terça-feira, 2 de junho de 2009

O PENSAMENTO DO DIA – Hegemonia (5) – (Gramsci)

Daí ser possível dizer que a personalidade histórica de um filósofo individual é também dada pela relação ativa entre ele e o ambiente cultural que quer modificar, ambiente que reage sobre o filósofo e, obrigando-o a uma permanente autocrítica, funciona como “professor”. Compreende-se assim porque uma das maiores reivindicações das modernas camadas intelectuais no campo político foi a da camada “liberdade de pensamento e de expressão do pensamento (imprensa e associação)”, já que só onde existe esta condição política se realiza essa relação de professor-discípulo no sentido mais geral, acima mencionado; e, na realidade, só assim se realiza “historicamente” um novo tipo de filósofo, que se pode chamar de “filósofo democrático”, isto é, do filósofo consciente de que a sua personalidade não se limita à sua individualidade física, mas é uma relação social ativa de modificação do ambiente cultural. Quando o “pensador” se contenta com o próprio pensamento, “subjetivamente” livre, isto é, abstratamente livre, é hoje motivo de troça: a unidade entre ciência e vida é precisamente uma unidade ativa, somente nela se realizando a liberdade de pensamento; é uma relação professor-aluno, uma relação entre o filósofo e o ambiente cultural no qual atuar, de onde recolher os problemas que devem ser colocados e resolvidos; isto é, é a relação filosofia-história.”


Antonio Gramsci – Cadernos do Cárcere, volume 1, págs. 399-400, - Civilização Brasileira, 2006.)

Temer apela a remendo de texto

Izabelle Torres
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Presidente da Câmara agora tenta votar mudanças específicas nas regras eleitorais, entre elas a liberação de propaganda política na internet e a possibilidade de realizar eventos de pré-campanha

Diante das divergências partidárias e da dificuldade para que a Câmara dos Deputados aprove este ano a reforma política, o presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), resolveu apelar para um plano B. Encomendou um projeto de lei propondo a liberação de campanhas pela internet, a possibilidade de realização de eventos de pré-campanhas e a proibição de financiamento por empresas privadas. A proposta foi elaborada pelo deputado Flávio Dino (PCdoB-MA) e será discutida ainda esta semana com os líderes de legendas. “A ideia é promover uma espécie de reforma eleitoral para fazer valer novas regras já em 2010. Precisamos tomar as rédeas do sistema eleitoral em vez de deixar na mão do Judiciário. O texto é simples e evita temas polêmicos”, diz o autor.
De acordo com a proposta alternativa apadrinhada pelo presidente da Câmara, as doações para partidos e candidatos poderão ser feitas em um sistema misto, que envolva o repasse da União por meio do fundo partidário e as contribuições de pessoas físicas.

Outra mudança que o projeto prevê é a possibilidade de realização de eventos de pré-campanhas. Ao estilo americano, a legislação brasileira passaria a permitir a presença dos candidatos em encontros e reuniões de cunho eleitoral, desde que os custos fossem pagos pelos organizadores — que não podem ser pessoas jurídicas — ou pelo próprio político. A proposta também libera o uso da internet para a realização das campanhas, permitindo a utilização de ferramentas como e-mails, orkut, blogues e twiter.

De acordo com Flávio Dino, a prioridade do projeto de lei é flexibilizar algumas regras que normatizam as campanhas e fornecer contrapartidas aos políticos, que deixarão de contar com a ajuda financeira de empresas privadas.

Mas o plano alternativo ainda enfrenta obstáculos. Para garantir a aprovação da matéria antes de setembro, prazo limite para mudar as regras para as próximas eleições, o presidente da Casa terá de convencer os parlamentares de que é melhor aprovar uma proposta simplista, que deixe temas polêmicos como a fidelidade partidária para depois, a enfrentar uma nova disputa submetida às regras e normas editadas pelo judiciário utilizando brechas deixadas pelo próprio legislativo.

Além disso, Temer precisa convencer seus pares a desistir da ideia de antecipar a data permitida para o início do recebimento das doações de campanhas, hoje estipulada em junho do ano do pleito. Deputados alegam que só votarão a favor da proibição do financiamento por empresas privadas se puderem ter mais tempo para convencer eleitores a contribuírem com suas candidaturas. “Há uma pressão para que antecipemos em alguns meses o prazo para o início dos repasses. Mas para isso seria necessário fazer uma ampla reforma. Nossa missão é conscientizar os colegas de que nosso projeto é uma alternativa a curto prazo. A permissão para que os pré-candidatos participem de eventos já é uma boa compensação”, defende Dino.

ALTERAÇÕES

· Consolida resoluções editadas pelo TSE sobre normas para as campanhas, incluindo itens como tamanhos de placas e distribuição de material de publicidade

· Prevê um sistema de financiamento misto de campanha. O atual sistema de financiamento público por meio do fundo partidário continua valendo, mas pode ser somado apenas a doações feitas por pessoas físicas aos próprios candidatos. Ficam proibidas as doações de empresas privadas

· Permite que doações feitas por pessoas físicas possam ser realizadas pela internet e por meio do cartão de crédito

· Possibilita a realização de eventos de pré-campanha, caso sejam financiados por grupos de eleitores ou pelos próprios candidatos

· Libera o uso da internet para a realização de campanhas. Atualmente os candidatos podem utilizar apenas sites oficiais

Oposição cobra empenho tucano

Tiago Pariz
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Diante do crescimento da intenção de votos da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os partidos de oposição cobram do PSDB mais empenho na corrida eleitoral. PPS e DEM pressionam tucanos a antecipar campanha e definir o candidato do partido: o governador de São Paulo, José Serra, ou de Minas, Aécio Neves.

A cúpula do PSDB, também exigida internamente, promete responder. A ideia é aumentar a exposição do partido, mas não se fala sobre antecipação das prévias para escolha do candidato.
“Nós vamos intensificar a campanha de oposição ao governo e entrar com a campanha no segundo semestre”, disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). A ofensiva terá campanha em rádio e televisão, além de encontros temáticos pelo Brasil. A primeira reunião tratará de políticas públicas voltadas para as mulheres.

As inserções terão como mote apontar falhas do governo Lula. Os tucanos vão explorar as medidas tomadas para taxar a poupança e ineficiências do programa Minha Casa, Minha Vida. Uma das metas é mostrar o que pensa e o que deseja a população. O secretário-geral do PSDB, deputado Rodrigo de Castro (MG), reconhece haver problemas na estratégia de comunicação.
“Estamos preocupados com a comunicação do partido”, disse. Para ele, uma resposta forte ao crescimento da pré-candidata do governo é acelerar as negociações sobre as alianças estaduais para 2010. O objetivo é ganhar terreno com a campanha nos estados.

DEM e PPS gostariam que os tucanos já estivessem em campanha estabelecendo um contraponto a Dilma e Lula. “O PSDB adora ficar em cima do muro. É tanta tucanice que acaba prejudicando. Não precisa ficar enrolando. A Dilma já está em campanha quem ganha com isso é o governo. A oposição só perde”, disse o vice-presidente do PPS, Geraldo Thadeu.

Patamar

A ideia que antes se limitava aos dois partidos aliados começa a ganhar adeptos no PSDB. O argumento para levar Serra às ruas é não perder o patamar próximo de 40% que ele conquistou, além de trabalhar para limitar o crescimento de Dilma. O governador de São Paulo acredita que se ceder a essa pressão poderá se desgastar. Aécio Neves toparia a iniciativa. Ele tenta convencer Serra a bancar a saída dos dois pelo país para divulgar as propostas tucanas.

Para não cair na retórica de que Lula e Dilma discursam sozinhos, a cúpula tucana diz ser esperado o crescimento eleitoral da ministra nas pesquisas de intenção de votos. “Nós aferimos esse crescimento da Dilma há 60 dias, não é novo”, disse o presidente tucano. Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) encomendada ao Instituto Sensus mostrou empate técnico entre Dilma e Serra na pesquisa espontânea, na qual o entrevistado não tem acesso a uma lista com nomes pré-determinados. O tucano tem 5,7% das respostas e a petista, 5,4%. Aécio aparece com 3%. O campeão de menções ainda é Lula, com 26,2%.

No levantamento estimulado, com lista pré-determinada, o governador de São Paulo vence todos os cenários. Ele atinge seu maior percentual (45,9%) quando concorre com Heloisa Helena (PSol), que aparece com 13,3%, e o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, com 10%. A ministra Dilma tem entre 22,3% e 27,8%. O menor índice é aferido quando ela concorre com José Serra (38,8%), Heloisa Helena (10,3%) e Ciro Gomes (9%). Enquanto Serra teve queda de 5,3 pontos, a chefe da Casa Civil registrou crescimento que varia de 7,9 a 13,9 pontos percentuais. A aprovação pessoal de Lula chegou a 81,5% em maio contra 76,2% em março. O índice se aproximou do recorde histórico de 84%, registrado em janeiro deste ano.

Pré-candidatos têm encontro cordial em SP

Silvia Amorim
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em evento sobre etanol, Serra e Dilma tentam reduzir a importância dos resultados da pesquisa

Depois de participarem de um evento juntos em São Paulo, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o governador paulista, José Serra (PSDB), adotaram ontem discursos parecidos sobre as recentes pesquisas de intenção de voto para a corrida presidencial de 2010. Os dois tentaram reduzir a importância dos resultados. Dilma disse que as sondagens são "retrato volátil". Serra, embora satisfeito, afirmou que se tratava apenas de "mais uma pesquisa".

"Acho que pesquisa é uma coisa volátil, ela retrata o momento. É um sobe e desce, não é uma coisa muito real. Ninguém pode nem achar bom pesquisa nem ruim. Ela é passageira", afirmou Dilma, principal nome do governo à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Serra agradeceu a população pela liderança nos levantamentos e o aumento da aprovação de sua gestão, mas repetiu a crítica que vem fazendo há meses sobre a antecipação do debate eleitoral de 2010. "Eu não estou em campanha. Acho que é cedo para ver campanha nacional", disse.
"Não estou fazendo política nem tendo presença nacional através de atos administrativos e propaganda", completou, sem dizer se era uma crítica a alguém em especial.

Há poucos dias, o governador acusou diretamente o PT e o governo federal pelo debate prematuro sobre 2010. Ontem, ao lado de Dilma, ele preferiu não apontar culpados.

CLIMA

No palco, o clima entre os dois foi amistoso. Serra, o último a chegar, cumprimentou Dilma com um abraço. Eles acompanharam juntos a parte final da abertura de um evento sobre etanol promovido pelo setor sucroalcooleiro na capital paulista e despediram-se.

Questionada, a ministra, que faz tratamento para curar um linfoma, voltou a falar de sua saúde. "Acho que de certa forma (a doença) me fez ficar mais de bem comigo mesma", disse. Em seguida, agradeceu o apoio da população. "Acho fantástica a quantidade de cartas que recebo, de medalhinhas, de imagens de Nossa Senhora, de sugestões como tomar extrato de própolis. É algo que você fica extremamente sensibilizado."

Filiado ao PPS, Itamar é cotado para vice de tucano

César Felício, de Belo Horizonte
DEU NO VALOR ECONÔMICO


O ex-presidente Itamar Franco, que se filiou discretamente ao PPS na semana passada, poderá ser candidato a vice-presidente em 2010, em uma chapa encabeçada pelo governador paulista, José Serra (PSDB). A possibilidade foi mencionada por um integrante da direção nacional do PPS e por um aliado do governador mineiro Aécio Neves (PSDB), que disputa a candidatura presidencial tucana contra Serra.

De acordo com ambos, a presença de Itamar na chapa de Serra seria articulada pelo próprio Aécio, na hipótese de o governador mineiro não conquistar a candidatura presidencial, hoje vista como a mais provável. O ex-presidente, que terá 80 anos na eleição de 2010, permitiria assim a Aécio escapar da equação partidária montada por Serra e pelo DEM, que querem uma chapa presidencial formada pelos dois governadores, com o paulista na cabeça.

Se não conseguir a candidatura presidencial, que permanece sendo seu plano principal, Aécio prefere disputar o Senado. Concorreria em uma eleição tranquila e poderia aspirar a um papel protagonista na política mesmo se Serra eventualmente perdesse.

Itamar é o único político mineiro que poderia substituir Aécio na chapa oposicionista, garantindo assim a Serra um elo com o Estado. Além disso, por não ser do PSDB, atende ao principal argumento usado pelo governador para recusar a candidatura a vice. Sem partido desde que perdeu a indicação do PMDB para o Senado em 2006 para o ex-governador Newton Cardoso, Itamar é um aliado de Aécio.

Quando governador de Minas, em 2002, trabalhou pela sua eleição para o primeiro mandato. Aécio garantiu espaço para Itamar dentro do governo. Nomeou o ex-presidente para a presidência do Conselho de Administração do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais e manteve itamaristas em postos-chave da administração. Um deles é o presidente da Cemig, o ex-ministro das Comunicações Djalma Moraes.

Desde o início do ano, Itamar deixara claro o interesse em retornar à política partidária. Oscilava entre o PDT - partido que faz parte tanto da base de Aécio quanto da do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - e o PPS, situação em Minas e oposição no plano nacional. Aécio recebeu indicações de que Itamar iria se compor com a oposição em março.

Procurado pelo Valor, o ex-presidente não retornou o pedido de entrevista. Ao jornal "O Tempo", no fim de semana, Itamar disse "não estar pensando eleitoralmente" ao buscar filiação partidária. Colocou-se como oposição ao governo Lula e afirmou que a proposta de emenda constitucional para viabilizar o terceiro mandato de Lula, tentada por integrantes do PMDB e do PT, é uma quebra da ordem democrática. E disse que Aécio estaria preparado para apoiar o rival na disputa interna.

"O governador Aécio Neves está certo de querer as prévias. Se ele depender só da executiva nacional do PSDB, dificilmente terá chances de superar o governador de São Paulo. O governador Aécio não tem mais condição de mudar de partido. Essa janela para mudança de partido de seis meses, sob a minha ótica, não cabe no perfil do governador Aécio. Se ele disputa as prévias, ele vai respeitar e o resultado. Aécio é muito ético. Se ele perder - tomara que não -, ele não deverá sair do partido", comentou o ex-presidente, segundo a publicação.

Lula faz a diferença

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO

As pesquisas de opinião divulgadas nos últimos dias, da CNT/Sensus e do Datafolha, têm boas notícias para todos, dependendo da leitura que se faça. O crescimento da candidatura da ministra Dilma Rousseff a coloca como uma candidata consolidada, não fossem os problemas de saúde, que continuam sendo uma barreira para que o PT e os partidos aliados do governo fechem acordos definitivos.

Mas o fato de a candidata de Lula ainda estar abaixo do nível que se convencionou ser o patamar básico do petismo, de cerca de 30% do eleitorado, indica que ela é uma candidata difícil de carregar. A ministra Dilma, apesar de toda a exposição dos últimos dois anos, reforçada pelo clima de consternação popular em torno de sua doença, está em uma faixa entre 16% e 23%, dependendo do instituto e de sua metodologia.

Os analistas da oposição não duvidam que ela chegue, porém, ao patamar de 30% até o fim do ano, começando a campanha eleitoral formal em 2010 em boa posição, a não ser que a doença a impeça de se empenhar numa campanha presidencial tão desgastante.

Na verdade, a dianteira do governador de São Paulo, José Serra, se mantém mais ou menos inalterada, e ele ainda tem margem de manobra à frente, pois, segundo a pesquisa Sensus, ele é conhecido por 52% dos entrevistados, tendo ainda campo para crescer durante a campanha.

Ciro Gomes e Dilma Rousseff são conhecidos por 36,1% e 32,8% respectivamente, o que demonstra primeiro que ambos têm chance de ampliar seu nível de conhecimento, e que a ministra Dilma, embora nunca tenha sido candidata a nada, está mais popular que Ciro e que o governador de Minas, Aécio Neves, que tem o menor nível de conhecimento de todos, 26,1%.

Dilma está com 16% na pesquisa Datafolha. Cresceu cinco pontos de março para cá. A diferença entre ela e José Serra (PSDB) diminuiu de 30 para 22 pontos. Serra ficou com os mesmos 38% que tinha em março de 2008, e Dilma não passava de 3%. No Sensus, Serra tem 40,4% das intenções de voto, contra 23,5% de Dilma.

A oposição espera que as viagens de seus dois presidenciáveis, os governadores de José Serra e Aécio Neves, possam neutralizar a exposição da ministra Dilma Rousseff.

Na sexta-feira, eles vão juntos a Foz do Iguaçu para uma reunião sobre agricultura. Serra vai a Belo Horizonte para conversar antes com o governador Aécio. Mais adiante, os dois vão a Fortaleza, e a Belém do Pará, em novos encontros regionais.

É majoritária a opinião no PSDB de que o partido tem que usar essas movimentações para marcar presença, mas o governador Serra continua achando que não tem que fazer nada, e reafirma a estratégia de se dedicar ao governo de São Paulo para só pensar no assunto no próximo ano.

Ao mesmo tempo em que aparece à frente nas pesquisas para a Presidência, Serra também melhora sua avaliação junto ao seu eleitorado primário, o de São Paulo, onde as pesquisas mostram uma aprovação ascendente.

A oposição admite que sua margem de ação, de exposição, é mais restrita que a do governo. Assim como os partidos aliados do governo, também a oposição acompanha o processo de tratamento de Dilma, aguardando sinais sobre sua real capacidade de recuperação para uma campanha política acirrada a que não está acostumada.

O fato é que a doença no mínimo atrasou o processo, na direção contrária do que Lula queria, que era chegar agora ao meio do ano com a candidatura dela consolidada, sem contestação no PT e entre os aliados, já montando chapas regionais.

Agora, está todo mundo com pé atrás. O processo ficou congelado, e os aliados estão em estado de alerta, enviando sinais para todos os lados.

O presidente Lula tem dito que só se preocupa com a união efetiva de Serra com Aécio, mas, até o momento, não há sinais de que haja mudança na disposição do governador de Minas de fazer parte da chapa dos tucanos como candidato a vice-presidente. Mas essa hipótese já foi mais inviável do que é hoje.

O PMDB tem enviado sinais para a oposição, e há três situações regionais que, bem resolvidas, podem jogar o partido na oposição.

Na Bahia, o ministro Geddel Vieira Lima precisa do apoio do PSDB contra o governador petista Jaques Wagner. O problema que existe lá é Paulo Souto, que é o único democrata que tem chances de se eleger governador.

No Paraná, o atual governador, Roberto Requião, pode compor uma chapa para o Senado com a oposição. Em Minas, há que se resolver a situação do ministro Hélio Costa, que quer disputar o governo do estado, mas se defronta com forças políticas importantes no PT - como o ex-prefeito Fernando Pimentel e o ministro Patrus Ananias -, mas também não tem grandes chances no PSDB, onde o governador Aécio Neves quer fazer seu vice, Antonio Anastasia, seu sucessor.

Esse conjunto de fatores, junto com as pesquisas, vai ser colocado na mesa em setembro, quando o PSDB deve definir seu candidato.

O único dado novo que atrapalha a análise da oposição é a popularidade de Lula se manter em patamar tão elevado durante uma crise tão severa quanto a que o mundo está atravessando.

Na última rodada, divulgada em março, 76,2% dos brasileiros aprovavam o desempenho dele, contra 19,9% que desaprovavam. Agora, a aprovação subiu para 81,5% contra 15,7%. O recorde de aprovação de Lula foi em janeiro deste ano, quando alcançou 84%.

O fato de Lula continuar tendo uma popularidade em torno de 80%, e ser o nome preferido quando colocado em uma lista de candidatos junto com Serra e Dilma, indica sua força eleitoral e coloca uma incógnita para a oposição.

Como atuar em uma campanha para substituir um presidente tão popular e com um governo tão bem avaliado pela grande maioria do eleitorado?

Na ausência dos oponentes

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A ministra Dilma Rousseff melhora sua posição a cada nova pesquisa sobre as intenções de votos para presidente da República em 2010. Subiu mais de 20 pontos porcentuais desde aquele batizado, em fevereiro de 2008, onde recebeu o nome de "a mãe do PAC".

Hoje exibe índice de 23,5%, contrariando a expectativa dos adversários que, na época, desdenhavam da possibilidade de Dilma alcançar tão cedo a casa dos dois dígitos. Refeitas as contas no início de 2009, a oposição passou a trabalhar com um patamar de 30% até o fim do ano. Daí, ela não passaria.

Desejo, especulação, aplicação da lei das probabilidades, chute, ciência, seja o que for, pouco importa porque palavra de inimigo não vale, apostas carecem de confiabilidade e quem decide mesmo a parada, no final, é a realidade.

Não a presente, mas a realidade futura, cuja validade se inicia quando a campanha começar de verdade. E por campanha entenda-se campanha mesmo: embate entre candidatos, contraposição de opiniões, posições a respeito dos problemas nacionais, ações, gestos, pensamentos, impressões, emoções, toda gama de fatores que permitem ao eleitorado cotejar estilos, examinar desempenhos e, afinal, escolher.

Nessa altura do campeonato nada disso acontece. Pelo simples fato de que não há campeonato em curso.

Ainda assim, na preliminar, o governo tem recolhido das pesquisas boas notícias. A oposição, diga-se, tem coletado melhores, pois um dos seus candidatos se mantém firme na dianteira.

Mas, considerando que o governo saiu do zero, a performance nem de longe é desprezível. Ocorre que por enquanto a boa notícia das pesquisas diz ao governo muito mais a respeito dele mesmo do que sobre a candidata propriamente dita. Os 23,5% de hoje ainda não pertencem a Dilma.

São dividendos resultantes do investimento feito pelo presidente Luiz Inácio da Silva numa arquitetura de autor, com o capital de sua popularidade, dos instrumentos de governo e da eficientíssima máquina de propaganda oficial, certamente a mais eficaz já vista na história do Brasil.

Levantamento publicado pela Folha de S. Paulo dá a dimensão: os 499 veículos de comunicação para os quais o governo federal repassava verbas em 2003 hoje são mais de 5 mil entre emissoras, publicações e meios de internet.

Uma ocupação de espaço monumental, alimentada pela hiperatividade da figura presidencial, acrescida, de um ano para cá, da companhia constante de Dilma Rousseff.

Sem subtrair um só dos atributos meritórios da ministra da Casa Civil - até porque ela ainda não teve oportunidade de exibir sua expertise político-eleitoral -, não se pode dizer se ela é melhor, pior ou igual a quaisquer dos outros integrantes do plantel de pretendentes: José Serra, Aécio Neves, Ciro Gomes, Heloísa Helena.

No momento, há um grande comercial em exibição. Não se tem ainda uma campanha eleitoral no molde clássico, com todos os candidatos em atuação compartilhando o noticiário, debatendo suas ideias, recebendo críticas, submetendo-se à avaliação do eleitorado.

Isso vale para Dilma, mas vale também para seus adversários presumidos. Com uma vantagem para ela. Ninguém fala mal da ministra - algo natural em ambiente de campanha -, mas o presidente Lula, quando pode, fala mal dos oponentes.

De Dilma Rousseff só se ressaltam as qualidades enquanto ela nada diz de polêmico ou que suscite controvérsia. Transita no seguro terreno do lugar comum, sorri e suaviza as maneiras.

Conta em seu favor a falta de interesse dos outros candidatos de entrar na briga agora. Há o impedimento da legislação eleitoral e a prudência estratégica.

Ciro Gomes sabe que quanto mais se mexer menos chance tem se vir a ser candidato. Serra e Aécio são reféns da uma decisão interna do PSDB para a escolha do candidato, mas são prisioneiros do calendário e das obrigações para com os respectivos Estados que governam, os dois maiores colégios eleitorais do País, São Paulo e Minas Gerais.

Além disso, estão na fase da montagem política de bastidor. A hora, para a oposição, é de dirimir conflitos, cooptar aliados e não comprar confusão perdida com presidente em ano final de mandato, popularidade nos píncaros e força política no Congresso em discreto, mas visível, início de dispersão.

Atacar Dilma agora para quê? Sem o contraditório, ela navega sozinha, fica conhecida a ponto de empatar com Serra na pesquisa espontânea, que mede lembrança, não necessariamente preferência.

Mantida a candidatura, definidos os adversários, iniciada a disputa, outras regras valerão. Para todos. Dilma pode vir a se revelar ainda melhor que a encomenda e crescer por si, assim como os tucanos poderão ver minguar o robusto patrimônio de hoje se não exibirem desempenho à altura dos 40% de José Serra nas pesquisas.

Por enquanto, o eleitorado dá sua impressão sobre um jogo parado, com o juiz sozinho em campo e a bola debaixo do braço.

Serra, serra, serrador

Melchiades Filho
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - José Serra manteve a liderança isolada nas intenções de voto para a Presidência e viu melhorar a avaliação de sua administração em São Paulo. Mesmo assim, a mais recente pesquisa Datafolha não chega a ser boa para o tucano.

Primeiro, a crise econômica (falta de crédito, alta do desemprego, inadimplência crescente) não arranhou a imagem do governo federal.

A popularidade de Lula voltou ao patamar recorde (69%). Portanto, se o país sofrer outro abalo daqui até 2010, nada garante que a oposição conseguirá capitalizá-lo.

Segundo, a candidata de Lula confirmou o potencial. A desvantagem de Dilma Rousseff caiu de 30 para 22 pontos (38% x 16%). Deve cair mais. Um terço dos entrevistados ainda não sabe quem é ela. A campanha escancarada, com forró em Caruaru etc., cuidará disso.

Terceiro, o Datafolha fragilizou Aécio Neves -ele aparece atrás de Ciro Gomes (PSB) e de Dilma e empatado com Heloísa Helena (PSOL). Interessava aos serristas turbinar o governador mineiro e convencê-lo a compor uma chapa puro sangue, e não o ver sair apequenado e focado em seu Estado.

Os tucanos otimistas dirão que Serra está ainda recolhido, e que por isso seus números são ótimos e o futuro a ele pertence. Mas o que o governador terá a oferecer quando sair do recolhimento? Provavelmente menos do que o Planalto.

A expectativa de poder não basta mais para atrair apoios. Os PMDBs já deixaram claro que pretendem ficar com o candidato do governo (sugando a máquina enquanto puderem), certos de que serão chamados para assegurar a "governabilidade" não importa o vencedor.

Por fim, o Datafolha complicou até a "saída por cima". Será difícil para Serra renunciar à corrida nacional alegando necessidade de garantir São Paulo para o PSDB. A pesquisa revelou um PT débil no Estado e, mais, que Geraldo Alckmin faria o mesmo serviço (no primeiro turno) para os tucanos.

Oposição, "ricos", pobres e Lula

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Prestígio da gestão Lula entre eleitores de maior renda cai desde o final de 2008, mas é recorde entre os mais pobres

UM NÚMERO curioso da pesquisa Datafolha publicada domingo é o aumento da discrepância de opinião entre as pessoas de maior e menor renda (aqueles com renda familiar inferior a dois salários mínimos e superior a dez mínimos). Não que exista alguma categoria do Datafolha em que o governo Lula apareça "mal na foto". O governo é ótimo/bom para 51% dos entrevistados de famílias com renda superior a dez mínimos, os menos satisfeitos com a gestão luliana. Nos anos FHC, as melhores avaliações do governo andavam por esse patamar. Entre os entrevistados de famílias com renda de até cinco mínimos, a aprovação está em 71%.

Mas a satisfação dos mais pobres cresce; a daqueles com renda maior cai desde novembro de 2008, quando o prestígio do governo era recorde. Se a distinção dos entrevistados é feita por anos de estudo, tal fenômeno não se repete, embora o prestígio do governo cresça mais entre os que estudaram até o ensino médio.

Houve mais desemprego na indústria e em empresas exportadoras, que costumam pagar mais. Porém, tais dados são muito imprecisos. De resto, nem sempre a insatisfação econômica é associada direta e absolutamente à economia.

A discrepância de opinião associada à renda já foi muito maior nos anos Lula. Mais "ricos" e mais pobres tiveram opinião bem parecida sobre o governo em 2003 (ano econômico muito ruim), 2004 (ano de recuperação) e na segunda metade de 2008, ano de muito bom crescimento econômico e auge dos benefícios sociais lulianos.

A divergência entre mais "ricos" e mais pobres deu um salto no mensalão e foi ao auge em 2006, ano de eleição. Desde 1989, pelo menos, a eleição de 2006 (Lula versus Geraldo Alckmin, do PSDB) foi a mais polarizada em termos "sociais" ou, ao menos, o voto estava muito associado à renda do eleitor e aos índices de qualidade de vida da região do voto.Considere-se um "índice de aprovação" do governo (porcentagem de ótimo/bom menos porcentagem de ruim/péssimo). A diferença de aprovação entre mais "ricos" e mais pobres andou em torno de 40 pontos em 2006.

Em 2005, ficou em torno de 26 pontos. Em 2003, andava em torno de 7 pontos. No pico da popularidade do governo Lula, em novembro de 2008, em 13 pontos; agora, em maio de 2009, a diferença subiu um tanto, para 20 pontos.2005 foi o ano do mensalão; 2006, de eleição. Os dois anos foram de mediocridade econômica e desemprego resistente. 2005 foi o ano em que a popularidade do governo foi ao fundo, com 28% de ótimo/bom no conjunto da população (e a 18% entre entrevistados com renda familiar superior a dez mínimos).

Os dados mais gerais sobre prestígio do governo e economia não sugerem, pois, associações simples; tampouco explicam a insatisfação relativamente mais alta entre os "mais ricos". Enfim, mesmo que, até agora, o impacto social da crise tenha sido pequeno, o prestígio do governo mal foi arranhado durante um mergulho para a recessão; logo voltou ao recorde. Embora também de modo nada peremptório, os números indicam que a política, sim, pode morder pontos do prestígio luliano. Mas política significa conflito, oposição. Oposição, porém, não há.

A popularidade do presidente

Cláudio Gonçalves Couto
DEU NO VALOR ECONÔMICO

A pesquisa nacional do Datafolha publicada neste domingo pela Folha de S. Paulo (e cujos resultados continuam a ser publicados nesta semana) reitera o que há meses vem sendo a tônica das pesquisas de opinião produzidas pelos mais diversos institutos: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu governo seguem bastante populares. Mais importante do que simplesmente repetir uma informação já conhecida é o fato de que a última enquete demonstra que o governo Lula recuperou neste final de maio o prestígio de que gozava em novembro do ano passado, indicando que já há - ao menos nos ânimos populares - uma superação percepção dos efeitos negativos da crise financeira internacional sobre nós. Parafraseando o próprio presidente, o vagalhão de março já vai sendo percebido (não necessariamente de forma correta) como uma marolinha.

Os dados do Datafolha são confirmados pela pesquisa que o Instituto Sensus realiza periodicamente por encomenda da Confederação Nacional do Transporte (CNT). O primeiro levantamento aponta que o governo, após ter caído dos 70% de bom e ótimo em novembro de 2008, para 65% em março deste ano, alcançou agora o patamar de 69%. Já o segundo, indica que a avaliação da administração de Lula oscilou dos 72,5% em janeiro para 62,4% em março, atingindo 69,8% no final de maio. Como se pode notar, apesar de discrepâncias pouco significativas, o movimento geral é exatamente o mesmo, sugerindo se tratar de uma tendência de recuperação, e não apenas de oscilações estatísticas.

Outra informação que reforça essa percepção da tendência é a variação nas intenções de voto hoje verificadas entre os principais pré-candidatos à presidência da República. Apesar de não ser automática a transferência de prestígio entre um governo popular e seu possível candidato, é fato que o sucesso de uma administração junto ao eleitorado ajuda bastante a impulsionar uma postulação presidencial. E nisto, novamente, as duas pesquisas apontam uma tendência favorável ao governo Lula, com um consistente crescimento da pré-candidata Dilma Roussef.

Para o Datafolha, Dilma subiu de 11% para 16%, empatando tecnicamente com Ciro Gomes (15%) e reduzindo a diferença que lhe separa de José Serra (que caiu de 41% para 38%). A pesquisa CNT/Sensus, por sua vez, mostra que Dilma já teria superado os vinte pontos, atingindo 22,3%, contra quase idênticos 38,8% para Serra, mas apenas 9% para Ciro.

Curiosamente, são justamente as intenções de voto nos dois candidatos que apoiam o governo Lula que mais discrepam nos dois levantamentos. Enquanto para o Datafolha a ministra da Casa Civil teria crescido 8% e o deputado cearense permanecido estável desde novembro de 2008, para o Sensus Dilma teria crescido nada menos que 14%, diante de uma queda de 8,4% de Ciro Gomes desde setembro do ano passado. O que faz a diferença na pesquisa deste último instituto é o sensível declínio tanto dos que não tinham candidato (não escolhendo nenhum, anulando ou votando em branco), cuja diminuição foi de quase 2%, quanto dos indecisos (não sabem ou não responderam), cuja redução foi de 4,6%. Para o Datafolha estes números permaneceram estáveis desde novembro.

Como estamos ainda a mais de um ano do início das campanhas eleitorais, estes números deverão mudar muito, sobretudo após o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV. Contudo, indicam que, como tem sido perene o apoio a Lula, a candidatura governista tem bastante fôlego e capacidade de crescimento - em particular se Dilma for mantida no páreo. Isto é motivo de preocupação para a oposição, que para se viabilizar eleitoralmente precisa sair da agenda meramente negativa, de crítica e denúncia, que lhe tem marcado, para uma posição mais propositiva, demonstrando ao eleitor que os partidos hoje fora do governo podem fazer mais do que Lula e seus aliados, caso conquistem o Planalto.

Curiosamente, foi em certa medida "negativo" o melhor momento da oposição neste aspecto.

Refiro-me aqui à derrubada da renovação da CPMF no Senado. Essa vitória parlamentar dos opositores a Lula permitiu-lhes demonstrar ao eleitorado, em termos práticos, que poderiam vir a fazer coisas diferentes caso estivessem no governo. Só que tal iniciativa - reativa a uma proposta do governo e, por isto, "negativa", não teve continuidade, apesar do tema da redução da carga tributária ser com certa frequência aventado pelos líderes dos partidos de oposição.

É claro que, quando se olha a gestão anterior da coalizão PSDB-DEM/PFL, o que se teve não foi a redução de tributos, mas sua expansão. Contudo, como o governo Lula nada fez para alterar esse estado de coisas, a bandeira da redução da carga tributária ficou disponível para os opositores. O caso é saber se dariam outros passos nessa mesma direção caso ganhassem a Presidência. Parece pouco provável, tendo em vista as restrições fiscais, de modo que será necessário buscar outras bandeiras, que lhes diferenciem positivamente, pois o mero udenismo retórico não tem se mostrado eficiente para causar o desgaste nem de Lula, nem de seu governo e nem (para a preocupação de Serra e Aécio) da candidata situacionista.

Cláudio Gonçalves Couto é cientista político, professor da PUC-SP e da FGV-SP.

O TJ e as cotas raciais

Ali Kamel
DEU EM O GLOBO

Finalmente alguma instância do Judiciário brasileiro manifestou-se sobre a constitucionalidade da racialização da nossa sociedade, cuja principal manifestação é a política de cotas raciais nas universidades. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro considerou liminarmente inconstitucional a lei 5.346, que reserva 45% das vagas para alunos "carentes" que sejam ou negros ou indígenas ou estudantes de escolas públicas ou deficientes físicos ou filhos de policiais civis, militares, bombeiros e agentes penitenciários mortos ou incapacitados em serviço. À primeira vista, parece uma lei razoável, porque beneficia apenas os pobres.

Mas é pura ilusão. A lei deixou para as universidades decidirem quem é pobre, e elas decidiram: pobre é aquele com renda familiar per capita igual ou inferior a R$960 brutos. Consultei o IBGE: nesta condição, estão 75% da população do Rio de Janeiro, quase todo mundo, portanto. Os especialistas que adotam linhas de pobreza monetárias costumam estabelecer o corte de meio salário mínimo, R$232,50, para definir quem é pobre. Ou seja, o valor escolhido pelas universidades supera esse valor em mais de quatro vezes. Pense numa família de quatro pessoas, pai, mãe e um casal de filhos: se a renda da família for de R$3.840, eles terão direito a cotas, mesmo esse rendimento sendo típico de classe média. Quem se beneficiará das cotas, então? Aqueles que não precisam delas. Os pobres de qualquer cor, estes continuarão no último lugar da fila, porque, sendo menos preparados, disputarão as vagas com alunos de famílias com mais dinheiro e, portanto, com mais acesso à educação.

Mesmo que a lei beneficiasse de fato os pobres, do jeito que foi elaborada, continuaria a ser uma confissão do fracasso do Estado brasileiro. Ao beneficiar alunos da escola pública, o Estado admite, com todas as letras, que é incompetente na obrigação de dar ensino de qualidade e, por isso, adota uma medida compensatória: "Eu sei que ensino mal a vocês, mas não se preocupem, porque eu vou ajudá-los a entrar mais facilmente na universidade." Ao beneficiar os filhos de agentes de segurança mortos ou incapacitados em serviço, "desde que carentes", está também confessando: "Eu pago muito mal a vocês, que mereciam salários dignos, mas não se preocupem, seus filhos, caso vocês morram, terão uma ajudinha para entrar numa boa faculdade."

Isso é falta de pudor.

Fez muito bem o Tribunal de Justiça ao declarar a inconstitucionalidade da lei (mesmo que, após um recurso ontem, tenha esclarecido que a medida não vale para o vestibular em andamento).

Eu sei, os desembargadores se ativeram à Constituição Estadual, mas esta ecoa a Constituição Federal, e ela é claríssima em dois momentos. No artigo 3º, inciso IV, diz que é objetivo fundamental da República Federativa do Brasil "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação". O inciso III do artigo 19º diz que é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios "criar distinção entre brasileiros ou preferências entre si". A Constituição do Estado do Rio de Janeiro no seu artigo 9º, parágrafo primeiro, determina que "ninguém será discriminado, prejudicado ou privilegiado em razão de nascimento, idade, etnia, raça, cor, sexo, estado civil, trabalho rural ou urbano, religião, convicções políticas ou filosóficas, deficiência física ou mental, por ter cumprido pena nem por qualquer particularidade ou condição".

Precisa ser mais claro?

Precisa. Porque os arautos da racialização dizem que o artigo 145 em seu parágrafo 1º diz que "sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte". Para eles, a Constituição estaria, aqui, admitindo tratar os cidadãos de forma desigual, para beneficiar os mais pobres. Na busca pela igualdade, dizem, o Estado brasileiro estaria obrigado a tratar desigualmente os desiguais. E as cotas seriam expressão dessa necessidade. Da mesma forma, os racialistas sempre dizem que há várias leis protegendo os deficientes físicos, sem que ninguém diga que isso contraria o princípio constitucional de que todos são iguais perante a lei.

Fumaça para embaralhar os argumentos.

Não sou jurista, mas vejo nos dois casos exemplos de previsões legais que favorecem, indistintamente, todos os cidadãos, ricos e pobres, deficientes ou não. Por quê? Porque ninguém está livre do futuro. Se um pobre ganhar dinheiro, pagará mais imposto. A lei não diz que a sua condição de pobre hoje o poupará para sempre de pagar impostos mais altos. O mesmo se dá, em sentido contrário, se o rico ficar pobre. Da mesma forma, nenhum cidadão está livre de se tornar deficiente, e, se isso vier a acontecer, estará protegido pela lei: sua condição, hoje, de homem sem problemas físicos, não o impedirá de se beneficiar da lei, caso venha a sofrer um acidente no futuro.

Com a cor da pele, isso não se dá. Brancos, pardos, morenos, amarelos jamais se beneficiarão de cotas para negros, porque não podem mudar de cor. A cor da pele, algo imutável, dá aos negros um privilégio que a Constituição proíbe. Com o efeito colateral de fomentar o ódio racial naqueles que ficam de fora.

Qual a solução? Uma lei bem simples, que beneficie os realmente pobres, de qualquer cor, filhos de quem quer que sejam, deficientes ou não. Fazendo isso, os negros serão os mais beneficiados, porque em sua maior parte são pobres, mas os brancos pobres, os amarelos pobres, os morenos pobres não ficarão a ver navios.

Ali Kamel é jornalista.

"Eles estão de volta"

Yoshiaki Nakano
DEU NO VALOR ECONÔMICO

"Eles estão de volta" era a frase que expressava o terror que a volta dos espíritos causava no filme "Poltergeist". Esta expressão foi utilizada por Ricardo Caballero, ilustre professor de economia do MIT, para descrever as preocupações com o retorno do fluxo de capitais depois da crise da Ásia. Agora, em meio à pior crise dos últimos 50 anos, o fluxo de capitais está de volta, depois de ter se reduzido desde o segundo semestre de 2007, para desaparecer completamente do auge da crise, depois da quebra do Lehman Brothers. As suas consequências são previsíveis, com segurança: o real já apreciou e desencadeou um ciclo de apreciação que deverá terminar bruscamente, em algum momento, causando dramática reviravolta.

É surpreendente que o fluxo de capitais tenha voltado tão rapidamente, pois o pânico causado no mercado financeiro pela quebra do Lehman Brothers provocou uma contração generalizada de crédito e uma paralisia nos fluxos internacionais de capitais. E sabemos também que crises financeiras, que envolvem crise bancária, são mais graves e o retorno da confiança e do crédito podem demorar bastante. Esclareça-se de início que estes capitais não estão vindo para financiar investimentos produtivos, mas sim capitais financeiros especulativos de curto prazo. Os investimentos produtivos sofreram abrupta queda no último trimestre de 2008 em relação ao trimestre anterior, a uma taxa anualizada de 45%. Não existem ainda sinais de recuperação e o aumento generalizado de capacidade ociosa indica que a sua retomada deverá levar algum tempo.

Como sempre, há fatores, tanto de oferta como de demanda de capitais, atuando nesta nova onda de afluxo de capitais financeiros para o Brasil. Do lado da oferta, não há dúvida de que foi a rápida e forte reação do Fed, que injetou trilhões de dólares de liquidez no mercado financeiro não só para socorrer os bancos, seguradoras e instituições de crédito imobiliário, como o próprio setor não-bancário, a exemplo do setor automobilístico. A reação do Fed foi tal que a base monetária dos Estados Unidos chegou a expandir mais de 350% e a taxa de juros foi fixada entre 0,0% e 0,25%. Se aos diversos programas do Fed somarmos os gastos fiscais e demais socorros, a injeção total de recursos pelo governo americano atingiu, segundo estimativas do Deutsche Bank, a astronômica cifra de US$ 14,9 trilhões, portanto mais do que o PIB. Onde estão e para onde estão indo estes recursos? Uma parte evitou uma queda maior na demanda agregada. O crédito ainda está travado e as reservas bancárias ociosas atingiram quase U$ 800 bilhões e estão depositados no próprio Fed. Mas, com taxas de juros próximas a zero no mercado de moeda e de curto prazo, os bancos retomaram operações de mercado e uma parte está fluindo para países emergentes, gerando recuperação nas suas bolsas de valores. Assim, do lado da oferta, é a superabundância de moeda a taxas de juros próximos a zero que está empurrando recursos de curto prazo em busca de alternativas de retorno maior e risco menor do que nos EUA.

Do lado da demanda, particularmente, os fatores de atração no Brasil são inúmeros. Desta vez, diferentemente das crises financeiras internacionais anteriores, o contágio não está ocorrendo pela restrição da produção, consumo e investimento pelo corte de liquidez em dólar. O contágio chegou com os bancos travando as operações de crédito em real. Com a crise, o afluxo de recursos externos via mercado de capitais, e também através do sistema bancário, paralisou completamente, mas o Brasil possuía mais de US$ 200 bilhões de reserva em moeda estrangeira. Além disso, o Fed, como provedor de moeda em que se baseia o sistema internacional de pagamentos, estendeu uma linha de crédito US$ 30 bilhões para o Brasil.

Assim, com o gradual restabelecimento da liquidez em real se iniciou uma lenta recuperação da economia brasileira.

Neste quadro, o Banco Central do Brasil reagiu com cautela excessiva, olhando a inflação pelo retrovisor sem atentar que a contração de crédito bancário em real travaria o circuito econômico. Além disso, quando sinalizou que os juros seriam reduzidos em ritmo bastante lento, o diferencial entre os juros aumentou fortemente, já que os demais países reduziram suas taxas mais agressivamente. O aumento no diferencial da taxa de juros por si só foi um fator de forte atração, pois os bancos e outras instituições podem captar no mercado monetário de curto prazo a taxa de juros próxima a zero nos EUA.

Desta vez, o Brasil não representa um risco elevado, pois foi afetado de forma completamente diferente das crises financeiras anteriores. Os preços das commodities despencaram, mas logo encontraram um piso e até alguma recuperação com a demanda de estoques pela China, e ainda possui elevada reserva cambial.

Para o capital especulativo existe ainda outro fator que torna o real extremamente atraente. O nosso regime de "câmbio flutuante" é presa fácil de profecias que se autorrealizam, pois não há nenhuma sinalização firme de que o BC ou o governo não toleram a apreciação excessiva da moeda, estabelecendo um piso tacitamente. E cada ponto percentual de apreciação se soma ao diferencial da taxa de juros para compor o retorno do especulador. Apenas no mês de maio os especuladores ganharam 10,6%, pois apropriaram 9,7% de variação cambial mais 0,82% proveniente da Selic. Assim, o lento ritmo de queda na taxa de juros e a expectativa de apreciação tornaram o real uma aplicação com altíssimo retorno em meio a uma grande crise financeira. Quanto mais especuladores são atraídos, mais o real se aprecia e maior é seu retorno. Desta forma, a taxa de câmbio deverá se apreciar ainda mais de acordo com a convenção do mercado. No momento, aparentemente, a convenção é de que a taxa de câmbio vai cair para R$ 1,80. Ao chegarmos a esta taxa, novas quedas poderão ocorrer segundo uma nova convenção e, numa profecia que se autorrealiza, atrairá cada vez mais especuladores.

Poderiam o BC e o Tesouro nacional evitar esta apreciação? Com o regime de câmbio como o nosso, não. Mas com redução da taxa de juros, que é mais do que necessária para retomarmos o crescimento, para níveis próximos às taxas internacionais e sinalizando firmemente o mercado da sua determinação em evitar a apreciação, sem fixar taxa ou piso, é possível evitar a apreciação. Neste caso, o regime de taxa de câmbio deveria ser assimétrico, permitindo a depreciação, mas não a apreciação. O custo de carregar reservas também seria reduzido se a taxa de juros fosse próxima à internacional.

Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP), professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas - FGV/EESP, escreve mensalmente às terças-feiras.

Dia difícil

Panorama Econômico :: Míriam Leitão
DEU EM O GLOBO

A segunda-feira, primeiro dia de junho, começou com as notícias do desaparecimento de um avião e da maior concordata da história da indústria no mundo. Duas tragédias, uma delas anunciada. A crise econômica não produziu a quebra da General Motors, apenas a revelou. No voo, com passageiros do mundo inteiro, a dificuldade era contactar todas as famílias antes da lista final.

Uma segunda difícil, com tragédias humana e econômica. O presidente Barack Obama disse que será um "doloroso renascimento" para a GM. Mesmo sendo uma notícia com dia marcado, a concordata impressiona. A GM sempre foi um símbolo do capitalismo americano. De 1931 a 2007, foi a maior produtora de automóveis do mundo. Só no ano passado perdeu o posto para a Toyota.

No Brasil, comemorou-se o fato de que a produção industrial subiu 1,1% em abril, na comparação com março; mas o que espanta é a queda de 14,8% frente a abril do ano passado. O país produziu neste mês 15% menos do que em setembro de 2008.

Nos Estados Unidos, o que se falou oficialmente é que a concordata será uma grande oportunidade para a empresa se recuperar, e que todos - governo, agora dono, e setor privado - acham que será uma recuperação rápida. A verdade é diferente da esperança. Os processos de concordata são imprevisíveis, podem durar anos, a recuperação pode acontecer ou não. Afinal, o dinheiro do contribuinte não pode fazer tudo. As vendas da empresa precisam aumentar, e os consumidores têm várias opções de concorrentes, que, neste momento, estão fazendo de tudo para sobreviver à crise.

A GM, que fez parte da formação da elite operária americana, os blue-collars, vai demitir 20 mil trabalhadores. Mas isso não é tudo. Cada emprego no chão de fábrica representa vários outros empregos na cadeia movimentada pela indústria. Por isso, é que a especialista Tereza Fernandes, da MB Associados, calcula que pelo menos 60 mil pessoas podem perder o emprego nos Estados Unidos em função desse processo de concordata e que pelo menos 1.000 concessionárias fecharão as portas.

- Isso mexe com toda a cadeia produtiva, inclusive para trás. O setor de autopeças, por exemplo, perderá demanda de um grande comprador. Com a crise, o setor já está tendo dificuldades de antecipar recebíveis. Agora, ficará ainda mais difícil - afirmou.

Tereza nos disse aqui na coluna, há mais de um mês, que nem o super-homem teria poderes para impedir a concordata da GM. Obama jogou todo o poder que tem para mantê-la viva.

Depois dos US$20 bilhões que já foram postos na empresa, o governo fará novo aporte de US$30 bilhões. Da concordata, ela sairá "mais magra e mais forte", disse ele. Mais magra certamente; mais forte, só o futuro dirá.

Para o coordenador do Centro de Estudos Automotivos (CEA) Luiz Carlos Mello, a quebra da GM aconteceu por um problema de gestão. A empresa investiu tempo demais em carros caros e pouco econômicos, enquanto os europeus e japoneses já tinham visto que o mundo havia mudado:

- O que estamos vendo é resultado de uma certa arrogância que vinha de sua liderança incontestável desde o início do século passado. A empresa tinha muitas marcas, produtos que competiam entre si. Além disso, apostou em veículos caros e pouco econômicos. A Toyota já vendeu 1 milhão de carros híbridos nos EUA, que usam gasolina e energia elétrica.

A GM do Brasil faz parte da empresa boa, mesmo assim, enfrenta um problema: a tecnologia utilizada na fabricação dos carros brasileiros vinha da Opel, uma subsidiária da GM na Europa, e que foi vendida para a Magna. Na prática, é como se a GM do Brasil tivesse perdido sua fonte de tecnologia. Agora, as duas empresas terão que descobrir o futuro dessa parceria.

Inúmeros países do mundo são afetados pelo que acontece na GM. Luiz Carlos Mello acha que o Brasil está preparado para fornecer novos modelos, menores e mais econômicos. Para o professor José Goldemberg, da USP, Obama pode utilizar a GM para implementar um novo modelo de fabricação de carros, que tenham melhor desempenho e menor consumo. Uma das medidas que podem ser tomadas é aumentar a mistura de álcool na gasolina. Hoje, o mercado americano mistura cerca de 10%, enquanto o mercado brasileiro mistura 25%.

- Os produtores americanos não conseguirão atender à demanda. Isso pode significar uma abertura de mercado para o álcool brasileiro nos EUA - apontou.

Se houver brechas pelas quais possamos entrar, ótimo. Mas a concordata da GM vai derrubar um pouco mais o emprego, a renda, e a produção industrial americana. A Bolsa americana que subiu ontem, puxada por outros indicadores, perdeu dois símbolos no mesmo dia: a GM saiu do índice das 30 blue chips - na qual estava desde 1925 - e o Citibank deixou de constar do índice Dow Jones.

Por mais dura que seja a tragédia econômica, ela foi ao longo do dia sendo vista como a solução que evitou o pior, que seria a falência da GM. Já na tragédia do voo 447, a tênue esperança do começo do dia desapareceu do radar. Dia difícil.

GM, agora, é estatal

Gilberto Scofield Jr.
DEU EM O GLOBO

O DECLÍNIO DO ÍCONE

Maior montadora dos EUA pede concordata e recebe US$30 bi do governo, que terá 60% do capital

Maior montadora americana e segunda maior do mundo, a General Motors (GM) entrou ontem com um pedido de concordada no Tribunal de Falências do Distrito Sul de Nova York, alegando um desequilíbrio entre os seus US$82,3 bilhões em ativos e uma dívida total de US$172,8 bilhões com 100 mil credores. A concordata da GM é a maior da história de uma indústria e a quarta maior dos EUA em termos de ativos, sendo ultrapassada pelos processos de Lehman Brothers, Washington Mutual e WorldCom. Sob proteção do Capítulo 11 da Lei de Falências americana - o equivalente à concordata (ou recuperação judicial, no Brasil) - a montadora recebeu uma injeção de US$30 bilhões do Departamento do Tesouro dos EUA (além dos US$19,8 bilhões já emprestados), que se transformarão em 60% de ações de controle da empresa reestruturada. Ou seja, a maior montadora americana, um ícone do capitalismo, é agora uma estatal.

Além disso, o governo do Canadá também entrará no plano de recuperação emprestando US$9,5 bilhões e ficando com 12,5%, enquanto o fundo de pensão do Union Auto Workers, o sindicato dos trabalhadores na indústria, ficará com 17,5%. Os 10% restantes ficarão com os detentores de bônus da dívida da montadora, com os quais a empresa fechou um acordo neste fim de semana e que permitirá que estes sócios aumentem suas fatias.

A GM - que no seu apogeu chegou a ter 54% do mercado americano, mas perdeu a liderança de 77 anos para a japonesa Toyota no ano passado - tentará agora fazer uma enorme reestruturação para reduzir sua dívida. O programa incluirá o fechamento de 14 fábricas (três temporariamente), três depósitos, a demissão de algo entre 18 mil e 20 mil funcionários nos EUA (do total de 244 mil no mundo), além da interrupção na fabricação de marcas pouco rentáveis, como a do jipe Hummer e o sedã Saturn (que devem ser vendidas), e a manutenção do foco em quatro marcas: Cadillac, Chevrolet, Buick e GMC.

- A GM e seus acionistas chegaram a um plano viável e executável que dará a esta companhia, um ícone americano, uma chance de nascer de novo - disse o presidente dos EUA, Barack Obama, que descreveu o governo como um "dono relutante" da montadora. - Nossa meta é botar a GM de novo de pé, dar apoio sem interferência gerencial e sair da empresa o mais rapidamente possível.

- Hoje marca um momento de definições na reinvenção da GM - disse o presidente da GM, Fritz Henderson. - A crise causou uma enorme ruptura na indústria automobilística.

A estatização da GM foi criticada pelos republicanos, que questionam o custo da operação aos contribuintes.

A montadora, que continuará tendo seu quartel-general em Detroit, diz que pretende anunciar uma nova companhia, reestruturada e enxuta, entre 60 e 90 dias, tempo que, espera-se, dure a concordata. As 47 fábricas caem para 33, mas ao menos uma das que foram temporariamente desativadas será reaberta para construir um novo carro menor e mais econômico, provavelmente flex, exigência de Obama para dar mais dinheiro à empresa.

Apesar do otimismo, os administradores da montadora terão muita batalha legal pela frente, tanto de acionistas insatisfeitos com a redução de suas participações quanto dos 1.100 donos de concessionárias GM que não se conformam de terem que fechar as portas em 18 meses e pretendem ir à Justiça. Tanto os recolhimentos para o fundo de pensão dos trabalhadores quanto benefícios de saúde serão mantidos, ainda que em novas bases, por exigência de Obama.

Os 'achismos' do presidente da CBF

Juca Kfouri
DEU NA CBN

O presidente da CBF classificou como "achismos" as informações sobre a disputa pela abertura da Copa de 2014 no Brasil e até mesmo sobre o palco da final, que ninguém tem dúvidas de que será no Rio, no Maracanã.

Mas como ele preferiu deixar a decisão sobre a abertura para depois da Copa da África do Sul, achou de fazer charme com o local da final.

Ache o que achar Ricardo Teixeira, a final da Copa do Mundo de 2014 no Brasil será disputada no Maracanã.

Já o palco da abertura é mais nebuloso mesmo.

Não só porque o cartola quer esperar pela definição do quadro sucessório para se decidir entre José Serra e Aécio Neves, São Paulo ou Minas.

Serra, que começa a ver a ministra Dilma Roussef cada vez mais nos seus calcanhares, é quem tem mais chances de levar, embora tenha um problema chamado Morumbi e Teixeira seja amigo de Aécio.

Serra garante que não porá um tostão de dinheiro público na necessária reforma do estádio, mas o São Paulo não tem achado parceiros para investir a montanha de dinheiro necessária para a obra, porque a crise está aí e o investimento tem que ser feito agora.

Calcula-se que o custo seja da ordem de R$ 300 milhões, dos quais o São Paulo teria R$ 130 milhões já empenhados.

Brasília aparece como uma terceira via, com a justificativa de que é a capital do país e, enfim, a cidade onde estará morando o próximo presidente do Brasil, seja, por ordem alfabética, Aécio, Dilma ou Serra.

Ou Ciro.

Ou Lula?