terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Raymundo Costa:: Fiasco de Copenhague

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Era para ser o triunfo de Dilma Rousseff (Casa Civil), mas nem por isso deve a ela ser atribuída a conta do fracasso da conferência do clima. Exageros à parte, o Brasil até que não saiu mal na foto de Copenhague. Os tropeços de Dilma são conta a ser debitada no cartão daqueles que tentam reinventar suas habilidades profissionais e personalidade desde o momento em que Lula a impôs como candidata ao PT, quando talvez baste a ela ser simplesmente Dilma.

É difícil apontar erros numa estratégia que está dando certo, pois é disso que se fala quando Dilma alcança os 23% das intenções de votos no Datafolha. Falar em mais que isso é megalomania típica petista. Mas o fato é que a ministra foi literalmente jogada numa fria em Copenhague, sem trocadilhos. Se ela pode ser culpada de alguma coisa é por concordar em se submeter aos estrategistas de sua campanha eleitoral, que tentam transformar Dilma no que ela nem sempre é.

A ministra tem uma personalidade forte? Não será levando-a trocar afagos com o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente), um dia depois do bate-cabeça entre os dois, que fará dela a "Dilminha paz e amor". Algo, aliás, que Lula só conseguiu depois de rodar muito bambolê e três eleições depois. "Cintura política" não é algo que se adquira de um dia para o outro. Que o diga José Serra, ainda agora, depois da prefeitura e do governo de São Paulo, vítima do estigma de truculento mau humorado.

Para Copenhague, os estrategistas palacianos-petistas costuraram um figurino ambientalista para a "ministra-chefe- de- tudo- o- que-há-no-governo". Para tanto, Dilma submeteu-se a um intensivão sobre a questão do aquecimento global. Ela teve que processar em semanas o que a senadora Marina Silva (PV-AC) levou uma existência para assimilar e assim formular. E o sucesso de Marina foi segmentado na CoP 15, de pouca exposição para o eleitorado brasileiro mais amplo. Era mais que previsível que a ministra, em algum momento, trocasse as bolas

Submetida a viagem cansativa e extensas reuniões, Dilma ainda tinha que arredondar o palavreado nas entrevistas, difícil quando se fala na diferença entre adaptação e mitigação ou nos países que integram o anexo 1 do Protocolo de Kyoto. Talvez Ciro Gomes (PSB-CE) e seu vocabulário rebuscado pudessem ter se dado melhor. Muito político de boa cepa já confundiu nomes de aliados. Portanto, é um exagero rir da ministra por ela ter dito que Blairo Maggi é governador de Mato Grosso do Sul.

Outro exagero é dizer que foi um "ato falho" da ministra dizer que o desenvolvimento sustentável ameaça o meio ambiente ou de que o meio ambiente ameaça o desenvolvimento sustentável - circularam as duas versões, mas é um dilema tostines. Ela apenas trocou as bolas. Em Dilma a palavra "desenvolvimentista" virou palavrão e sinônimo de demônios ambientais. É possível a um país se desenvolver sem destruir o meio ambiente. Suas divergências com a ex-ministra Marina não autorizam ninguém a colocá-la no panteão dos vilões da degradação ambiental.

Fiasco, em Copenhague, foram os líderes mundiais incapazes de chegar a um acordo sobre o clima. O Brasil até foi bem, sem precisar das bravatas eleitoreiras de Lula. "Luís (sic) Inácio Lula da Silva também terá arrancado sorrisos à audiência ao anunciar estar disposto a apoiar financeiramente os países mais pobres", resumiu um jornal português, ao final da CoP 15. Na campanha eleitoral brasileira cairia bem Lula dizer que era "chic" o Brasil colocar dinheiro no fundo climático, como já fala atualmente ele em relação ao FMI.

O erro primário dos estrategistas eleitorais do Planalto foi ter transformado Dilma num alvo fixo, uma vitrine exposta às pedradas no momento em que a ministra foi designada chefe da delegação brasileira à CoP 15. Não é por outro motivo que José Serra até agora não admitiu e nem admitirá tão cedo que é candidato a presidente da República em 2010. Faz parte do beabá da política. E o que é pior: Lula antecipou em 24 horas sua chegada a Copenhague. O PT jogou alto na CoP 15. Uma aposta de risco. Em toda aposta de risco o custo da derrota é alto como altos são os dividendos de uma vitória. Dilma paga o preço da partidarização do jogo do governo federal na conferência do clima.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

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