terça-feira, 28 de abril de 2009

PENSAMENTO DO DIA

"Não é isso que se espera dos partidos políticos e que exige o bom funcionamento das instituições públicas. O que faz falta neles é uma posição de princípio em frente a questões gerais de que as decisões nos casos particulares não sejam senão decorrência natural. Em outras palavras, o que essencialmente constitui ou deve constituir um partido político digno desse nome, é uma ideologia que compreenda e contenha sob forma geral e sistematizada, resposta explícita e clara ao conjunto das questões que se propõem no desenvolvimento da vida econômica e social do país e que de maneira casuística e mais ou menos confusa se apresentam na consciência popular. Cabe aos partidos transpor essas questões para o plano político, dar-lhes uma elaboração teórica adequada e submetê-las assim ao debate público e à opinião do país. É somente assim que se irá formando um pensamento coletivo e uma cultura popular capazes de orientar a vida política do país, colocando-a a salvo de agitações estéreis e do caos que de outro modo estarão sempre iminentes. Não se esqueçam os dirigentes políticos da larga audiência que sobretudo na qualidade de chefes de partido, é posta à sua disposição. É preciso que saibam utilizar essa audiência no sentido da educação popular e da formação de uma consciência coletiva, único esteio seguro das nossas instituições políticas e capaz de lhes dar um sólido fundamento."

(Caio Prado Jr., chamando a atenção no pré-64 para a importância dos partido e a falta de "alicerces políticos sólidos" ao processo de "reformas de base", cf. PERSPECTIVAS DA POLÍTICA PROGRESSISTA E POPULAR BRASILEIRA, artigo publicado na Revista Brasiliense, n. 44, São Paulo, nov. / dez. 1962.)

Itamar avalia convite para entrar no PPS

Eduardo Kattah
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ex-presidente é visto por Roberto Freire como possível candidato a vice-presidente de Serra, como alternativa a uma chapa ""puro-sangue""

O ex-presidente Itamar Franco (sem partido) estuda um convite para se filiar ao PPS e seu nome já vem sendo apontado como uma possível carta na manga da oposição para tentar unir os dois maiores colégios eleitorais do País na eleição presidencial de 2010.

Reservadamente, tucanos paulistas passaram a cogitar Itamar, ex-governador de Minas, como candidato a vice numa eventual chapa encabeçada pelo governador José Serra (SP). A hipótese seria uma alternativa à proposta de chapa "puro-sangue", até então rechaçada pelo governador mineiro Aécio Neves, também pré-candidato do PSDB ao Planalto.

Embora ácido crítico do governo Fernando Henrique Cardoso, Itamar sempre nutriu boas relações com Serra. Nos últimos anos, porém, tornou-se um fiel aliado de Aécio, que assumiu o Palácio da Liberdade em 2003 com apoio do ex-presidente. Atualmente, Itamar, de 78 anos, ocupa o cargo de presidente do Conselho de Administração do Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais (BDMG) e seu grupo defende abertamente candidatura de Aécio no PSDB.

O convite a Itamar foi feito há cerca de um ano e no último encontro com dirigentes nacionais e estaduais do partido, ele prometeu tomar uma decisão em maio ou junho. "Não é apenas mexer uma peça do xadrez, ele vai mudar o jogo", acredita o presidente nacional do PPS, Roberto Freire (PE), que ontem participou de um evento da legenda em Belo Horizonte.

Ex-líder na Câmara no governo Itamar (1992-1994), Freire ressalta que o PPS tem como pressuposto na articulação da eleição presidencial a unidade das oposições, o que significa não alimentar um racha entre Aécio e Serra. "Que seja mais um evento para ajudar na unidade, criando alternativa", diz. "Isso foi dito, inclusive, ao Itamar e ele concorda plenamente."

O PPS mineiro integra a base de apoio a Aécio e trata o assunto com cautela. Para o presidente estadual da legenda, Juarez Amorim, ainda é prematura qualquer especulação sobre a participação de Itamar na próxima corrida presidencial. "Obviamente, se a gente tiver consolidado o ingresso dele no partido, aí vamos conversar sobre o conjunto das eleições. Afinal, ele é um ex-presidente que preserva prestígio no Brasil inteiro. E é um ex-governador que aparece muito bem nas pesquisas em Minas", diz Amorim.

A ideia de juntar Serra e Itamar numa chapa é recebida com desconfiança por interlocutores próximos do ex-presidente. "Isso aí não foi conversado não", afirma o ex-deputado Marcello Siqueira. "A gente pensa na candidatura do governador Aécio." Siqueira afirma que Itamar "não está pensando eleitoralmente nesse momento", mas "caminha" para se filiar ao PPS.

Para ilustrar as afinidades entre o partido e o ex-presidente, Freire lembra que um livro sobre a Presidência de Itamar está sendo finalizado e será brevemente editado com a participação da Fundação Astrojildo Pereira, ligada ao PPS. O Estado não conseguiu contato ontem com Itamar, que estava em Juiz de Fora (MG).

Doença repercute no exterior

DEU EM O GLOBO

Jornais lembram que candidatura da ministra era dada como certa

O estado de saúde da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi tema de reportagens nas versões online do jornal espanhol “El País” e dos argentinos “El Clarín”, e “La Nación”.

Os textos destacaram que, apesar do longo tratamento que terá pela frente, a ministra continua sendo vista como a candidata mais provável do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De acordo com o “El País”, apesar de os médicos terem afirmado que o câncer linfático pode ser curado em 90% dos casos, “a notícia revolucionou a classe política do país, tanto do governo quanto da oposição”. O jornal afirma que, como a ministra é a única candidata “com chances reais” de vitória, sua doença reabriu o debate sobre a possibilidade de se alterar a Constituição para permitir a Lula candidatar-se pela terceira vez e competir com o candidato da oposição José Serra.

“Alguns analistas pensam que, se Dilma superar a doença, poderia ver sua candidatura favorecida, ao humanizá-la diante da opinião pública, principalmente entre o eleitorado feminino”, afirma a reportagem do espanhol “El País”.

O jornal “La Nación” destacou em sua versão impressa no domingo que a notícia de que a ministra será submetida a um tratamento complementar de quimioterapia foi inesperada. A reportagem afirma que a candidatura de Dilma era dada como certa.

O também argentino “El Clarín” definiu Dilma como ex-guerrilheira, candidata preferida do presidente Lula e dama de ferro do governo. Segundo a reportagem, a ministra não deixará de trabalhar durante os quatro meses do tratamento, correspondendo, assim, às expectativas de campanha de setores aliados ao governo.

PMDB tenta ganhar força diante da incerteza no cenário eleitoral

Gerson Camarotti e Cristiane Jungblut
DEU EM O GLOBO

Petistas admitem dificuldade de aliança e falam com cautela da escolha do vice

BRASÍLIA. Os principais partidos da base parlamentar governista, especialmente o PMDB, consideram que o clima de incerteza e paralisia nas articulações para a sucessão presidencial de 2010, por causa do tratamento de saúde da ministra Dilma Rousseff, criará mais um problema na aliança com o PT.

Avaliação reservada de caciques peemedebistas é que o partido ganha uma posição de força na negociação com os petistas diante das mudanças no xadrez político.

Lideranças peemedebistas ouvidas ontem pelo GLOBO reforçaram que, diante desse quadro de imprevisibilidade, o PMDB deve ganhar mais relevância.

Antes mesmo da divulgação de que Dilma faria tratamento de saúde, já havia grande dificuldade para a montagem de palanques entre PT e PMDB em estados importantes como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia e Pará. Por outro lado, dirigentes petistas afirmam que o partido também será mais cauteloso na formação de uma aliança nacional com o PMDB.

Temer diz ter confiança na recuperação da ministra

Ontem, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), afirmou que a ministra Dilma continua candidata, e que não há necessidade de um “plano B”. Ele disse que o PMDB só vai discutir sua posição (oficialmente) na sucessão presidencial de 2010 no final do ano. Na opinião de Temer, este não é o momento de discutir questões eleitorais, mas sim de tratar da recuperação da ministra.

— Não considero gravíssima (a situação da saúde de Dilma). Pelo depoimento dos médicos a chance de recuperação é de mais de 90%. Em pouquíssimo tempo a ministra estará inteiramente curada e, como sempre, candidata.

Não acho prudente ter um plano B. Acho que deve prosseguir no plano A — disse Temer.

Aumenta pressão sobre o PT nos estados

Nos bastidores, os próprios petistas admitem que o clima de incerteza dificulta o fechamento de alianças. De forma muito discreta, afirmam que o debate sobre a escolha do candidato a vice na chapa passou a ganhar maior relevância.

Nesse caso, observam integrantes da Executiva Nacional do PT, será preciso uma cautela redobrada.

— Se essa aliança (PTPMDB) já tinha problemas, imagina agora. Surgiram dificuldades adicionais. Esse quadro, que já era complicado, ficou ainda pior. Tudo está paralisado. Agora, uma coisa é certa: o PMDB ganha ainda mais relevância. E a discussão sobre o vice ganha nova dimensão — disse um peemedebista com trânsito no gabinete de Lula.

Antes do diagnóstico do linfoma, a avaliação no núcleo do governo era de que Dilma precisava decolar e superar a casa dos 20% nas pesquisas até o final do ano.

Mas a percepção hoje é que o quadro político se tornou ainda mais difícil, porque não são poucos os problemas para a formação de palanques fortes nos estados.

Existe uma pressão, cada vez maior, para que o PT abra mão de candidaturas próprias em favor do PMDB ou aliados. É o caso, por exemplo, do Rio de Janeiro e de outros estados do Sul.

Serra evita comentar doença

Gustavo Porto
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), disse ontem que considera "desrespeitoso" misturar a doença da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, com a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Tanto Serra quanto Dilma - que revelou no sábado estar em tratamento médico por causa da ocorrência de um linfoma - são pré-candidatos à sucessão presidencial em 2010.

"Acho até desrespeitoso misturar a doença da ministra Dilma com a eleição. Já desejei a ela pronto e definitivo restabelecimento. Especular de eleição com doença não é apropriado de minha parte", disse Serra, em Ribeirão Preto (SP).

O governador participou da abertura da Agrishow 2009, maior feira de agronegócios da América Latina. No local, Serra anunciou programa de R$ 149 milhões para subsidiar produtores que operam com contratos na Bolsa de Mercadorias e Futuros.

PT teme pressão de aliados para antecipar a escolha do vice de Dilma

César Felício, Paulo de Tarso Lyra e Yan Boechat,
de Belo Horizonte, Brasília e São Paulo
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Apesar das demonstrações explícitas e reiteradas de confiança na recuperação da ministra-chefe da Casa Civil e virtual candidata do PT à sucessão presidencial, Dilma Rousseff, no tratamento de um câncer linfático, lideranças do Partido dos Trabalhadores começam a avaliar que a escolha do vice em uma chapa encabeçada pela ministra ganha nova importância a partir de agora. Para eles, além das estratégias regionais e partidárias que envolvem a definição do candidato a vice, é preciso também que o nome tenha força política e administrativa. "Nada muda, não há plano B, mas é claro que a discussão envolvendo o companheiro de chapa vem a tona", diz o deputado federal Virgílio Guimarães (PT-MG), lembrando que vários vices assumiram o posto principal na história brasileira recente.

As inevitáveis incertezas que surgem com o anúncio da doença faz com com que dirigentes do PT temam pressões dos partidos aliados da base governista. O receio é que a capacidade de Dilma polarizar a eleição do próximo ano com o candidato do eixo PSDB/DEM seja contestada pelo PMDB e pelo PSB do deputado federal e duas vezes candidato presidencial Ciro Gomes (CE). Um primeiro efeito desta pressão seria a cobrança para que seja definida ainda este ano a composição da chapa presidencial, com a escolha do nome do candidato a vice na chapa governista.

A preocupação com futuras pressões foi externada por integrantes do PT mineiro, como o presidente regional do partido, deputado federal Reginaldo Lopes. "No nosso planejamento nada muda, mas podem haver aceleração de conversas sobre o vice", afirmou Reginaldo.

De acordo com interlocutores de petistas com acesso ao Planalto, a previsão é que nos próximos meses, quando a ministra deverá realizar o seu tratamento contra a doença, pemedebistas e integrantes do PSB demarquem distância em relação ao partido. Os petistas acreditam contudo que a disputa interna dentro do principal adversário, o PSDB tende a se acirrar, à medida que os aliados do PT na base governista verbalizarem dúvidas sobre a capacidade polarizadora de Dilma.

Em contrapartida, a chefe da Casa Civil, a direção do PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vão intensificar os contatos nos próximos dias para definir a estratégia a ser adotada depois do anúncio público da enfermidade enfrentada pela candidata petista. Por enquanto, a única certeza é de que Dilma segue firme como presidenciável do partido. "Ela continua sendo a nossa candidata", assegurou o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP). Para o deputado, não há nenhuma razão para precipitar qualquer movimento, como antecipar a ida de Gilberto Carvalho para a presidência do PT, algo que deve ser sacramentado em novembro.

Apesar do discurso ativo da ministra e de seus auxiliares, a tendência, na opinião de militantes petistas, é que Dilma diminua um pouco o ritmo, especialmente nestes primeiros meses. Hoje, por exemplo, a ministra cancelou a participação em um seminário que trata dos impactos da crise econômica mundial que contará com a presença de seu principal opositor nas eleições de 2010, o governador de São Paulo José Serra.

"Ela deve trabalhar mais no essencial e deixar o secundário de lado. Tanto do ponto de vista administrativo, quanto no político, ela vai diminuir um pouco a agenda", acredita o ex-prefeito de Recife João Paulo, um dos integrantes do grupo encarregado por Lula de traçar estratégias para a campanha.

João Paulo defende que o momento atual deve ser reservado para que Dilma cuide de sua saúde. As sessões de quimioterapia vão durar aproximadamente quatro meses, mas João Paulo acha que Dilma deverá estar ainda em ritmo reduzido até o início de 2010.

Os efeitos mais fortes devem ser sentidos, na opinião de alguns integrantes da cúpula partidária, nas funções administrativas da ministra. Além de chefiar a Casa Civil - Pasta sob a qual está abrigada toda a estrutura administrativa do governo - Dilma ainda é a coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do pacote habitacional Minha Casa, Minha Vida, peças importantes de sua eventual campanha. A ministra ainda Participa de conselhos de administração da Petrobras, Ministério de Minas e Energia, Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Além disto, como gestora do governo como um todo, fiscaliza e cobra pessoalmente o andamento de cada um dos projetos que gerencia. "É claro que ela não poderá permanecer tão assoberbada. Mas é ela quem deve definir do que abrirá mão", completou um integrante do diretório nacional do PT.

Dilma viajou ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e hoje fará, em Manaus, o balanço do PAC. Terá também uma reunião com prefeitos, secretários estaduais e representantes de empresas executoras das obras do PAC no Amazonas e participará de assinaturas de adesão ao programa das Casas Populares.

Os petistas reconhecem que o apelo da doença poderá sensibilizar os eleitores. "A coragem e a capacidade de superar momentos adversos geram uma empatia na população", afirmou a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), uma das parlamentares petistas mais próximas da chefe da Casa Civil. A avaliação das lideranças do partido é de que o combate a uma doença tão emblemática como o câncer pode tornar a figura dura e forte da ministra mais humana aos olhos dos eleitores.

PPS diz que Lula quer mudar poupança para atender lobby do sistema financeiro

Da Redação
DEU NO PORTAL DO PPS

A Executiva Nacional do Partido Popular Socialista (PPS) divulgou nota nesta segunda-feira (27) afirmando que o governo Lula quer alterar os rendimentos da caderneta de poupança não para proteger o pequeno investidor, como argumenta a equipe econômica, mas sim para atender o lobby do sistema financeiro. Para o partido, trata-se de uma escolha política do governo Lula para tentar manter a equação macroeconômica que tem proporcionado os maiores ganhos da história do sistema financeiro brasileiro.

Leia também: Alerta do PPS na TV sobre intenção de Lula de mexer na poupança tem grande repercussão

"O Partido Popular Socialista reitera que a questão da poupança tem um caráter técnico, mas adquiriu conotações políticas porque tal medida visa apenas atender ao forte lobby do setor financeiro, que tem se beneficiado enormemente da atual gestão econômica", diz o texto. A assunto ganhou grande repercussão na mídia após as inserções partidárias divulgadas pelo PPS em rede nacional de rádio e televisão alertando sobre a intenção do governo de mexer na caderneta de poupança. Leia abaixo a íntegra da nota.

A CADERNETA DE POUPANÇA E O “LOBBY” DO SISTEMA FINANCEIRO

Tendo em vista a repercussão da inserção de rádio e TV do PPS alertando a população sobre o desejo do governo Lula de mexer na poupança, o ativo financeiro mais popular do país, o Partido Popular Socialista reitera que a questão da poupança tem um caráter técnico, mas adquiriu conotações políticas porque tal medida visa apenas atender ao forte lobby do setor financeiro, que tem se beneficiado enormemente da atual gestão econômica.

Essa tentativa de mudança foi inventada pelos bancos – e assumida pela equipe econômica do governo – para manter o lucro do mercado financeiro, que cobra taxas de administração absurdas de até 4% ao ano para gerenciar os fundos de renda fixa, que são basicamente indexados à taxa Selic, enquanto no exterior, devido a uma maior concorrência do setor bancário, a taxa média de administração é de 0,5% ao ano. Quando a Selic era muito alta, tal custo era "diluído". Agora com ela chegando a um dígito, as taxas de administração tornam esses fundos não competitivos em relação à poupança. Este é o primeiro problema a ser enfrentado.

Assim sendo, uma questão aparentemente “técnica” é, na verdade, uma escolha política do governo Lula para tentar manter a equação macroeconômica que tem proporcionado os maiores ganhos da história do sistema financeiro brasileiro.

A verdadeira crise econômico-financeira pela qual o mundo passa, que teve como epicentro a ausência de regulação do sistema financeiro internacional e se reflete de forma intensa no Brasil, coloca para todos nós o retorno da centralidade da ação política como instrumento da cidadania não apenas para o enfrentamento momentâneo da crise mas, sobretudo, para assentar as bases de um novo desenvolvimento econômico, ambientalmente sustentável e socialmente justo.

Belo Horizonte, MG, 27 de abril de 2009

Comissão Executiva do Diretório Nacional do PPS

Existe limite até para a propaganda partidária

EDITORIAL
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Mesmo na política, onde alguns acham que é eticamente defensável o uso de quaisquer recursos à mão na luta pelo poder, não se admite que sofismas, insinuações ou atos impensados sejam usados em temas delicados, que provoquem especulações capazes de afetar a vida de toda a população. Isto é: qualquer que seja o conceito de um grupo acerca da maleabilidade ética da política, o que já é discutível, o uso da máxima "os meios justificam os fins" devem cessar imediatamente quando a segurança dos brasileiros como um todo é colocada em risco.

Isso cabe como uma luva à propaganda do PPS em cadeia de rádio e televisão, veiculada. Lá pelas tantas o deputado Raul Jungmann (PE) diz que "o governo vai mexer na poupança como fez o governo Collor". Quando o presidente do PT, Ricardo Berzoini, ameaçou entrar com uma representação no TSE contra a propaganda política, argumentando que o partido de Jungmann "utiliza de forma indevida o horário partidário para espalhar o pânico", o PPS soltou uma nota oficial incluindo uma vírgula na afirmação em cadeia nacional: "Em nenhum momento o PPS afirma que Lula vai confiscar o dinheiro da poupança. Disse, sim, que vai mexer na poupança, como Collor também mexeu. Aliás, o ex-presidente é aliado do governo do PT, que tem no seu rol de satélites todos os partidos do mensalão".

Tudo que o país não precisa neste momento é de uma corrida aos bancos - mesmo sem crise, aliás, isso é uma temeridade para todo o sistema. E a mudança nas regras de poupança que vêm sendo estudadas pelo governo em função da queda da taxa de juros básica da economia está dando ensejo a especulações que são incabíveis.

Se o PPS tivesse acusado o governo de estudar a redução dos rendimentos do investimento que e que é o mais utilizado pelas camadas mais pobres da população e lhes dá maior segurança, e se tivesse discordado veementemente dessa medida, estaria no seu papel. Poderia ter argumentado, com alguma razão, que a fórmula da poupança propicia um rendimento que hoje empata apenas com os fundos de investimento que têm taxas absurdas de administração, e que caberia antes pressionar os bancos a reduzi-las. Todas essas críticas, porém, seriam circunstanciais. Com inflação e juros em queda, a remuneração atual da poupança impediria o declínio dos juros nos financiamentos habitacionais e serviria de piso para a taxa de juros do país, paralisando a política monetária. Seria de se esperar do PPS uma alternativa à política em estudo pelo governo, mas ele ou não vê necessidade disso - o que é um erro - ou não tem opção a oferecer.

Em 16 de março de 1990, Collor bloqueou 80% de todos os depósitos do overnight, das contas correntes e das contas de poupança sobre o que excedesse NCz$ 50 mil - ou Cr$ 50, de acordo com a nova moeda -, que foram congelados por 18 meses e restituídos depois desse prazo em 12 prestações mensais, corrigidas pela inflação mais seis por cento ao ano. Quando sofisma, o PPS não diz, mas induz. É um jogo maroto: da afirmação de que Lula vai mexer na poupança como Collor fez, supõe-se que o PPS está dizendo que, se Collor bloqueou a poupança, Lula também vai bloquear; da frase seguinte, conclui-se que o partido quer dizer que, se Collor apoia Lula, o governo petista fatalmente vai fazer o bloqueio da poupança, como fez seu aliado no passado.

Vai contra qualquer regra do bom senso induzir a esse tipo de pânico. Isso vale para o PPS. E vale também para o PT. Em 2004, o deputado Nazareno Fonteles (PT-PI) apresentou uma emenda instituindo uma "poupança fraterna" por sete anos. Segundo o projeto, nesse período cada brasileiro poderia gastar apenas o correspondente a dez vezes o PIB per capita mensal, e o excedente seria depositado numa poupança compulsória, que seria devolvida apenas 14 anos depois. É certo que o projeto não tem chance de ser aprovado, mas cada vez que se fala de alteração na poupança, ele é apontado como a prova cabal de que existe intenção de fazer um confisco. O PPS induz perigosamente a especulações sobre a poupança e talvez o PT, com a imprevidência do deputado Fonteles, mereça isso. O Brasil, todavia, não merece.

Niterói - em memória do Holocausto

Graziela Melo

Rostos tristes, cansados, sofridos, doloridos, enrugados pelo tempo e pelas dores de uma guerra distante. Eu disse, distante? Não! Distante pode ser para os jovens da década de sessenta, setenta. Mas essa monstruosa guerra que terminou no ano de 1945, continua muito próxima de suas almas cheias de seqüelas. Foi isso que eu li no rosto de cada um dos presentes à solenidade para lembrar o holocausto, na Câmara dos Vereadores de Niterói, ontem à noite.

Os discursos carregados de lembranças das tragédias vividas, nos faziam sentir o quanto foram insultuosas as declarações do presidente do Irã Mahmoud Almadinejad, vergonhosas até mesmo para o seu próprio povo. Foi como se debochasse da humanidade.

O ato foi promovido pela Câmara de Vereadores de Niterói e conduzido pelo vereador Paulo Bagueira (PPS), presidente da casa. Presentes vários representantes de entidades judaicas do Rio e Niterói, o vice-prefeito da cidade José Vicente (PPS), o ex-deputado e procurador da ALERJ, Marcelo Cerqueira, o advogado de presos políticos Modesto da Silveira, o representante da FIRJAN, da OAB, entre outros.

Um dos objetivos do ato em memória do holocausto, foi, concomitantemente, homenagear Roland Paule Fichcheg(PPS), também judia, com o título de cidadã niteroiense.

Belíssima a apresentação do coral judaico de Niterói que tocou e cantou músicas produzidas pelos partizans da resistência ao nazi-fascismo.

Auditório lotado com a presença de muitos amigos da homenageada.

Uma bela e inesquecível noite.

E viva a PAZ!!!

Imagem arranhada

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO

Ao pedir ao povo que reze pela ministra Dilma Rousseff em um comício ontem à noite em Manaus, o presidente Lula deu início ao que pode vir a ser uma vergonhosa exploração da doença na campanha eleitoral.

Como era inevitável, a doença da ministra passou a ser o principal tema político do país, e partiu dos próprios petistas o sinal para que o tratamento do câncer entrasse para o rol dos fatores políticos ponderáveis na sucessão do presidente Lula. A própria ministra já colocara o tema na ordem do dia ao dar uma entrevista coletiva no Hospital Sírio-Libanês, no sábado, afirmando que, como todo brasileiro, está acostumada a enfrentar e superar desafios.

Foi uma sutil, mas eficaz, utilização da própria doença para ressaltar a figura pública que cultiva nos últimos meses, a de uma mulher lutadora, acostumada a vencer obstáculos pela vida.

Aliada à imagem de eficiente gestora pública à frente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), está criada a figura pública que pretende se apresentar ao eleitorado como a candidata oficial do presidente Lula.

A doença, segundo os próprios petistas, só turbinará essa imagem. Duas figuras importantes do governo, o ministro da Educação, Fernando Haddad, e o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia deram declarações coincidentes.

Os dois disseram que a doença poderá ajudar na imagem da candidata Dilma Rousseff, sendo que Garcia chegou a aventar a hipótese de que a maneira como ela enfrentou o anúncio oficial da doença deve ter uma repercussão boa nas próximas pesquisas de opinião.

Ela, de fato, portou-se muito bem no anúncio da doença, com altivez e coragem, dando toda transparência sobre o caso e o tratamento. Não ficou claro em que momento ela anunciaria oficialmente a doença, se é que o faria, se o jornal “Folha de S. Paulo” não tivesse publicado a notícia na sua edição de sábado.

Também o presidente Lula, o criador da figura da ministra Dilma como “mãe do PAC”, disse que ela terá duas prioridades, aparentemente conflitantes entre si: cuidar da saúde e se dedicar mais ainda à execução do PAC, trabalhando até 24 horas.

Ora, com o consentimento da própria, tudo indica que está sendo armado um esquema em torno da doença da ministra Dilma Rousseff, provavelmente para controlar a tendência inevitável de setores políticos já começarem a especular sobre um eventual Plano B caso ela não possa prosseguir no papel de candidata oficial. Ou talvez para turbinar mesmo uma candidatura que ainda não decolou.

O fato é que a candidatura Dilma só se sustentava, mesmo antes da doença, no apoio incondicional do presidente Lula, que tirou do bolso do seu colete uma alternativa para o PT, que não tinha nenhum nome forte que se impusesse naturalmente.

Lula, com a perspicácia política que Deus e a vida lhe deram, jogou alto ao escolher um “poste” que tinha qualidades iniciais para serem exploradas: uma mulher, e ainda por cima gerente eficiente, o que se contrapunha de frente com uma das principais armas oposicionistas, a eficiência da gestão pública das administrações de São Paulo e Minas, governados pelos potenciais candidatos tucanos José Serra e Aécio Neves.

Não importa se por enquanto o PAC não deslanchou, o que vale é o imaginário que está sendo criado há mais de um ano pelo presidente Lula.

Em política diz-se que só existem dois fatos importantes: o fato novo e o fato consumado.

O fato novo é que a doença da ministra impedirá que sua candidatura se transforme, pelo menos nos próximos meses, em um fato consumado.

Durante o tratamento, a não ser que acelere esse processo só vislumbrado no momento de levar a doença para os palanques eleitorais, as negociações políticas ficarão congeladas oficialmente, mas nos bastidores começarão a surgir novas hipóteses.

O PMDB já começa a querer ter a cabeça de chapa caso a ministra não possa se candidatar, na presunção de que se todos no PT são “japoneses”, na definição do ministro José Múcio, e, se a “japonesa” do Lula não puder concorrer, não há por que improvisar outro “japonês”, seja ele Patrus Ananias (o pai da Bolsa Família?), Fernando Haddad ou Tarso Genro.

O PMDB se arvora em dar a cabeça da chapa mesmo sem ter um japonês melhor do que os do PT. Talvez sonhando novamente com o governador de Minas, Aécio Neves. Mas essa seria uma manobra política tão radical que é difícil se concretizar.

Precisaria que Aécio se desligasse do PSDB, que o PT aceitasse ser vice na chapa, e que o presidente Lula apoiasse formalmente um candidato do PMDB oriundo do PSDB e que nada tem a ver com o PT.

Os partidos aliados do governo, em sua imensa heterogeneidade, já começam a se dispersar devido à incerteza do futuro. Uma coisa é seguir na canoa de Lula, outra bem diferente é ter que mudar de canoa no meio da travessia, mesmo que Lula continue à frente do projeto.

Muito tempo já se investiu na criação da candidata Dilma, e o tempo se reduziu para que uma nova tentativa saída do zero eleitoral seja feita.

Se é alentadora a lembrança de vários políticos que venceram o câncer e continuaram com sucesso na política — Ronald Reagan e John McCain, nos Estados Unidos, François Mitterand na França, o ex-governador Orestes Quércia, em São Paulo —, é preciso lembrar também que todos eles tinham uma história política consolidada, o que não é o caso da ministra Dilma Rousseff, que, com a ajuda do presidente Lula, está tentando montar uma figura política que nunca foi testada nas urnas e nem se submeteu ao estresse de uma campanha presidencial.

E que pode ter sua imagem arranhada se se concretizar estratégia de exploração eleitoral da doença que a acomete.

Exageros à parte

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Fala-se do tratamento a que a ministra da Casa Civil será submetida para liquidar um câncer linfático com uma gravidade que o enfrentamento da questão não tem, de acordo com a avaliação dos médicos e os recursos disponíveis na medicina.

Fala-se da candidatura à Presidência como se o nome de Dilma Rousseff não só já estivesse registrado na chapa apoiada pelo presidente Luiz Inácio da Silva, como consagrado pelo público de norte a sul do País.

Misturam-se as duas coisas como se a notícia de que a ministra descobriu um linfoma em estágio inicial desmontasse um esquema de sucessão presidencial desde já exitoso, com todos os compromissos já firmados, cujos signatários se vissem de repente desamparados e, por isso, precisassem arranjar logo o melhor substituto a fim de preservar seus projetos de poder.

Em volta de Dilma Vana Rousseff Linhares, 61 anos de idade, quatro meses de tratamento quimioterápico pela frente e, segundo os médicos, 90% de chance de cura, tudo de repente ficou superlativo: a comiseração, a admiração, a deselegância dos pragmáticos, a rudeza dos precipitados.

Com destaque especial para a manifestação do líder do governo no Senado, Romero Jucá, do PMDB: "É preciso aguardar como esse fato vai ser metabolizado emocionalmente pela opinião pública. Se a questão da saúde de Dilma for encaminhada positivamente, reforçará a imagem de que ela venceu a ditadura, a tortura e o câncer."

Se bem o líder se fez entender, há uma expectativa de que se possa tirar proveito eleitoral da circunstância vivida pela ministra da Casa Civil.

Há, também, a preocupação de que ganhe força a ideia de o PMDB apoiar a oposição, pois, segundo o senador Wellington Salgado, "o grupo serrista com certeza vai tentar tirar vantagem".

No PT, relata-se, o clima seria de abatimento geral pela ausência de um nome alternativo para disputar a sucessão do presidente Luiz Inácio da Silva.

Um exagero abissal, sob todos os aspectos: humano e político.

A apreensão desmedida frente ao quadro exposto pelos médicos não contribui para a serenidade emocional da ministra. O alarmismo abate e fragiliza.

Quem já enfrentou ou assistiu de perto ao enfrentamento de um câncer sabe o valor da racionalidade, do vencer cada passo com otimismo, do viver em ambiente de dedicação exclusiva ao problema, do pensar positivo e agir sem receio.

Atitudes materializadas à perfeição nas figuras do vice-presidente José Alencar e sua mulher Marisa.

A barulheira política seria apenas desnecessária não fosse também oportunista. Quem disse que Dilma Rousseff está fora do jogo por causa do tratamento? Quem disse que estaria com toda certeza "dentro", como candidata de fato, independentemente da saúde?

Objetivamente, nada aconteceu que tenha agora alterado os chamados rumos da sucessão. As inquietações de hoje postas no cenário de uma eventual impossibilidade de Dilma concorrer são as mesmas que já existiam em relação ao desempenho dela como candidata.

Quando partidos aliados ao governo levantam a hipótese de apoiar um candidato da oposição não contam novidade alguma. Apenas cometem a indelicadeza de atribuir a hesitação à saúde da ministra.

Qual deles já havia fechado com o presidente Lula uma aliança eleitoral para 2010? Nenhum. Só o PT, depois de resistir e aparentemente concluir que não havia outro jeito.

O maior ou menor sucesso da ministra como possibilidade ou realidade eleitoral não guarda relação com o problema relatado por Dilma e seus médicos no fim de semana.

Os fatores decisivos são outros e não serão postos na balança agora, 18 meses antes da eleição. Contrapostos a esse prazo os quatro meses necessários à conclusão do tratamento de saúde, vê-se o despropósito das especulações em curso.

Só fazem algum sentido se vistas dentro daquele cenário hipoteticamente desenhado pelo líder Romero Jucá, do "encaminhamento positivo dessa questão" que reforçaria a imagem "de que ela venceu a ditadura, a tortura e o câncer".

Mas isso significa usar o bem mais precioso de uma pessoa para manipulação político-eleitoral. E disso ninguém seria capaz, nem em situação de desmazelo moral completo.

Pela tangente

O pior que poderia acontecer hoje na Câmara seria o plenário derrotar o presidente da Casa, Michel Temer, rejeitando ou modificando por meio de "brechas" a proposta de restringir a cota de passagens aéreas ao uso exclusivo do parlamentar.

Temer perderia não apenas autoridade para "dentro" como ficaria sem créditos "para fora" e ainda perderia um patrimônio que ele e seu grupo dentro do PMDB vêm preservando para usar em 2010: força no partido, do qual é presidente licenciado.

Daí surgiu ontem a ideia de fazer a votação simbólica, mediante acordo de líderes. Sinal de que a maioria dos deputados fecha com a tese da "sagrada família".

A Lula o que é de Lula

Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - As informações que vêm do meio médico são as melhores, dentro do possível: Dilma Rousseff tem 90% de chances, ou mais, de ficar curada do câncer linfático. Isso não só é provável como acontece aos milhões mundo afora.

Quem não conhece montes de pessoas que têm ou tiveram câncer e vivem a vida normalmente?Os 10% de chance de algum tipo de complicação, porém, atiçam articulações políticas movidas por desejos ocultos, próprios da alma humana. Como se a polaridade Serra versus Dilma evaporasse da noite para o dia. A cada declaração formal, minimizando a doença, vem sempre um acréscimo sobre a "necessidade" de um "Plano B", o que deixa uns governistas aflitos, outros com apetite.

A palavra de ordem de Lula é "nada muda". A da oposição é que "ela vai sair dessa". Mas todos sabem que tudo depende de como Dilma vai atravessar o duro teste da quimioterapia, a cada três semanas, por quatro meses, com um outro prazo pairando no ar: certezas, só depois de cinco anos. O linfoma foi descoberto muito precocemente, dizem uns médicos. Mas é do tipo agressivo, ressalvam outros.

A prioridade de Dilma, mulher guerreira e cheia de horizontes, deve ser a de qualquer pessoa: tratar-se e curar-se. Enquanto isso, Lula cuidará de segurar as rédeas do processo sucessório, com uma desvantagem que ele rapidamente transformará em vantagem: até agora, ou é Dilma ou é Dilma, não há outro. E ele decide. Foi Lula quem sacou a candidatura Dilma, quem vai segurá-la até o limite e, caso realmente seja necessário, quem apontará o Plano B. Mais uma vez, o PT e os aliados vão acatar e seguir.

Ou seja: há uma divisão de tarefas. Lula trata da estratégia e de conter o apetite dos aliados. Dilma combate o câncer e o medo do eleitorado, pois uma natural solidariedade não se converte automaticamente em votos em 2010. São imensos desafios.

Ponto de inflexão na sucessão de 2010

Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Queira ou não o presidente da República, o fato é que a doença da ministra Dilma Rousseff recolocou a questão da candidatura do PT à sucessão de 2010 no radar dos políticos. Nada "abominável", como sugeriu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apenas um dado novo da conjuntura política. Pode dar em nada, mas no momento é o que agita os bastidores de Brasília.
À primeira vista, vencendo o câncer, Dilma pode até sair com sua candidatura fortalecida. Mas o cenário da próxima eleição presidencial sem o nome da chefe da Casa Civil na chapa é assunto inteiramente novo, sobre o qual não é nem "infundado", nem "desrespeitoso" especular, apesar da contrariedade de Lula.

O PT nem Lula têm uma opção a Dilma. A candidatura da ministra começou de maneira confusa, mas com o passar do tempo foi assimilada pelo partido, pelos aliados e, tudo indica, também já começa a ser percebida melhor pela população.

Uma candidatura com perfil difícil para a oposição contornar: mulher, mineira com carreira feita no Rio Grande do Sul (paragem hostil a Lula, na última eleição presidencial) e um padrinho, forte, popular (em torno dos 65% do eleitorado) e considerado quase imbatível no Nordeste, região que concentra aproximadamente 32% do eleitorado brasileiro.

É certo que o PT imaginava a ministra bem à frente das pesquisas, já agora no fim de abril. Mas não pensava em substituí-la. O partido é conhecido por sua mania de superestimar as próprias possibilidades - nas eleições municipais de 2004 chegou ao delírio de imaginar que elegeria 1 mil prefeitos, mas não chegou a 500, apesar das malas do empresário Marcos Valério de Souza e tudo mais.

Dilma nunca foi uma candidata orgânica. Ela é a candidata de Lula e do governo. O PT se rendeu a ela. Sem a ministra, o nome da base aliada que salta aos olhos é o de Ciro Gomes (PSB), veterano de duas campanhas eleitorais e atualmente à frente da ministra nas pesquisas de opinião. É um nome do qual Lula já esteve mais próximo e que o PT não engole.

O PT, nessa hipótese, tem mais de um nome para colocar sobre o pano verde. O PMDB imagina poder cooptar o tucano Aécio Neves, com o auxílio de Lula, mas este é um cenário talvez ainda mais favorável a José Serra, o atual líder das pesquisas de opinião - a avaliação política é que é muito difícil a adesão de grande parte do PT e da banda serrista do PMDB ao governador de Minas Gerais.

Resumo da ópera: com Ciro, Aécio e o PT com dois ou três nomes, o Palácio do Planalto não tem uma opção capaz de catalizar o governismo em torno de um projeto de continuidade. Aumentam, assim, as responsabilidades de Lula, que terá de governar esse imbróglio, em vez de fazer campanha, como atualmente faz para Dilma, o que, sem dúvida, é bem mais confortável do que arbitrar interesses..

Pior ainda, com uma crise de instituições a emoldurar o cenário abre-se caminho para aventuras que se julgava passadas, como a reapresentação da proposta do terceiro mandato para o presidente da República. no segundo semestre.

A Câmara está encurralada com um escândalo de fácil percepção popular, como é o caso do deputado que usa sua cota de passagens para namorar a apresentadora de TV famosa. E o Supremo Tribunal Federal, encalacrado numa guerra de vaidades que nada contribui para o equilíbrio das instituições. Por certo, um terreno fértil para aventuras.

O problema para os cultores do terceiro mandato é que, além de Lula ter dito sempre que não quer, o atual Congresso, desmoralizado pela sucessão de escândalos que não são de hoje, não tem legitimidade para dar mais um ano de governo a ninguém. Mesmo que esse alguém se chame Luiz Inácio Lula da Silva e conte com a aprovação de 65% do eleitorado.

Resta ao PT, no curto prazo, esperar e conter as ambições alopradas ou irresponsáveis que possam desestabilizar a candidatura da ministra mais que uma doença cujo prognóstico é de 95% de cura. Alguns petistas e integrantes da base aliada saíram na frente e já procuram alternativas para ajudar na travessia dos quatros meses previstos para o tratamento do câncer diagnosticado na axila esquerda de Dilma.

São várias as sugestões do PT e de partidos aliados. Dilma, por exemplo, deve ser poupada da burocracia diária e se restringir a dar pitacos na economia, mas sempre para anunciar o que for bom. Discute-se também selecionar prioridades para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), carro-chefe da campanha da ministra - o programa é pulverizado demais, algumas obras entraram por interesses meramente paroquiais, o que só leva ao emagrecimento dos percentuais de execução do programa - enfim, uma propaganda ruim.

A ministra também foi aconselhada a deixar a cadeira de alguns dos conselhos de administração de que participa. Talvez deixe o da Petrobras, o mais trabalhoso deles. Na política, a articulação para a escolha do candidato a vice do PMDB deve entrar em banho-maria - a disputa pela vaga é cada vez mais encarniçada entre os governistas do partido, sejam eles deputados, senadores ou governadores estaduais. Até o ministro Hélio Costa (Comunicações), bem cotado para o governo de Minas, anda se habilitando ao cargo.

Água debaixo da ponte

A máxima segundo a qual um ano e meio é muito tempo antes de qualquer eleição, pois tudo pode acontecer no periodo, é uma das preferidas dos políticos, especialmente para fugir de perguntas incomodas. Mas a crônica das últimas eleições parece lhes dar razão: em abril de 1988, ninguém podia imaginar a final Fernado Collor e Lula, em 1989; em 1993, Fernando Henrique Cardoso nem era ministro da Fazenda, enquanto em 2001 José Serra era o provável candidato da máquina tucana que em 1998 reelegera FHC.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

Os amigos de Tim Geithner

Luiz Gonzaga Belluzzo
DEU NO VALOR ECONÔMICO


A edição de segunda-feira, 27 de abril, do jornal New York Times oferece aos leitores a biografia profissional de Timothy Geithner, o atual do secretário do Tesouro dos Estados Unidos. A matéria pretende desvendar as relações entre Geithner e o mundo da alta finança, como se as relações incestuosas entre o Estado e os mercados fosse novidade.

Ainda assim, o rol de equívocos promíscuos cometidos por Geithner em sua função de autoridade reguladora, presidente do Fed de Nova York, é impressionante. Entre tantas proezas figura com "aplomb" afirmação em 15 de março de 2007: "As inovações financeiras, como os derivativos, melhoraram a capacidade de avaliar e administrar os riscos". Para Geithner "as maiores instituições estavam em geral mais fortes no que diz respeito aos requerimentos de capital em relação ao risco". O palpite infeliz foi pronunciado em 2007, quando a crise financeira já mostrava os dentes e afiava as garras. Dois dias depois, entrevistas e gravações mostram que Geithner trabalhou nos bastidores para reduzir o capital dos bancos. A crise veio brava e os amigos do Dr. Geithner foram pegos no contrapé, com capital e reservas insuficientes para contrabalançar as perdas. Remeto o leitor desejoso de informações mais completas sobre as façanhas de Tim Geithner ao texto do NYT.

O propósito aqui não é individualizar as responsabilidades, mas repetir o que já foi dito em outra ocasião no espaço que o jornal Valor generosamente me concede: desde sua fundação, mas sobretudo na posteridade da Guerra de Secessão, o peso dos interesses e os interesses de peso transformaram o Estado americano numa caricatura da República, num mercado de influências e relações perigosas. Essa engrenagem controla o Estado por dentro e precisa produzir as condições que a ajudem a reproduzir a si mesma. Não é, portanto, surpreendente que os episódios de promiscuidade se multipliquem. Os liberais querem resolver isto fazendo com que o Estado deixe de se intrometer nos assuntos econômicos. O problema desta sugestão é que, a despeito das lamentações dos liberais, são os mercados se intrometem na política.

Em um de seus derradeiros ensaios, "A Economia das Fraudes Inocentes", John Kenneth Galbraith fala dos Estados Unidos, a economia capitalista mais avançada do planeta e, por isso mesmo, o país em que as relações entre o público e privado se apresentam sob a forma mais evoluída. Ele diz: "A intrusão do setor nitidamente privado no setor público se generalizou.

Dotados de plenos poderes na grande empresa moderna, é natural que os executivos estendam este papel para a política e para o Estado". As recentes investidas neoliberais conseguiram desfigurar algumas das dimensões do Estado do Bem-Estar, a dano dos subalternos.

O Estado está cada vez mais envolvido na sustentação das condições requeridas para o bom desempenho das suas empresas na arena da concorrência generalizada e universal. Elas dependem do apoio e da influência política de seus Estados nacionais para penetrar em terceiros mercados (acordos de garantia de investimentos, patentes etc.), não podem prescindir do financiamento público para suas exportações nos setores mais dinâmicos e seriam deslocadas pela concorrência sem o benefício dos sistemas nacionais de ciência e tecnologia. Muito menos podem dispensar o papel crucial das políticas do Estado quando a euforia do ciclo financeiro e de investimento leva à sobre acumulação produtiva e à ameaça de desvalorização da riqueza.

As transformações ocorridas nas últimas décadas não se propõem a reduzir o papel do Estado, nem enxugá-lo, mas almejam aumentar sua eficiência como agente da acumulação capitalista, em detrimento do seu papel "social". Em alguns países, como nos Estados Unidos da era Bush, o deslocamento do eixo das políticas do Estado é de uma evidência chocante, com o inequívoco enfraquecimento das políticas sociais.

Deveria ser óbvio que a parolagem dos mercados livres serviu aos senhores da grana para colocar a seu serviço as forças da política. Imagino que até mesmo os vendedores de cachorro-quente nas alamedas de Wall Street saibam do contubérnio entre autoridades reguladoras e instituições (des)reguladas.

A concorrência entre as grandes empresas e bancos não só impõe a presença do Estado nos negócios, mas promove a captura da função reguladora pelos privados e incita a luta pela apropriação de recursos fiscais. Os agentes de favorecimentos estão por toda a parte, surgem dos cantos, brotam das paredes dos edifícios públicos. Tentar caçá-los como quem organiza um safári é candidatar-se a um monumental fracasso. O jogo abusivo e agressivo de influências não raro culmina em acusações recíprocas.

As denúncias de corrupção escancaradas pelos meios de comunicação não raro fazem parte da rivalidade cruenta entre grandes empresas e grupos econômicos poderosos. Os protagonistas do minueto entre a lei e sua transgressão sistemática não sabem, mas fazem: dançam conforme os desígnios das relações promíscuas entre a esfera pública e os interesses privados, típicas da economia moderna. Nelas se enlaçam o arbítrio, o segredo, a obscuridade e a denúncia escandalosa, vícios constitutivos do modo de funcionamento do capitalismo realmente existente.

O jogo plutocrático não tem outra regra senão a usurpação sistemática dos princípios do Estado de Direito para uso particular. (A palavra ética frequenta certos círculos que podem comprometer sua reputação.)

Diante da sucessão de episódios sombrios, alguém pedirá a palavra para proclamar que os desmandos das autoridades e as práticas ilícitas são inerentes à natureza humana. Invocar a "natureza humana" é um recurso de preguiçosos. É possível demonstrar que, em certos momentos da história recente, as crenças, os valores e as praticas dominantes na sociedade - a ética, diria Hegel, não os arroubos de moralismo narcisista - conseguiram acuar a corrupção nos becos escuros da vida social.

Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo , ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, e professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, escreve mensalmente às terças-feiras.

Dois fantasmas

Panorama Econômico - Míriam Leitão
DEU EM O GLOBO

O mundo não se recuperou da crise econômica e, agora, o fantasma de uma pandemia aflige os países. A gripe suína não poderia chegar em pior momento. Ela agrava a incerteza, diminui o comércio mundial, que este ano já está encolhendo, afeta preços das commodities e espalha o vírus do medo, o pior companheiro da economia. O México enfrenta várias calamidades.

Com medo, o consumidor, de qualquer país, paralisa decisões econômicas, posterga viagens e compras, adota posições defensivas que, em geral, têm efeito paralisante na economia. O mundo estava começando a ver sinais de luz no horizonte. A revista The Economist alerta, inclusive, que nem se pode ainda concluir desses sinais que “o pior passou”. A revista aconselha esquecer a expressão, porque ela desmobiliza os esforços governamentais e empresariais de superação da crise econômica.

Dois terços dos 42 mercados de capitais que a Economist acompanha registraram altas de mais de 20% nas últimas seis semanas.

Apesar disso, a crise bancária não foi resolvida, e o PIB mundial vai encolher pela primeira vez em 60 anos. O FMI alerta para a devastação que a crise vai provocar entre os pobres.

É sobre este corpo debilitado pela crise econômica que recai o risco de uma pandemia. Controlar e debelar este risco é um desafio de saúde pública e uma emergência econômica.

Num mundo globalizado, tudo se espalha como rastilho de pólvora: o pânico econômico, os vírus de uma doença.

O México está em recessão, teve ontem um terremoto e enfrenta o pânico da gripe suína cancelando a vida normal: foram fechados cinemas, museus, teatros, escolas. Mas o problema não é mexicano. Houve reflexos e tensão no mundo inteiro.

Como isso afeta a economia brasileira? Os especialistas divergiam ontem.

Os produtores de carne suína se esforçavam para esclarecer que a doença está sendo transmitida de pessoa a pessoa, não através da carne do animal. Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs, acredita que o preço da carne suína não deve ser impactado e se irrita até com o nome da doença.

— Esse é um erro grosseiro para ser reparado. Este é um problema muito sério de saúde pública, mas a propagação é de homem a homem.

É um equívoco esta denominação e as coisas vão se esclarecer. É um problema de saúde pública, não dos rebanhos. A preocupação é não infectar pessoas.

O Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de carne suína e amarga uma queda de 20% no preço por causa da crise econômica.

Em termos de volume exportado, a situação estava começando a se normalizar.

Outra reação instantânea, que pode nos afetar, é nos preços das commodities, que ontem reverteram o movimento de recuperação dos últimos tempos. Fábio Silveira, da RC Consultores, não se surpreendeu com o movimento.

— A reação instantânea, óbvia, é a queda no preço e nas exportações de suínos.

O maior prejudicado deve ser o estado de Santa Catarina, o maior produtor nacional de carne suína. Outra queda óbvia é nos preços dos grãos. Isto porque cerca de 80% do custo de produção dos suínos é com os grãos, grande parte com farelo de milho e outra parte com soja. Então, a demanda desses produtos deve ceder momentaneamente, pela restrição ao consumo de suínos, que deve ser global.

David Kirby, jornalista que está escrevendo um livro sobre produção animal em escala industrial, descreveu no blog HuffingtonPost as condições de produção de carne suína no México. É uma produção em confinamento, em galpões enormes, com milhares de porcos criados em condições sanitárias precárias, com muita circulação de trabalhadores. Como os galpões são abertos, pássaros entram e criam-se as condições ideais para a mistura de vírus de gripes humana, aviária e suína. Há uma região no sul do México em que a gripe suína é endêmica, e o que aconteceu agora foi a mistura dos patogênicos. Kirby entrevistou especialistas, como Ellen Silbergeld, professora da Johns Hopkins, e ela disse que esses galpões de criação, chamados “cafos”, não são “biosseguros”.

O especialista em comércio exterior Joseph Tutundjian disse que não acredita que isso terá grande impacto na exportação brasileira.

— O Brasil já acumula US$ 5 bilhões de superávit comercial e nem entraram ainda os grãos, que só entram em maio. O preço da soja está caindo hoje, mas os preços das commodities têm recuperado seu valor. É uma reação momentânea. Acho que essa preocupação não vai afetar tanto o comércio como se imagina. Mas confesso que se tivesse que pegar hoje um avião para fazer negócio no México, eu não iria. Aliás, uma viagem longa, dentro de um avião, neste momento, parece mesmo perigosa — admitiu.

As empresas aéreas e de turismo, o comércio de alimentos, são áreas econômicas sob grande incerteza e, por isso, as ações de empresas como a Friboi e a Tam caíram ontem. Laboratórios que têm remédios que já se provaram efetivos em conter a enfermidade estão com a demanda explodindo em todo o mundo. Tudo o que não precisava acontecer, aconteceu. O mundo vive o medo de dois fantasmas.

Porcos com asas

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Vírus dito "suíno" contagia mais a imaginação, ainda mais no Brasil de endemias como a dengue e das mortes por tiros

O QUE SE FAZ quando vírus da gripe dos porcos com asas viajam do México para os territórios assépticos dos Estados Unidos e da Europa? Compram-se ações de laboratórios que produzem antivirais, vendem-se ações de companhias aéreas, hoteleiras e de cartão de crédito (com o "choque de confiança viral", as pessoas ficariam mais em casa, comprando e viajando menos).

Liquidam-se posições no mercado futuro de pernas e toucinho de porco em Chicago (sic).

Por fim, roda-se um modelo matemático a fim de medir o impacto do vírus "suíno" nos mercados, baseado no efeito passado do vírus da Sars na Ásia, em 2003, como certos bancos já faziam ontem (sic). Sim, isso apesar de vírus derivativos como CDS, CDOs, ABMS e outros ainda contaminarem a banca mundial.

Estamos doentes de hipocondria? Há risco de comer porco? Sim, claro: se o animal estiver vivo, falar e tossir no nosso rosto enquanto tentamos comê-lo em um eventual trem contaminado da Cidade do México.

Decerto, vírus agora têm asas e viajam continentes em horas; as pestes do passado levavam meses para ir de Istambul a Veneza. Cientistas dizem que, se brincarem em serviço, as pestes gripais podem se tornar assassinas rapidamente.

Mas, por ora, mais evidente e curiosa é a rapidez do contágio midiático, em especial no Brasil, em que a Bolsa caiu mais porque produzimos commodities (nossos "infecciosos" minérios, grãos e carnes). Há brasileiros preocupados com o risco de viajar para os viróticos Canadá e EUA. O que é uma dengue hemorrágica tipo "n" perto de um vírus "suíno", certo? Malária deve ser fichinha; morrer de tiro em São Paulo, Rio ou Recife, também. O medo talvez venha do fato de que as pessoas temerosas pensem viver em mundos murados da quarentena social.

Mas o contágio é, por ora, informacional, digamos. Os mundos assépticos e de sabonetes antissépticos (péssima mania americana), em que as pessoas se desacostumaram a morrer feito moscas, entram em pânico rapidamente. Por tabela, contaminados pela predominante massa de informação que vem de EUA e Europa, também ficamos "doentes" pela informação viral, apesar do Aedes zanzando nas cercanias.

O contágio midiático funciona um tanto como no caso de genocídios ou atentados terroristas: um morto "branco e de olhos azuis", para citar Lula, repercute muito mais que os de Ruanda, Congo, Bangladesh, Bósnia. Sim, não vamos muito a Bangladesh. Mas quantas pessoas pegaram dengue em Nova York?

Em 2003, houve o medo da Sars ("síndrome respiratória aguda grave"), que explodiu entre novembro de 2002 e julho de 2003, em particular na Ásia, infectando pouco mais de 8.000 pessoas e matando 774 nesse período -balançou um tico a economia de Hong Kong, apesar do alerta global. Pouco depois, surgiu a gripe aviária, de 421 infectados e 257 mortos pelo mundo até agora, segundo a OMS -não foi para a frente.

Tomara que o vírus dito "suíno" nem chegue a fazer parte desse número de vítimas. E, dadas as más notícias dos vírus demasiado humanos, os financeiros, não precisamos de mais epidemias.

Mas, por ora, talvez estejamos apenas doentes de tédio e excesso de informação ruim.