terça-feira, 7 de julho de 2009

PENSAMENTO DO DIA – Jarbas Vasconcelos

“Não importa ao presidente o respeito às leis ou à Constituição, muito menos consideração a quaisquer princípios éticos ou morais. Nosso presidente não tem pudor algum. Tudo fará para permanecer no poder, inclusive comprometer seus correligionários e destruir o que ainda resta de dignidade no Congresso Nacional, em especial do Senado”


(Senador Jarbas Vasconcelos, (PMDB-PE) ontem em discurso no Senado)

Síndrome da governabilidade

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


O violento discurso do senador Jarbas Vasconcellos, acusando o presidente Lula de atuar "sem nenhum pudor" para manter seu projeto de poder, é a continuidade de um processo político que vem se deteriorando há trinta anos, quando o MDB já era dividido em grupos, mas a disputa maior se travava entre "autênticos" e "moderados", e não como agora, entre políticos "sérios" e os "fisiológicos". Às vésperas da reforma partidária de 1979, que desaguaria na criação do PP, Tancredo Neves definiu os caminhos ao dizer que "meu MDB não é o MDB do senhor Arraes e o MDB do senhor Arraes não é o meu, e nós dois sabemos disso há muito tempo".

A morte de Petrônio Portella, que era uma alternativa real de transição civil à ditadura militar, e as novas normas eleitorais, que obrigavam o voto vinculado e proibiam as coligações, para proteger o PDS, inviabilizaram o projeto do PP e a maioria retornou para o PMDB.

Em 1988, uma parte saiu para fundar o PSDB, contra a política fisiológica que já predominava no PMDB. Já há muito tempo, no entanto, que o PMDB criou a fama de ser imprescindível para que qualquer governo tenha o que se convencionou chamar de "governabilidade", e é esse o pretexto mais uma vez para o presidente Lula forçar o PT a apoiar a permanência do senador José Sarney na Presidência do Senado.

Mas será mesmo necessário ter o apoio do PMDB, custe o que custar, para manter a tal da governabilidade? A cientista política Maria Celina D"Araújo, da Fundação Getulio Vargas do Rio, diz que isso "não faz o menor sentido".

O advogado Marcelo Cerqueira, ex-deputado federal e conhecedor profundo da política brasileira, diz que Itamar Franco governou sem o "núcleo duro" do PMDB, privilegiando políticos como Pedro Simon, que foi seu líder no Congresso, e teve sucesso.

Os dois concordam em um ponto: o que Lula quer não é governar bem, mas manter seu projeto de poder com vista à sucessão de 2010. Mas nem mesmo isso estará garantido com o apoio oficial do PMDB.

Cerqueira lembra o caso do próprio Lula, que venceu a eleição de 2002 embora o PMDB apoiasse oficialmente o tucano José Serra. E Maria Celina lembra que o PMDB não é um partido confiável para projetos de longo prazo.

Ela diz que "em nome da governabilidade, os tucanos pediram cláusula de barreira, em nome dela se pediu voto distrital. A "G word" como dizem os norte-americanos, tem se prestado entre nós a pretexto de pedidos de reforma mais ou menos legítimos, ou estapafúrdios, e tem significado também diminuir os custos de governar, como queriam os tucanos".

Em nome da "governabilidade", ressalta, o golpe de 1964 foi dado: "O país vivia então uma crise de paralisia decisória. E deu no que deu". Para Cerqueira, é a "síndrome do Collor" que leva o governo a uma lógica de construção de maioria a qualquer preço.

Ele diz que é um equívoco achar que o impeachment do Collor se deu por que ele não tinha a maioria. "Quando fez a loucura do confisco da poupança, teve a maioria total da Nação", lembra.

Ele considera que a formação dessa maioria "se dá em grande parte porque o Orçamento é meramente autorizativo e não impositivo, e então o governo tem um enorme poder de barganha".

Se não tiver essa maioria, governa? O Itamar governou, responde Marcelo Cerqueira, que lembra que, no começo ele tentou fazer um governo de centro-esquerda, "mas o PT não topou".

Então, lembra Cerqueira, ele pegou "partes do PMDB e de outros partidos, inclusive de esquerda, e tocou o governo dele sem se preocupar com a tal da governabilidade". Pedro Simon, que já naquela época não era do "mainstream" do PMDB, foi seu líder no Congresso.

Maria Celina diz que "esse argumento da governabilidade é precário, capenga. Poder governar não significa governar bem".

Para Marcelo Cerqueira, a governabilidade não se dá em função de você ter uma maioria, mas quando há uma proposta de governo. "Caso contrário, dá no mensalão, dá nessa entrega ao lado podre do PMDB".

A governabilidade, como a define, "depende de um programa de governo e do exemplo do governante".

Para Maria Celina, de fato o PT está defendendo "um projeto de poder e não a governabilidade e muito menos o bom governo". Nas democracias, diz Maria Celina, "não queremos só isso, queremos um governo que governe, mas faça um bom governo".

Ela lembra que não é à toa que o conceito de "governança" veio para ficar, e não acredita que haja uma paralisia de decisões se o senador Sarney sair da presidência, e nem que, como o governo alega, que se o governo não apoiar Sarney perde sua base no Congresso.

"Isso não faz o menor sentido", diz ele, "ainda mais porque há muito tempo o Senado não ajuda o governo a governar, não vota nada, apenas choca e desova crises".

Maria Celina diz que a governabilidade, na verdade, está sendo usada agora como pretexto para uma aliança de médio prazo com o PMDB, "como se aquilo fosse um partido confiável".

O que se quer, ressalta, é garantir o apoio do PMDB a Dilma. A cientista política da FGV diz que "precisamos refletir bem sobre a diferença entre governabilidade e projeto de poder; entre o que é zelar pelas instituições e fazer jogo das oligarquias e das parentelas".

Neste momento, diz ela, o mais importante é o país "ficar ao lado da lei, da transparência, da moral e dos bons costumes. O presidente Lula podia nos ajudar".

Marcelo Cerqueira acha que essa lógica só será rompida "quando o Orçamento não for meramente autorizativo; quando o Congresso exercer a sua verdadeira função, que não é propriamente de legislar, mas sim de fiscalizar".

Honra ao demérito

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Na reunião dos senadores do PT com o presidente no Palácio da Alvorada, sexta-feira passada, Luiz Inácio da Silva tentava convencer os correligionários a não pedir o afastamento de José Sarney da presidência do Senado e a abraçar a tese da diluição de responsabilidades, quando deu um xeque-mate no mais longevo senador da bancada.

"Depois de 18 anos lá dentro, ninguém vai acreditar que você não sabia o que acontecia no Senado", disparou na direção de Eduardo Suplicy.

Pela lógica, tinha razão. Mas, como muita gente acreditou que Lula depois de 25 anos no comando do PT não sabia que o partido abastecia o caixa 2 das campanhas eleitorais de partidos aliados para garantir maioria ao seu governo no Congresso, o PT também teria o direito de simular surpresa com os desmandos do Senado.

Inclusive porque, até o senador Tião Viana falar umas verdades na edição da revista Veja desta semana, o partido não só havia se associado à indiferença geral diante de alertas de que o Senado caía de podre, como nunca impusera reparos ao modo do governo petista de sacramentar os velhos vícios do Parlamento.

"O Legislativo não sobreviverá se continuar funcionando apenas na base do beija-mão do governo", disse o senador, apontando, pela primeira vez e com uma precisão que nem a oposição jamais foi capaz de fazer, o papel que o atual governo jogou na acentuada deterioração de um processo já em vias de degradação gradativa.

"Os partidos estão mais fracos e deteriorados do que antes", constata ele, dizendo-se frustrado por Lula não ter compreendido que ao chefe de um Estado cabe a tarefa de zelar pelo vigor das instituições e nada ter feito para "evitar a desconstrução e a perda moral do Congresso".

Uma fala institucionalmente importante, politicamente benéfica, socialmente responsável, partidariamente corajosa. Mas, recebida com ressentimento. Tanto que a decisão do governo foi ignorar as palavras do senador. Como se fosse ele o ponto fora da linha, o transgressor, o traidor.

Bons, dignos de deferência, homenagens e atenções, são os arquitetos da obra ora em demolição involuntária.

Tião Viana passa, assim, a integrar aquele grupo de pessoas que dizem as coisas como devem ser ditas, dão às evidências seus nomes reais, mas acabam tratadas como pústulas a expulsas de um organismo que, não obstante a podridão explícita, inverte os papéis e faz pose de saudável.

Acusam-no de chorar o pranto dos derrotados. Ou de tentar ocultar as próprias mazelas expondo as doenças do vizinho.

Antes dele, dois outros senadores haviam feito duras, mas realistas análises sobre a situação do Congresso em geral e do Senado em particular, em entrevistas à mesma Veja.

No ano passado, Garibaldi Alves estava na presidência do Senado quando disse que a Casa estava "na UTI". Ou seja, era doente terminal. "Ninguém no mundo político percebe que esse desapreço pelo Poder Legislativo está minando suas bases de sustentação e que a qualquer hora poderá haver um momento de maior tensão, de crise entre os Poderes."

A leniência do Congresso consigo, alertava Garibaldi, lhe subtrai autoridade para fiscalizar os outros Poderes. O então presidente do Senado falava dos males do coleguismo, do quanto a absolvição do senador Renan Calheiros havia penalizado o Legislativo, da necessidade de se fazer "uma faxina dentro de casa", da distorção da função parlamentar.

"A maioria dos parlamentares segue a lógica de votar com o governo, de liberar umas emendazinhas, emplacar um cargo para um aliado e colher os dividendos na eleição seguinte. Os políticos se contentam com isso e fazem um mal danado ao Legislativo. A Casa pode desmoronar do jeito que vai."

Alguém se impressionou? Ao contrário, atribuiu-se a manifestação do senador do PMDB a planos de se candidatar de novo ao cargo de presidente do Senado.

Da mesma forma, o senador Jarbas Vasconcelos, quando apontou o fisiologismo e a corrupção reinantes no PMDB, ficou relegado ao limbo das vozes isoladas.

Mas, na ocasião, logo após a eleição de José Sarney, alertara para o significado do ato corroborado pela maioria: "É um completo retrocesso. Ele não vai mudar a estrutura política nem contribuir para reconstruir uma imagem positiva da Casa. Sarney vai transformar o Senado em um grande Maranhão."

Alguém se emocionou? Alguns sim, mas só em discursos de apoio a Jarbas Vasconcelos no plenário. Para todos os efeitos, era o dissidente irado, de temperamento "difícil", posando de "vestal" e zombarias do gênero.

É de se perguntar o que de tão grave e desairoso há na ética e na seriedade na política para que seus defensores sejam tratados como se fossem eles os algozes, enquanto se celebra a sagacidade e o poder de fogo do nefasto batalhão do atraso, cujo único compromisso é com o que existe de mais errado.

Lula, o multimídia

Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Lula já tem o "Café com o Presidente", que vai ao ar todas as segundas-feiras pelo rádio, para todos os cantos do país. Também já tem o site da Presidência, com tudo o que ele diz, faz, assina. E vai ganhar a partir de hoje "O Presidente Responde", para atingir 94 jornais de 22 Estados.

Os jornais inscritos só farão perguntas a Lula relacionadas às "políticas de governo", pois o projeto tem a pretensão de ser "instrumento de prestação de contas à sociedade". Da avalanche de perguntas, a assessoria do Planalto selecionará três por semana. Imagina-se que nenhuma delas sobre mensalão, aloprados, dossiês, muito menos sobre a operação de salvamento do Sarney e de humilhação do PT.

Depois, virão um blog e até um twitter, para interagir com a opinião pública. Tudo bem moderninho e bem oportuno a um ano e pouco da sucessão presidencial. E Lula não está rouco de tanto falar. Em Paris, já completando uns 80 dias em viagem ao exterior só neste ano, ele se ocupou ontem de uma entrevista à BBC. Para o mundo!

É Lula para todo lado. Na TV, de manhã, de tarde, de noite. Nos jornais, todos os dias, invariavelmente nas capas, quando anuncia um plano novo (mesmo que nem seja tão novo), quando faz discurso, quando fala à imprensa, quando viaja, quando lança a candidatura Dilma por aí afora, quando recebe o Corinthians, quando reúne prefeitos, quando escorrega e fala mais uma besteira -em qualquer circunstância, enfim.

Para isso existe e resiste a imprensa independente, que mantém espaços de opinião, ao lado do farto noticiário diário sobre o presidente, para trazer ao debate a crítica, o contraponto, o questionamento real, a saudável provocação. É claro que Lula e os lulistas não gostam, como FHC e os tucanos não gostavam. Mas é democrático, funciona como contrapeso e alerta.

Ainda mais quando o presidente se coloca acima do bem e do mal. E sonha com a unanimidade.

Tamanho do Estado em discussão

Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO

Como acredita que a sucessão de 2010 será "plebiscitária", o Palácio do Planalto desde já cava as trincheiras a fim de enfrentar um debate que supõe vir a ser o divisor de águas da próxima eleição: o tamanho do Estado brasileiro.

Nos discursos e artigos comemorativos do 15º aniversário do Plano Real o governo foi elogiado por apostar na estabilização, mas em geral criticado por um "inchaço" da máquina pública. Uma tese como a qual, definitivamente, está em desacordo.

Na ótica do governo, Estado máximo ou Estado mínimo trata-se de algo que a população não compreende muito bem, mas que intui exatamente onde leva- mais Estado significa mais pessoas atendidas pelos serviços público. E é com base nesse axioma que o eleitor vai decidir em 2010.

O governo também se prepara para explicar o que estaria provocando o aumento do tamanho do Estado.

Segundo levantamento que ainda mantém em sigilo, esse "inchaço" ocorreu basicamente com a contratação de professores e de agentes da área de fiscalização - Polícia Federal, Advocacia Geral da União, Controladoria Geral da União e Receita Federal. Ou seja, Educação, segurança e combate à corrupção.

O argumento do governo é que não existe o Estado gastador propalado pela oposição. Existe um Estado que gasta com critério. Proporcionalmente, o Brasil perde feio para alguns países como a França (38,5 funcionários por grupo de mil habitantes), e é menor até com aqueles mais parecidos conosco, como o México (8,5 por grupo de mil habitantes).

Em 2000, sexto ano do governo tucano, a proporção brasileira era de 5,5 por grupo de mil; em 2006, já no mandato do presidente Lula, esse número era menor, de 5,3 - mas segundo o levantamento os números de 2000 já foram ultrapassados - o governo espera a hora política que julgar mais adequada para divulgar seus números.

Já os argumentos políticos estão na ponta da língua de qualquer petista: o Estado brasileiro, ao longo da gestão tucana, foi desmontado na sua capacidade de planejamento, fiscalização e na sua capacidade de gestão. Há quem reconheça, entre os petistas, que em algum momento do passado recente isso possa ter sido necessário. Mas quando surgiu a oportunidade de recompor (crescimento) e de melhorar as condições, o mais correto era aproveitar a ocasião em vez de perder tempo em briga com reitor ou professor de universidade.

Por último, mas não menos importante entre os argumentos listados no governo e no PT, está o de que essa foi a política que permitiu mais desenvolvimento e maior distribuição de renda, que teria funcionado não só como motor da economia, mas também ajudado o país nas horas mais difíceis dos meses de incertezas desencadeadas com a crise financeira mundial.

Resumo da ópera, literalmente, nas palavras de um petista: o plebiscito será entre quem defende um Estado maior para atender maior parcela da população, contra quem prega o Estado menor e deixar para a iniciativa privada a distribuição de renda.

Este é o cenário ideal petista, mas não necessariamente aquele que é real. Ideologicamente, os pré-candidatos tucanos parecem ter uma compreensão mais complexa da questão social do que Estado máximo e Estado mínimo. Até mesmo no que se refere à estabilidade há diferenças - e até mudanças - entre eles e também sobre o que diziam em 2002.

Além disso, para que se cumpra esse roteiro, é necessário que pelo menos um dos candidatos do pelotão intermediário das pesquisas desista de disputar. Ele seria Ciro Gomes (PSB-CE).

No raciocínio governista, a candidatura Ciro tende a se esvaziar porque não há espaço para o discurso "o governo é meio bom". Inclusive o discurso do PSDB será difícil de ser construído, porque os tucanos terão que dizer que o governo é ruim. Algo difícil, se o presidente é aprovado por cerca de 80% da população. E se for para dizer que o governo é " meio bom" , talvez seja melhor pedir o boné: a candidata de Lula já sairia com 50% de vantagem.

A aprovação do presidente pode levar a eleição à uma disputa plebiscitária, como preveem governistas e petistas. Se a base do governo racha - e base de governo racha quando o presidente é fraco, o que não é o caso, como se viu no episódio José Sarney - a eleição pode ser multifacetada, com as diversas forças se recompondo em diferentes alternativas.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

Jarbas: Lula interfere 'de maneira despudorada' no Senado

Adriana Vasconcelos
DEU EM O GLOBO

BRASÍLIA. O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-AP) criticou ontem duramente, em discurso, a intervenção feita na semana passada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ajudar a manter o senador José Sarney (PMDB-AP) no comando da Casa. Para Jarbas, Lula tentou intimidar a bancada petista, que era favorável ao afastamento de Sarney, porque "não tem compromisso com nada e com ninguém, a não ser consigo mesmo".

O senador falou para um plenário esvaziado, e apenas o petista Eduardo Suplicy (SP) tentou defender a ação do presidente Lula.

A atuação do presidente na crise do Senado, na avaliação de Jarbas, pode encerrar de forma melancólica a história construída pelo PT.

- Ao enquadrar a bancada do PT no Senado e interferir de maneira despudorada em outro Poder da República, Lula encerra de vez o sonho daqueles que o elegeram acreditando em um país mais justo. A estrela vermelha ruma para o ocaso pelas mãos de seu próprio líder. É o epílogo do último partido ideológico e programaticamente definido. Que descanse em paz - concluiu.

Jarbas: 'Ele tudo fará para permanecer no poder', ataca

DEU EM O GLOBO

Suplicy defende Lula e diz que presidente não enquadrou PT

BRASÍLIA. No plenário, sem a presença do presidente José Sarney, o senador Jarbas Vasconcelos afirmou que o presidente Lula "está disposto a tudo" para não perder o apoio do PMDB não só ao seu governo mas também a uma futura aliança eleitoral em favor da candidatura de Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, à Presidência em 2010. Especialmente, lembrou Jarbas, porque uma aliança com o PMDB lhe garantiria mais tempo de propaganda na TV e uma grande estrutura partidária para a campanha, com penetração em todo o país.

- Não importa ao presidente o respeito às leis ou à Constituição, muito menos consideração a quaisquer princípios éticos ou morais. Nosso presidente não tem pudor algum. Tudo fará para permanecer no poder, inclusive comprometer seus correligionários e destruir o que ainda resta de dignidade no Congresso Nacional, em especial do Senado - condenou Jarbas.

Na opinião do senador pernambucano, o presidente Lula, ao defender José Sarney por causa de interesses políticos pessoais, estaria indo na contramão do que quer a sociedade brasileira.

- O presidente confunde seu governo com sua pessoa. Presunçoso, acha que sua popularidade lhe dá o direito de julgar condutas: absolveu os mensaleiros e os companheiros criminosos que forjaram dossiês eleitorais. Entende que todos aqueles que contribuem para o seu objetivo de poder estão acima da lei.

"Não é possível aceitarmos esse fisiologismo"

Jarbas, a exemplo do que já havia feito seu colega de bancada Pedro Simon (PMDB-RS), engrossou ontem o coro a favor do afastamento de Sarney do cargo. Para ele, a hora é de refluir e de rever condutas:

- Não é possível aceitarmos esse patrimonialismo antiquado, esse fisiologismo que, de tão incentivado, convive amistosamente com a corrupção. Precisamos dar um basta a isso tudo, a começar pela cobrança de uma nova postura do presidente da República, o verdadeiro responsável pelo lamentável nível da atual composição do Congresso Nacional.

No plenário esvaziado, apenas Eduardo Suplicy (PT-SP) - um dos cinco senadores do PT que defendem o afastamento de Sarney - tentou justificar a relação de Lula com seu partido, dizendo que não houve enquadramento quando Lula se reuniu com a bancada:

- O diálogo que tivemos na última quinta-feira foi uma troca de ideias.

Itamar, no PPS, critica Lula e PT, e diz que democracia está a perigo

DEU EM O GLOBO

Na filiação ao novo partido, ex-presidente defende o mineiro Aécio Neves

BELO HORIZONTE. Depois de três anos sem partido, o expresidente Itamar Franco se filiou ontem ao PPS. Na cerimônia, fez duras críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT e declarou apoio ao governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), em sua intenção de disputar a sucessão presidencial de 2010.

— Uma análise da atual conjuntura no campo das oposições indica apenas uma candidatura.

Nenhum outro nome até o momento se manifestou com tamanha clareza quanto nosso governador Aécio — disse Itamar, no saguão lotado da Assembleia Legislativa de Minas.

O ex-presidente, que chegou acompanhado de Aécio, afirmou que não poderia apoiar o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), porque ele não assumiu ser pré-candidato à Presidência.

Deixou claro ainda que não pretende ser candidato a vice em uma possível chapa de Aécio.— São dois nomes de Minas, isso é inviável.

Sem citar o nome de Lula, Itamar criticou o que chamou de “culto à personalidade, a certeza messiânica e a incontinência verbal”. Do PT, disse que “corre perigo a democracia com um partido que quer a manutenção do poder a qualquer custo”.

Itamar, de 78 anos, deixou o PMDB em 2006 após o partido optar por Hélio Costa para disputar uma vaga no Senado contra suas pretensões pessoais.

Para o PPS, sigla aliada do PSDB, o ex-presidente levou também Henrique Hargreaves, que foi seu ministro da Casa Civil.

Itamar: no PPS para ajudar Aécio

Ivana Moreira
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Cabo eleitoral declarado do governador mineiro, ex-presidente teria sido cotado para vice de Serra

O ex-presidente Itamar Franco ingressou no PPS fazendo campanha para o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB). "No campo das oposições só há uma candidatura efetivamente colocada, a do governador Aécio Neves", declarou ontem, durante a cerimônia de assinatura da ficha de filiação.

Itamar lembrou que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), nunca reconhece publicamente que é candidata. O mesmo faz o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Ao contrário, Aécio Neves já anunciou que deixará o governo em 2010 para disputar as eleições - à Presidência ou ao Senado - e sua disposição de participar de prévias para decidir quem será o candidato tucano à sucessão de Lula.

Apesar de ser cabo eleitoral declarado de Aécio, como membro do PPS, Itamar tornou-se um nome avaliado também pelos aliados de José Serra. O ex-presidente tem sido considerado para o cargo de vice numa chapa com o governador de São Paulo. A estratégia teria como objetivo aumentar as chances de Serra em Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do País. Itamar negou que tenha sido sondado por tucanos de São Paulo para ser vice de Serra.

Presidente do PPS, o deputado federal Roberto Freire afirmou, em seu discurso, que Itamar Franco será "o que ele quiser e o que o povo assim determinar". "Hoje, ele está mudando o xadrez da política", declarou, apresentando em seguida a carta de cumprimento que o governador Serra enviou a Itamar pela filiação ao PPS.

A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), também enviou carta de apoio. Roberto Freire evitou tecer comentários sobre a possibilidade de Itamar ser candidato à vice-presidente numa chapa encabeçada por Serra. Em terreno tão favorável a Aécio, ponderou o deputado, não seria nem de bom tom discutir uma candidatura de Serra.

Freire preferiu defender uma candidatura puro-sangue por parte do PSDB, dizendo que Aécio é importante demais para o País para disputar uma eleição ao Senado por Minas Gerais. Segundo ele, os tucanos deveriam lançar uma chapa forte com seus dois melhores nomes para disputar uma eleição que não será fácil. "Eu ficaria com os dois", afirmou.

O cenário já foi descartado pelo governador Aécio. Em diversas oportunidades, o mineiro disse que não vê qualquer sentido pensar numa chapa puro-sangue. Na avaliação de Freire, esse é um cenário que deixaria o caminho livre para Itamar ser candidato ao Senado. Para o PPS de Minas, ele seria um bom nome também para disputar a sucessão no Palácio da Liberdade.

Itamar volta e ataca Lula

Leonardo Augusto
DEU NO ESTADO DE MINAS


Ex-presidente se filia ao PPS com crítica ao governo federal e elogio à pré-candidatura de Aécio Neves ao Palácio do Planalto, mas não sinaliza se concorrerá no ano que vem

Se o ex-presidente Itamar Franco (PPS) mantiver o ritmo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será obrigado a ouvir falar muito do antecessor pelo menos até as eleições do ano que vem. Itamar, que se filiou ontem ao PPS, transformou a cerimônia de entrada no partido em mais uma rodada de críticas ao governo federal. Aproveitou, ainda, para encorajar o governador Aécio Neves (PSDB) a se candidatar à Presidência da República no ano que vem. “É o único que, até o momento, se colocou como possível candidato”, disse. O tucano disputa com o governador de São Paulo (PSDB) espaço para se lançar ao Palácio do Planalto em 2010.

Itamar afirma ainda não saber a que cargo pretende concorrer ou, até mesmo, se vai disputar o pleito do ano que vem, quando serão escolhidos presidente da República, governadores, dois senadores, deputados federais e estaduais. Entre centenas de filiados ao PPS que compareceram à cerimônia de filiação, na Assembleia, parte dizia que Itamar quer apenas mais espaço para manter críticas ao governo federal. Outra parcela dos filiados diz que o ex-presidente quer mesmo disputar um cargo.

Conforme Itamar, o governo Lula “age para assegurar a um partido político a manutenção do poder a qualquer custo” e que “está na hora da regeneração política do país, aviltado por um populismo inconsequente que não se casa, por exemplo, com a bandeira dos aposentados. Porque foram eles que fizeram ontem do que desfrutamos hoje”.

O último partido de Itamar foi o PMDB. O ex-presidente, no entanto, abandonou a legenda em 2006, quando tentou disputar vaga no Senado. Os peemedebistas optaram pelo ex-governador Newton Cardoso. Itamar pertenceu PTB, MDB, PL e PRN.

Para o governador Aécio Neves, a filiação de Itamar é o “reencontro de um dos dignos homens públicos que conheci na minha trajetória com a militância político-partidária. Hoje, não ganha apenas o PPS. Ganha a vida pública brasileira, porque onde estiver Itamar Franco vão estar a ética, a decência, o compromisso com o Brasil dos despossuídos”, afirmou. Os elogios não são à toa. A expectativa é de que Itamar aja ainda como fiel escudeiro de Aécio Neves. Antes da cerimônia de filiação, ele se reuniu com Aécio no Palácio das Mangabeiras.

Mas como no ninho tucano o momento é de tentar evitar embate direto entre Aécio e Serra, o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, leu, momentos antes da assinatura da ficha partidária por Itamar, mensagem enviada pelo governador paulista. O texto dizia: “Quero congratular-me com o PPS pela filiação do ex-presidente Itamar Franco, de cujo governo você foi líder na Câmara. Um governo trabalhador, honesto e que promoveu a estabilidade de preços no Brasil depois de anos de superinflação. Ao lado de minha admiração pelo ex-presidente, quero expressar apreço pelo PPS, partido que caminha conosco na luta por um projeto de desenvolvimento que leve em conta novas especificidades e interesses da Nação e do povo brasileiro. Conforme Freire, “nenhuma filiação despertou tanta simpatia para o PPS como a de Itamar”.

"O governo Lula age para assegurar a um partido político a manutenção do poder a qualquer custo"

Itamar Franco (PPS), ex-presidente da República
"Onde estiver Itamar Franco vão estar a ética, a decência e o compromisso com o Brasil dos despossuídos"

Aécio Neves (PSDB), governador de Minas

Serra manda carta de congratulação a Freire pela filiação de Itamar

Foto Tuca Pinheiro
Da dir. p/ esq.: Freire, ao lado de Itamar, do presidente da Assembleia de Minas, Alberto Pinto Coelho e do governador Aécio Neves.
Valéria de Oliveira
DEU NO PORTAL DO PPS

O governador de São Paulo, José Serra, enviou carta ao presidente do PPS, Roberto Freire, parabenizando-o pela filiação do ex-presidente da República Itamar Franco. Serra afirmou que a gestão de Itamar foi honesta e promoveu a estabilidade no país. Leia, abaixo, a íntegra do texto.

"Prezado Roberto,

Quero congratular-me com o PPS pela filiação do ex-presidente Itamar Franco, de cujo governo você foi líder na Câmara, (que realizou) um governo trabalhador, honesto e que promoveu a estabilidade de preços no Brasil, depois de 15 anos de superinflação.

Ao lado de minha admiração pelo ex-presidente, quero expressar meu apreço pelo PPS, partido que em São Paulo, Minas e no Brasil caminha junto conosco na luta por um projeto de desenvolvimento que leva em conta nossas especificidades, os interesses da nação e do povo brasileiro.

José Serra
Governador do Estado de São Paulo"

Itamar Franco se filia ao PPS e não descarta candidatura em 2010

Foto: Tuca Pinheiro
Júlio César e Da Redação
DEU NO PORTAL DO PPS


A filiação do ex-presidente Itamar Franco ao PPS tornou-se um grande ato político com a presença de mais de mil militantes e diversas lideranças políticas de Minas Gerais e do país. Durante o ato político, nesta segunda-feira, em Belo Horizonte, o mineiro criticou o governo e não descartou disputar a eleição de 2010.

Em seu primeiro discurso como filiado, Itamar Franco destacou que vinha recebendo convites oficiais para se filiar a diversos partidos. A escolha pelo PPS veio, segundo ele, em razão da histórica tradição do partido em defesa do interesse coletivo, da ética e da justiça social. Itamar lembrou também os 15 anos recém completos do Plano Real, projeto implantado durante seu governo que recuperou de maneira definitiva o quadro econômico do país.

Sobre as eleições de 2010, Itamar afirmou que com a filiação deixa a arquibancada e vai para o banco de reservas, e que uma eventual candidatura depende do PPS. Frisou, no entanto, que passa a atuar com firmeza como dirigente e, principalmente, como militante.

Além de oficializar seu ingresso ao partido após três anos sem filiação partidária, Itamar afirmou ser o do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), o melhor nome do campo oposicionista para apresentar-se à sociedade na disputa pela Presidência da República em 2010.

O ingresso do ex-presidente ao PPS foi marcado por uma cerimônia repleta de mandatários, parlamentares e lideranças nacionais do PPS e de outras legendas. A mesa de abertura foi composta pelo pelo presidente nacional do PPS, Roberto Freire; pelo presidente do partido em Minas Gerais, Juarez Amorim; pela presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, vereadora Luzia Ferreira (PPS); pelo presidente da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, deputado Alberto Pinto Coelho (PP); pelo prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB) e pelo governador Aécio Neves e seu vice Antônio Anastasia.

História de luta

O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, assinou a ficha de filiação de Itamar Franco após um emocionado discurso durante o qual lembrou que ainda nos anos de chumbo da ditadura militar, o então prefeito de Juiz de Fora, Itamar Franco, ganhou a admiração e o reconhecimento dos comunistas do PCB em todo o país depois de convidar para seu governo militantes declarados do então clandestino Partido Comunista Brasileiro.

A relação histórica entre o PPS e o ex-presidente tornou-se ainda mais forte quando Itamar convidou o então deputado federal Roberto Freire para assumir a liderança do governo na Câmara após o impeachment do presidente Fernando Collor de Melo. Freire enfatizou que com a chegada de Itamar o PPS ganha o reforço de um cidadão de bem, honesto e ético no trato com a questão pública.

O governador de Minas Gerais também saudou a filiação de Itamar. Segundo Aécio, o PPS é merecedor de seus sinceros cumprimentos por haver resgatado para a vida pública um dos homens mais sérios e coerentes da história recente da política brasileira. Ao chamar o ex-presidente de "querido amigo", Aécio afirmou estarem abertas as portas do PSDB para que tucanos e socialistas possam caminhar juntos na busca de um país mais justo e igual.

Outros reforços

O ex-presidente ingressou no PPS ao lado de várias lideranças estaduais e nacionais que o acompanham em sua trajetória política, como os ex-ministros Henrique Hargreaves e Djalma Morais, atual presidente da Cemig, o ex-deputado Marcelo Siqueira e a ex-secretária estadual de Justiça Ângela Pace.