: essa é uma eleição que a oposição precisa ganhar, não será um processo de acumulação de forças; uma nova vitória do PT decretaria uma espécie de "mexicanização" da política brasileira.

O que o PSDB espera de Aécio é que ele componha com Serra, seja como vice, se for necessário para assegurar a vitória nas eleições de outubro próximo, seja como o tucano que efetivamente é: um político agregador capaz de ampliar o horizonte de alianças do partido. O que não deixa de ser uma novidade.

Em 2002 e 2006, nos meses que antecederam as eleições, havia entre os tucanos a certeza de traições a rodo, apesar das juras públicas de fidelidade. Hoje os pessedebistas contam como certo até o apoio do senador Tasso Jereissati (CE), que em 2002 preferiu ficar com o aliado e conterrâneo político Ciro Gomes.

O PSDB vê como jogo de cena eleitoral a satisfação com que o PT aparenta ter recebido a candidatura de José Serra, pois ela viria de encontro à estratégia traçada pelo presidente Lula como o inseto da teia da aranha, facilitando o jogo do "nós contra eles", a comparação entre os governos Lula e FHC.

Pode ser jogo de cena, mas no PSDB afirma-se que caminho de Dilma até a eleição tem mais dificuldades que o do PSDB.

Uma delas, atende pelo nome de Ciro Gomes (PSB).

A chapa Dilma-Ciro seria a melhor que o governo poderia compor, na opinião dos tucanos, assim como Serra e Aécio no PSDB. Mas ela teria um custo muito elevado: a inevitável defecção do PMDB da coligação governista. Um PMDB que já se acha apreensivo com a vontade manifesta do presidente Lula de interferir na escolha do nome do partido a ser indicado para candidato a vice-presidente na chapa de Dilma.

Dilma teria problemas com qualquer solução que vier a ser dada a Ciro Gomes: se for alijado da candidatura a vice-presidente, torna-se um risco político e eleitoral - temperamental, o deputado do PSB pode não aceitar passivamente a decisão, o que de forma alguma seria surpreendente. Já candidato ao governo de São Paulo, como quer Lula, deixaria para Serra e não para Dilma a maior parte de seus votos no Nordeste, segundo a contabilidade dos tucanos.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

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