sábado, 26 de dezembro de 2009

Villas Bôa Corrêa::Um mágico chamado Lula

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Acabei de ler o imperdível romance de Frei Beto, Um Homem chamado Jesus, que conta a passagem do filho de Deus sobre a terra seguindo os passos da Bíblia, mas com a liberdade do escritor que humaniza o enredo e os personagens – santos, pecadores, inimigos – nos diálogos, que vai do tom ameno das lições à indignação com os incréus que se converteram e seguiram Jesus até a ressurreição.

Curiosamente, mas não por acaso, a cada página e até em cada linha, fui surpreendido pelas semelhanças entre o romance histórico de Frei Beto e a vertiginosa ascensão do menino nascido em Garanhuns, de família humilde e da mais indigente pobreza e que disparou na carreira fulminante de líder operário, o maior da história deste país, fundador do Partido dos Trabalhadores, o PT, de crônica contraditória como o criador do caixa 2 e do mensalão, que acaba de gerar mais um monstrengo com a roubalheira que desmontou o governador de Brasília, José Roberto Arruda, filmado na distribuição de pacotes de milhões a secretários, parlamentares e cupinchas, que escondiam a bolada do suborno na cueca, nas meias, nos bolsos e outras cafuas pouco recomendáveis.

A honestidade do presidente jamais foi posta em dúvida. Mas, o seu salto acrobático para o topo de um dos mais populares líderes do mundo, de causar inveja ao presidente da maior nação do mundo, Barack Obama, e que o identificou como “este é o cara”; os êxitos da política econômica; a mágica da Bolsa Família distribuída a milhões de deserdados da sorte, ex-Bolsa Escola, que escancara a janela às crianças da extrema pobreza para a obrigatoriedade de frequentar escolas mexeram com os miolos presidenciais.

O Lula que inventa a candidatura da ministra Dilma Rousseff para sucedê-lo é a contradição ambulante do militante petista, deputado federal constituinte, contrário à praga da reeleição, aprovada no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso com a vergonhosa distribuição de sinecuras para cabos eleitorais e parentes dos parlamentares. Não pode mirar-se no espelho na hora de aparar a barba e os cabelos que começam a rarear no cocuruto sem o arrepio do mal-estar com as contradições impostas pelas quebras de ética política.

Por fora bela viola. Mas, se as aparências enganam, também estimulam as desconfianças. Lula e a sua candidata podem desdenhar das pesquisas com a análise do panorama pré-sucessão, com o sucesso da sua tática e da campanha escancarada, mandando às favas os prazos constitucionais com a andrajosa peta de que ele e a ministra-candidata viajam às custas da Viúva, sobem nos palanques, discursam, são abraçados, concedem autógrafos como artistas de novela para fiscalizar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, e do Minha Casa Meu Voto.

O sobe-e-desce dos índices das pesquisas não são definitivos nem podem ser interpretados ao pé da letra. Apenas indicam o lento crescimento dos índices da candidata oficial, que ainda sequer foi aprovada pela convenção do PT. Frioleiras: a legenda tem dono e senhor e faz o que seu mestre mandar.

Candidata que está fazendo prodigiosa carreira, saltando do chão para tentar a Presidência do Brasil, a ministra Dilma parece artista da primeira novela, decorando as falas e testando o vestuário para os comícios, as entrevistas, as conversas com os chefes políticos.

A bravura com que enfrentou o tratamento do câncer linfático até a cura com 90% de definitiva, ainda a expõe a constrangimentos como a da aposentadoria da peruca dos sete meses de tratamento e a estreia do novo visual com o cabelo curto, como uma touca.

A especulação política é um vício que reclama cautelas para não cair no ridículo. Antes da definição do candidato da oposição e do seu vice, nenhuma análise vai além do palpite.

A oposição não pode levar a lengalenga do governador José Serra, seu virtual candidato, além da passagem do ano e do recesso do Congresso. E a encrenca para a escolha do vice está resolvida por Lula e pela firme atitude do PMDB, que já anunciou aos quatro ventos que escolhe o seu candidato a vice. E que o nome e sobrenome é o de sempre, deputado Michel Temer.

O que os candidatos ainda não pensaram é no programa de governo, na recuperação de Brasília, uma capital feita de encomenda e arruinada pela incompetência e pela roubalheira.

Por aí, continuamos na estaca zero.

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