quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Zelaya negocia deixar embaixada do Brasil

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Na noite de ontem, governo interino hondurenho autorizou saída de presidente deposto, que poderia partir rumo ao México

Teor jurídico de autorização era desconhecido, e deposto não confirmou sua viagem; já eleito defendeu anistia aos envolvidos na crise

DA REDAÇÃO


Após mais de dois meses abrigado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, negociava sua saída do local na noite de ontem, provavelmente rumo ao México, segundo fontes ligadas ao político e declarações do encarregado de negócios da embaixada, Francisco Catunda, à GloboNews.

Segundo as agências de notícias, a saída de Zelaya foi autorizada pelo governo interino, mas o deposto, por sua vez, se negava a confirmar sua viagem e disse que "não pedira asilo político a nenhum país" -ao contrário do que fora informado extraoficialmente e sob anonimato por fontes mexicanas. O teor jurídico da autorização dos golpistas era desconhecido até o fechamento desta edição.

O Itamaraty disse ontem à Folha Online que foi informado por Zelaya de suas negociações para obter um salvo-conduto e deixar Honduras, mas reiterou que essas negociações envolvem o México, Honduras e "eventuais terceiros países", mas não o Brasil.Segundo fontes do governo mexicano que não quiseram se identificar, um avião enviado pela Cidade do México partira rumo a Tegucigalpa (que está quatro horas atrás do horário de Brasília) para buscar o deposto e sua família, e as forças de segurança de Honduras aumentaram a segurança em frente à embaixada do Brasil.

Anistia

Zelaya teria passado o dia conversando com líderes latino-americanos e caribenhos para tentar uma saída para a crise hondurenha, enquanto o presidente eleito de Honduras, Porfirio Lobo, defendeu em visita à Costa Rica anistiar todos os envolvidos na crise política desatada pelo golpe de 28 de junho, a fim de obter apoio ao seu governo e reverter o isolamento internacional do país.

A eventual anistia teria como principal beneficiário o próprio Zelaya, acusado na Justiça por 18 crimes políticos envolvendo sua tentativa de promover uma Assembleia Constituinte considerada ilegal pelo Congresso e a Suprema Corte -e estopim do golpe em que foi deposto.

A medida, no entanto, poderia absolver preventivamente de eventuais acusações ligadas ao golpe o presidente interino, Roberto Micheletti, e os outros atores que estiveram na linha de frente da deposição de Zelaya, sobretudo juízes da Suprema Corte e o chefe das Forças Armadas, Romeo Vásquez.

Zelaya foi deposto sob ordem da Suprema Corte, por militares liderados por Vásquez e enviado para a Costa Rica de pijamas. Ele voltaria a Honduras clandestinamente só no dia 21 de setembro, tendo se abrigado na embaixada do Brasil.

Para vingar, porém, a anistia defendida pelo presidente eleito precisaria ainda do aval do Congresso. Na próxima legislatura, o PN (Partido Nacional), de Lobo, terá maioria na Casa.

Com agências internacionais

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